Demissão de ministro que fez bullying atesta arranque difícil para Rishi Sunak

Novo primeiro-ministro conservador assumiu arrependimento pela nomeação de Williamson. É o segundo escândalo com um ministro em duas semanas, num Governo que Sunak prometeu ser “íntegro”.

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Rishi Sunak substituiu Liz Truss no final de Outubro EPA/ANDY RAIN

Duas semanas depois de ter prometido que o novo Governo do Reino Unido, por si liderado, se iria guiar pela “integridade, profissionalismo e responsabilidade a todos os níveis”, numa tentativa de virar a página do período de escândalos de Boris Johnson, Rishi Sunak continua assoberbado por denúncias incómodas envolvendo membros da sua equipa.

Ainda desgastado por ter dado a cara pela renomeação da ministra do Interior, Suella Braverman, seis dias depois de esta se ter demitido do cargo por tratamento indevido de informação confidencial e assumido que não tinha cumprido os “padrões éticos” necessários, o primeiro-ministro britânico foi forçado a assumir o seu arrependimento pela nomeação de Gavin Williamson, ministro sem pasta, que se demitiu do cargo na terça-feira devido a acusações de bullying.

“Foi totalmente acertado que o honrado cavalheiro se tenha demitido”, admitiu Sunak, esta quarta-feira, no debate semanal no Parlamento, em Londres. “É óbvio que me arrependo de ter nomeado alguém que tenha tido de se demitir nestas circunstâncias.”

Em causa está a revelação de uma série de tomadas de posição e de mensagens de texto enviadas por Williamson – que já foi ministro da Defesa, ministro da Educação e líder parlamentar responsável por assegurar a disciplina de voto na bancada conservadora – a membros do Governo e do partido, assim como de denúncias de comportamentos “abusivos” por ele praticados, para impor uma “cultura de medo” em Downing Street e em Westminster.

Uma dessas denúncias dá conta de que terá dito a um funcionário que devia atirar-se da janela ou “cortar a garganta” e outra revela que usou linguagem agressiva com uma líder parlamentar para contestar o facto de não ter sido convidado para o funeral da rainha Isabel II.

Numa das suas intervenções na Câmara dos Comuns, Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, confrontou o primeiro-ministro com o facto de este ter expressado “grande tristeza” pela demissão e de ter agradecido a “lealdade” de Williamson no comunicado que fez sobre a saída do ministro.

“Que mensagem é que ele [Sunak] pensa que está a enviar quando, em vez de enfrentar os bullies, junta-se a eles e lhes agradece pela sua lealdade?”, questionou Starmer, rotulando Williamson de “bully de desenho animado” e Sunak de “fraco”, e lembrando a polémica com Braverman e os contornos do processo de escolha do primeiro-ministro, na sequência da demissão de Liz Truss.

“Trata-se de um padrão com este primeiro-ministro: demasiado fraco para demitir a ameaça à segurança que se senta à mesa do Conselho de Ministros; demasiado fraco ao participar numa eleição para a liderança depois de ter perdido a primeira; demasiado fraco para dar a cara pelas classes trabalhadoras”, criticou o líder do Labour.

Gavin Williamson apoiou Rishi Sunak nas duas candidaturas do actual chefe do Governo à chefia do Governo e do Partido Conservador, e foi compensado por esse apoio e pela sua experiência governativa com um cargo no terceiro Governo tory em poucos meses.

Sunak admitiu que tinha conhecimento de algumas denúncias contra o ministro, mas esta quarta-feira esclareceu que não sabia os detalhes concretos das mesmas.

O agora primeiro-ministro renunciou, em Julho, ao cargo de ministro das Finanças no executivo de Boris Johnson, quando este estava de debaixo de fogo por causa do escândalo das festas em Downing Street durante a pandemia e do encobrimento de uma denúncia de assédio sexual de um deputado tory.

Na altura, Sunak justificou a decisão dizendo que “os eleitores esperam, acertadamente, que o Governo seja conduzido adequadamente, de forma competente e de forma séria”. A sua demissão foi a primeira de mais de 60 renúncias, que culminaram com a saída de Johnson.

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