Sunak reinventa ministérios e nomeia novo presidente do Partido Conservador britânico

Primeiro-ministro do reino Unido cria quatro novos ministérios e escolhe Hands para o lugar de Zahawi – demitido por irregularidades fiscais – e ex-trabalhista para a vice-líder dos tories.

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Greg Hands, ex-secretário de Estado para a Política Comercial, foi o escolhido para a liderança do Partido Conservador EPA/Andy Rain

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, anunciou esta terça-feira uma pequena remodelação no Governo britânico e revelou o nome do novo presidente do Partido Conservador: trata-se de Gregory Hands, que ocupava o cargo de secretário de Estado da Política Comercial, e que, a par da chefia dos tories, terá lugar assegurado no Conselho de Ministros.

As mudanças incluem ainda a fragmentação do Ministério do Comércio, da Energia e da Indústria e do Ministério da Cultura. Entre supressões, reorganizações e redistribuições de equipas e de competências, vão dar a lugar quatro ministérios autónomos.

Numa mensagem publicada no Twitter, o líder do executivo justificou as alterações com o facto de “o Governo necessitar de reflectir as prioridades da população britânica”.

O mote para a remodelação foi, no entanto, o desfecho da polémica que envolveu Nadhim Zahawi. Antigo ministro das Finanças de Boris Johnson, o ex-presidente do Partido Conservador foi demitido na semana passada, devido a irregularidades fiscais e à violação do código ministerial, no âmbito de uma situação de dívida avultada ao fisco britânico.

Militante desde 1986, Greg Hands foi ministro-chefe do Tesouro – o segundo posto mais importante do Ministério das Finanças – de David Cameron, e ocupou vários cargos governamentais nos governos de Theresa May, de Boris Johnson e de Liz Truss.

Apesar de ter feito campanha contra o “Brexit”, é visto pela imprensa britânica como uma escolha segura e relativamente consensual dentro do partido.

Terá, no entanto, pela frente a difícil tarefa de reagrupar as várias facções do Partido Conservador e de as preparar da melhor forma para os próximos combates eleitorais, a começar pelas importantes eleições locais de Maio, numa altura em que o partido surge a mais de 20 pontos percentuais do Partido Trabalhista em quase todas as sondagens.

Talvez mais surpreendente tenha sido a escolha de Lee Anderson para “vice” do partido. Ex-dirigente autárquico trabalhista, Anderson só se filiou nos conservadores em 2018, tendo sido eleito deputado tory no final do ano seguinte.

Faz, no entanto, parte da nova vaga de dirigentes conservadores que conseguiram conquistar lugares aos trabalhistas na chamada “red wall” (“muralha vermelha”), o bastião da classe operária britânica, principalmente no Norte e centro de Inglaterra, e onde se vão decidir as próximas eleições legislativas, previstas para 2024.

“Titanic” afundado

No que ao Governo propriamente dito diz respeito, destaca-se principalmente a criação do Ministério da Segurança Energética e da Neutralidade Carbónica (Net Zero), que será liderado por Grant Shapps, antigo ministro do Comércio.

O novo ministério, informa o Partido Conservador, no Twitter, estará “focado em garantir o abastecimento energético a longo prazo” para o Reino Unido, “diminuir [o valor] das facturas” e “reduzir a inflação para metade”.

Para Ed Miliband, ex-ministro e antigo líder da oposição, trata-se, no entanto, de uma “reorganização cosmética do Titanic que naufragou por causa da política energética falhada dos conservadores”. “Não vai salvar o país”, afiançou o actual “ministro sombra” do Partido Trabalhista para as Alterações Climáticas, citado pelo Guardian.

A “mini-remodelação” de Sunak, como é descrita pelos media britânicos, inclui ainda a criação do Ministério da Ciência, Inovação e Tecnologia, que será liderado pela ex-ministra da Cultura, Michelle Donelan; a promoção da secretária de Estado da Habitação, Lucy Frazer, a ministra da Cultura; e a atribuição da chefia do “novo” Ministério das Empresas e do Comércio à ministra do Comércio Internacional e ministra da Igualdade, Kemi Badenoch.

Excluindo Zahawi, que já tinha saído, ninguém foi demitido com estas trocas. Houve apenas promoções ou transferências entre ministérios, nomeadamente nas secretarias de Estado.

Um dos pontos de interesse desta remodelação – que acontece pouco depois de Rishi Sunak ter cumprido 100 dias no cargo, após ter substituindo Liz Truss no final de Outubro do ano passado – era saber se o primeiro-ministro iria tomar alguma decisão preventiva sobre Dominic Raab.

O vice-primeiro-ministro e ministro da Justiça está a ser alvo de uma investigação interna devido a denúncias de bullying feitas por funcionários públicos que trabalharam consigo durante o período em que exerceu os cargos de ministro dos Negócios Estrangeiros (2019-2021) e de ministro da Justiça (2021-2022), nos governos de Boris Johnson.

Sunak quer, ainda assim, esperar pelos resultados da investigação a Raab antes de decidir o seu futuro em Downing Street.

“Tal como as pessoas já viram, pela forma como agi, no passado, quando me foram apresentadas provas independentes de que alguém no meu governo não actuou com a integridade ou os padrões que eu exijo, não irei hesitar em tomar medidas rápidas e decisivas”, disse esta terça-feira à ITV News.

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