Labour manda mensagem ao Governo conservador após nova vitória eleitoral: “Saiam da frente”

Partido Trabalhista vence facilmente a eleição intercalar de West Lancashire. Conservadores têm o pior resultado de sempre e descem 11 pontos percentuais em comparação com 2019.

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Keir Starmer, líder do Labour, defende antecipação das eleições legislativas, previstas para 2024 Reuters/UK PARLIAMENT/ANDY BAILEY

O Partido Trabalhista concluiu com sucesso o ciclo de três eleições intercalares (by-elections) realizadas nos últimos dois meses em Inglaterra, somando, na votação de quinta-feira, no círculo eleitoral de West Lancashire, no Nordeste inglês, a sua terceira vitória.

Tal como nos dois triunfos anteriores – em Chester e em Stretford e Urmston, em Dezembro – e apesar de West Lancashire também ser um círculo eleitoral que já controlava e onde tem forte tradição, o Labour aproveitou mais um bom resultado para retirar conclusões a nível nacional e apontar o dedo ao Partido Conservador e ao primeiro-ministro, Rishi Sunak.

“Esta noite a população de West Lancashire falou em nome do país. Enviou uma mensagem ao Governo dos conservadores: não tem confiança neles para governar, nem no primeiro-ministro para liderar”, afirmou a candidata trabalhista, Ashley Dalton, na madrugada desta sexta-feira, no seu discurso de vitória.

“Saiam da frente. Deixem o Labour assumir o comando. Chegou a altura de uma eleição geral”, atirou a líder sindical e a mais recente deputada do principal partido da oposição na Câmara dos Comuns, pedindo a antecipação das eleições legislativas, previstas para o próximo ano.

Nas mãos do Partido Trabalhista desde 1992, West Lancashire estava sem representação parlamentar desde Setembro do ano passado, depois de a deputada Rosie Cooper ter renunciado ao posto para assumir um cargo de chefia no Mersey Care NHS, uma fundação do serviço nacional de saúde britânico da região.

Segundo os resultados oficiais da by-election de quinta-feira, Dalton obteve 62,3% dos votos, acrescentando mais 10% à votação que Cooper tinha alcançado nas eleições legislativas de 2019.

Em segundo lugar ficou o candidato do Partido Conservador, Mike Prendergast, com apenas 25,4% da votação total. Para além de o partido ter obtido menos 11% que em 2019, este é o pior resultado dos tories desde a criação do círculo eleitoral, em 1983.

“As pessoas de Lancashire depositaram a sua confiança no Labour de Keir Starmer”, insistiu Dalton, referindo-se ao líder do partido. “Nós providenciámos esperança; esperança de que podemos construir um Reino Unido melhor, o que significa um Lancashire melhor.”

Tories abaixo do SNP?

Esta sequência de triunfos do Partido Trabalhista acontece numa altura em que lidera todas as sondagens a nível nacional. O último estudo da YouGov para o Times, divulgado na semana passada, atribui 48% das intenções de voto ao Labour e 24% aos conservadores.

Um outro inquérito, da MRP, para o Telegraph, conhecido na quarta-feira, diz que o Partido Conservador corre inclusivamente o risco de ser ultrapassado pelos independentistas do Partido Nacional Escocês (SNP). A sondagem atribui 50 deputados ao SNP e apenas 45 aos tories; o Labour elegeria 509 dos 650 lugares na Câmara dos Comuns.

No poder há 13 anos, o Partido Conservador atravessa há alguns meses uma das suas piores fases políticas e reputacionais, fruto do cansaço do processo do “Brexit” e do combate à pandemia, e de uma brutal crise inflacionária e energética, agravada pela guerra na Ucrânia.

Para além disso, está a sofrer os danos colaterais da turbulência interna que vive e que, a par de escândalos políticos e de planos económicos falhados, fez cair dois primeiros-ministros (Boris Johnson e Elizabeth Truss) num curto espaço de tempo, e contribuiu para o crescimento das intenções de voto na extrema-direita.

Rishi Sunak assumiu o cargo de chefe do executivo britânico no final de Outubro e prometeu “normalidade”, mas os primeiros 100 dias de governo foram um constante apagar de fogos.

Para além do braço-de-ferro com os sindicatos e de uma vaga de greves, que envolvem vários sectores, sem fim à vista, o primeiro-ministro não consegue afastar as polémicas e já teve de demitir um ministro acusado de bullying e um presidente partidário que não comunicou uma multa avultada ao fisco, entre outras questões incómodas. O vice-primeiro-ministro, Dominic Raab, também aguarda as conclusões de um inquérito interno sobre denúncias de bullying.

O mais recente escândalo tem poucas horas e envolve o homem que nomeou para a vice-presidência do Partido Conservador.

Numa entrevista à revista Spectator, divulgada na quinta-feira, Lee Anderson mostrou-se favorável ao regresso da pena de morte ao Reino Unido, argumentando que a execução de criminosos tem uma “taxa de sucesso de 100%”. “Nunca ninguém cometeu um crime depois de ter sido executado”, atirou.

Anderson, e o novo presidente do partido, Greg Hands, têm como missão preparar os conservadores para as eleições locais de Maio.

Tendo em conta o ambiente político, as sondagens e as derrotas tories em West Lancashire, em Chester e em Stretford e Urmston – e outros insucessos nas by-elections do ano passado, em Wakefield e em Tiverton e Honiton – a tarefa parece hercúlea.

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