Guaidó anda em digressão pelo globo para reavivar apoio internacional à sua causa

A perder protagonismo em casa, presidente da Assembleia Nacional venezuelana reuniu com Johnson, em Londres, e com Pompeo, em Bogotá, para reforçar apoios. Etapas seguintes são Bruxelas, Davos e algures em Espanha.

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Juan Guaidó (à direita) foi recebido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, em Londres EPA/FOREIGN AND COMMONWEALTH OFFICE HANDOUT
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O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo (à direita), reuniu-se com Guaidó na capital colombiana EPA/Mauricio Dueñas

Um ano depois de ter desafiado Nicolás Maduro, declarando-se Presidente interino da Venezuela, e recebendo o apoio de mais de 50 países, incluindo Portugal, Estados Unidos ou Brasil, e numa altura em que o braço-de-ferro com o chavismo atingiu um ponto de bloqueio e o apoio popular está em queda, Juan Guaidó procura reavivar a pressão internacional sobre o Governo venezuelano, através de um périplo por vários países, onde tem encontros agendados com altas figuras políticas dos seus principais aliados. 

Esta terça-feira foi recebido em Londres pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, e reuniu-se, mais tarde, com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, esta última sem declarações à imprensa.

Uma visita que sucede a uma passagem por Bogotá, na Colômbia, onde Guaidó teve como anfitrião o chefe de Estado colombiano, Iván Duque, e se reuniu com o Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro, Ernesto Araújo.

Nestes encontros, o presidente da Assembleia Nacional venezuelana tem procurado mostrar – para dentro e para fora de portas – que a oposição a Maduro continua bem viva e empenhada, mesmo que as vitórias internas se contem pelos dedos de uma mão. Nesse sentido, tem insistido que necessita dos apoios dos seus aliados internacionais para prosseguir com a estratégia de pressão económica e política sobre o regime.

“Estamos absolutamente encantados por ter aqui o Juan. Quero reafirmar pessoalmente o apoio do Reino Unido ao Presidente interino”, disse Raab aos jornalistas, afiançando que o Downing Street vai “continuar a trabalhar com os parceiros europeus” para se assistir a uma “transição pacífica e democrática” na Venezuela. 

Na agenda de Juan Guaidó cabem ainda pelo menos mais três destinos e uma maratona de encontros bilaterais. Na quarta-feira conversará com o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrel, em Bruxelas e no final da semana tem reunião marcada com Arancha González Laya, ministra dos Negócios Estrangeiros de Espanha, possivelmente em Madrid.

Pelo meio está o principal evento da digressão de Guaidó, que na quinta-feira se desloca até Davos, na Suíça, onde decorre o Fórum Económico Mundial. E onde, no cenário ideal, poderá encontrar-se pessoalmente com Donald Trump e Emmanuel Marcon, presidentes de EUA e França, respectivamente.

Dois Presidentes

Assolada por uma grave crise económica há vários anos, que desencadeou uma série de outras crises de ordem política, social, securitária e humanitária, a Venezuela é disputada há cerca de um ano por dois homens – Maduro e Guaidó – que entendem deter a legitimidade política para liderar os destinos do país e que se têm desdobrado em interpretações, mais ou menos extensivas, da Constituição venezuelana para reclamarem o poder para si.

O Presidente Maduro é acusado pelos opositores de encabeçar um Estado responsável por violações de direitos humanos, repressão e abuso de poder, para se eternizar na presidência, ao passo que o presidente da Assembleia Nacional é visto pelo chavismo como um “infiltrado” dos “imperialistas norte-americanos” que querem levar a cabo um golpe de Estado no país de Hugo Chávez, por razões ideológicas e económicas – a Venezuela detém uma das maiores reservas petrolíferas do globo.

Com a autoproclamação de Juan Guaidó, em Janeiro do ano passado, a fractura estendeu-se à arena internacional, com russos, chineses, turcos, iranianos e cubanos a declararem apoio a Maduro, e a grande maioria dos países ocidentais, como Portugal, a colocarem-se ao lado de Guaidó. Uns reforçando as sanções económicas, outros a pedirem a saída do Presidente o agendamento de eleições “livres e justas” na Venezuela.

Mas um braço-de-ferro que, nos primeiros meses de 2019, dava a entender que a Venezuela estaria a caminho de uma etapa de mudança – temeu-se (e teme-se) uma guerra civil –, foi perdendo o ímpeto nos últimos meses e Guaidó os seus aliados acabaram sendo acusados de não ter avaliado correctamente a capacidade do regime para se manter unido e sólido.

A estratégia para evitar a estagnação da sua causa foi desafiar uma ordem judicial que o proíbe de sair da Venezuela e partir no domingo para a vizinha Colômbia, país de acolhimento de uma importante fatia dos mais de quatro milhões de venezuelanos que fugiram à pobreza e à insegurança.

Da reunião com o chefe da diplomacia dos EUA resultaram várias críticas e denúncias, conjuntas, contra o apoio do “Estado falhado” de Maduro a “grupos terroristas”, como a guerrilha colombiana ELN ou o grupo fundamentalista xiita Hezbollah, e um renovado apelo ao incremento do auxílio da comunidade internacional a Guaidó.

E Pompeo deu o mote: “Tenho ouvido dizer que subestimamos Maduro. O que foi subestimado foi o desejo de liberdade que reside nos corações dos venezuelanos. Nós – os europeus, os outros países da América do Sul e os EUA – estamos colectivamente determinados em cumprir esse desígnio para a população venezuelana”.

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