Vice-primeiro-ministro britânico vai ser investigado por bullying

Dominic Raab pediu ao chefe do Governo para autorizar investigação a duas denúncias de funcionários públicos contra si próprio. Rishi Sunak já perdeu um ministro, que se demitiu pelo mesmo motivo.

Foto
Dominic Raab, vice-primeiro-ministro e ministro da Justiça do Reino Unido EPA/TOLGA AKMEN

Rishi Sunak foi à COP27, no Egipto, para falar sobre as alterações climáticas, e de lá seguiu para a Indonésia, para discutir questões económicas e militares, na cimeira do G20, mas é dentro de portas que continua a não ter tréguas, quando passaram apenas três semanas desde que se tornou primeiro-ministro do Reino Unido.

Depois de, na semana passada, ter sido obrigado a aceitar a demissão de Gavin Williamson, do cargo de ministro sem pasta, por denúncias de bullying, esta quarta-feira autorizou a abertura de uma investigação independente ao vice-primeiro-ministro e ministro da Justiça, Dominic Raab, por acusações do mesmo teor.

Quem pediu a investigação foi o próprio Raab, que, numa carta endereçada ao primeiro-ministro e em declarações na Câmara dos Comuns, confirmou ter sido notificado sobre “duas denúncias”.

Dizendo, porém, que está “confiante” de que sempre se comportou “profissionalmente”, o vice-primeiro-ministro garantiu que “nunca tolerou bullying” e prometeu “cooperar totalmente e respeitar o desfecho [do inquérito] qualquer que seja”.

“Sei que se empenhará em responder às queixas que foram feitas contra si e que concorda que proceder desta forma é o caminho certo”, respondeu Sunak, na resposta oficial que endereçou ao pedido de Raab.

Em causa estão denúncias feitas por funcionários públicos – e formalizadas através dos canais de comunicação internos do Governo – que trabalharam com Raab, quando este foi ministro dos Negócios Estrangeiros (2019-2021) e ministro da Justiça (2021-2022) nos governos liderados por Boris Johnson.

Dominic Raab é acusado de ter “criado uma cultura de medo” no local de trabalho e de adoptar comportamentos descritos como “intimidatórios e depreciativos”, nomeadamente interrompendo reuniões ou eventos semelhantes para criticar directamente inferiores hierárquicos e membros da administração pública.

“São muitas as histórias sobre Raab que acabam com ele literalmente a tremer de fúria com um funcionário”, acusa uma fonte do executivo, citada pelo site Civil Service World, dedicado a assuntos relacionados com o corpo civil do Governo britânico.

Uma porta-voz de Downing Street informou, esta quarta-feira, que a investigação independente será levada a cabo por alguém externo ao Governo.

O Guardian lembra, no entanto, que Rishi Sunak não está obrigado a aceitar ou a seguir as conclusões do inquérito – mas faz notar que Raab parece estar a dar a entender que, se for declarado culpado, irá apresentar a demissão.

Este caso é particularmente incómodo para Sunak, não só porque envolve o seu “número dois”, mas, sobretudo, porque surge pouco tempo depois de ter prometido “integridade, profissionalismo e responsabilidade a todos os níveis” no Governo.

Fê-lo, aliás, logo no primeiro discurso e no primeiro dia como primeiro-ministro do Reino Unido, substituindo Elizabeth Truss, e após um mandato de Boris Johnson atolado em escândalos e acusações de falta de ética, com o caso das festas em Downing Street durante a pandemia a destacar-se.

Para além dos casos de bullying que envolvem Raab e Williamson, Sunak tem estado debaixo de fogo por causa de outro membro do executivo.

Suella Braverman, ministra do Interior, foi reconduzida no cargo seis dias depois de se ter demitido por tratamento indevido de informação sensível e confidencial e de ter admitido que não “esteve à altura dos mais elevados padrões éticos” exigidos para o posto.

Sugerir correcção
Comentar