Do infortúnio à euforia em ano e meio: o que correu bem a Portugal

Do desporto à cultura, os portugueses têm coleccionado troféus. A economia mostra sinais de retoma. O turismo disparou. O país está melhor e recomenda-se.

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A onda de euforia que atinge Portugal teve o seu pico no Euro 2016 Paulo Pimenta

No sábado, Salvador Sobral ganhou a Eurovisão, o Papa canonizou dois pastorinhos e o Benfica sagrou-se tetracampeão. Nem dois dias depois, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que o PIB tinha crescido 2,8% no primeiro trimestre do ano. Portugal está melhor e recomenda-se. Aliás, "o que mais pode correr bem?", questionava João Miguel Tavares na sua coluna desta terça-feira. A resposta vinha no editorial de David Dinis: "Portugal está prestes a largar os défices excessivos. E só lhe falta, para fazer bingo, que uma agência de rating tire Portugal do lixo". Já Miguel Esteves Cardoso dizia a 4 de Março, antes da última leva de boas notícias e a propósito do aniversário do PÚBLICO, que "Portugal é o melhor naco da Europa". Compilámos aqui os momentos mais extraordinários do último ano e meio. Se nos tiver falhado algum, acrescente-o nos comentários.

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No sábado, Salvador Sobral ganhou a Eurovisão, o Papa canonizou dois pastorinhos e o Benfica sagrou-se tetracampeão. Nem dois dias depois, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que o PIB tinha crescido 2,8% no primeiro trimestre do ano. Portugal está melhor e recomenda-se. Aliás, "o que mais pode correr bem?", questionava João Miguel Tavares na sua coluna desta terça-feira. A resposta vinha no editorial de David Dinis: "Portugal está prestes a largar os défices excessivos. E só lhe falta, para fazer bingo, que uma agência de rating tire Portugal do lixo". Já Miguel Esteves Cardoso dizia a 4 de Março, antes da última leva de boas notícias e a propósito do aniversário do PÚBLICO, que "Portugal é o melhor naco da Europa". Compilámos aqui os momentos mais extraordinários do último ano e meio. Se nos tiver falhado algum, acrescente-o nos comentários.

A esquerda está numa relação estável 

A "geringonça", palavra do ano de 2016, é uma solução política portuguesa que tem sido falada pela Europa. Surgiu como resposta à derrota do PS nas eleições legislativas e agrega quatro cores políticas de esquerda: o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista e Os Verdes.

A tradução do nome não é fácil, nem a criação do tipo de Governo. Em Janeiro de 2017, jovens curiosos do Partido Trabalhista holandês (PvdA) vieram a Portugal aprender com a negociação liderada por António Costa e estudar as políticas que gostariam de implementar nos Países Baixos. 

António Costa, em Abril deste ano, defendeu que o modelo da “geringonça” — em que o PS governa com base no seu programa e nos acordos escritos com partidos mais à esquerda — se deve manter mesmo que os socialistas venham a ganhar a maioria absoluta nas próximas eleições legislativas. 

Em Fevereiro de 2017, a "geringonça" fazia manchete na edição europeia do Politico. “A esquerda europeia quer uma peça da contraption ['geringonça'] portuguesa” era título o artigo do jornalista Paul Ames. “Os socialistas europeus andam à procura de uma fórmula que inverta a sua decadência eleitoral e estão a folhear os dicionários para encontrarem uma tradução da palavra portuguesa geringonça”, começa por dizer o texto.

Ainda recentemente o ex-secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, elogiou a solução governativa encontrada em Portugal. O socialista espanhol elogiou a “via portuguesa” e o “acordo vanguardista de esquerdas”, liderado pelo primeiro-ministro português.

Mas não só de política é feita a fama portuguesa na imprensa internacional. “Portugal está no meio de algo notável”, começa assim a reportagem especial dedicada a Portugal na edição de Março da revista britânica Monocle, que considera que o país está a ultrapassar a crise, ao manter o comércio tradicional (como o fabrico de sapatos e cortiça) e, simultaneamente, ao inovar no campo da tecnologia, da energia e da mobilidade.

Diplomacia portuguesa no topo

António Guterres foi eleito como secretário-geral da ONU no processo mais transparente de sempre, o que lhe dá uma legitimidade comparativa extra. A apresentação da candidatura de António Guterres em Nova Iorque foi elogiada pela imprensa internacional, da BBC ao Guardian (...), da revista Economist à agência EFE. O perfil do antigo primeiro-ministro português combina, segundo estes meios, a solidez das convicções com a capacidade de diálogo, consideradas necessárias para combater os perigos do tempo actual — o populismo, o racismo, a xenofobia. O mandato de Guterres em Nova Iorque começou a 1 de Janeiro de 2017.

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Economia supera expectativas

Economia portuguesa acelera ao ritmo mais forte da década e cresceu 1% durante o primeiro trimestre de 2017. Mário Centeno afirmou que esta aceleração da economia "ocorre num contexto onde o défice das contas públicas atingiu o valor mais baixo da democracia". O Governo sublinha que os valores do PIB superam as expectativas inscritas no Orçamento de Estado.

Também no arranque de 2017, a taxa de desemprego desceu para 10,1%. Os dados do INE mostram que no primeiro trimestre deste ano o desemprego ficou abaixo dos 10,5% registados no trimestre anterior e dos 12,4% verificados no período homólogo de 2016. O emprego público aumentou 1% no mesmo período.

Chuteiras de ouro

O Stade de France, em Paris, assistiu à mais épica noite do futebol nacional. Pela primeira vez na história, Portugal conquistou um título num grande torneio e é o novo campeão europeu. Éder foi o marcador do golo que deu o título europeu à selecção portuguesa. 

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O feito alcançado em França seguiu-se a uma época em que o Benfica se sagrou tricampeão. Uma marca pouco comum nos últimos anos para a equipa da Luz, que um ano mais tarde, a 13 de Maio de 2017, conquistou mesmo o "tetra". Uma sequência inédita para os "encarnados" — algo que não é motivo de alegria para todos os portugueses, mas é pelo menos para a multidão que encheu o Marquês, em Lisboa, quatro anos consecutivos (e merece, por isso, estar nesta lista).

Cristiano Ronaldo ganhou a quarta Bola de Ouro, troféu atribuído pela revista francesa France Football, e que serve para distinguir o melhor futebolista do mundo nesse ano. Vencedor em 2008, 2013 e 2014, o português do Real Madrid ganha o troféu relativo a 2016 e fica a apenas uma Bola de Ouro do jogador com mais distinções – o argentino Lionel Messi. 

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Do relvado para os pavilhões, Ricardinho foi eleito pelo terceiro ano consecutivo o melhor jogador do mundo de futsal, prémio atribuído pelo site Futsal Planet.

Leonardo Jardim foi eleito, na quarta-feira, treinador do ano referente à época de 2016/2017 em França. O galardão é atribuído pelo Sindicato de Jogadores Profissionais que distinguiu o percurso do técnico do Mónaco — que acabou por vencer a Ligue 1, o primeiro português a consegui-lo desde Artur Jorge (1993/94).

Atletismo a passos largos

Nelson Évora contrariou as expectativas e voltou a ganhar um título europeu indoor no triplo salto, na última jornada dos Campeonatos Europeus de Atletismo, que decorreram em Março. Também em Belgrado, Patrícia Mamona obteve a prata na prova do triplo salto, a sua terceira medalha europeia na disciplina, depois das conquistadas ao ar livre em 2012, em Helsínquia (prata), e em 2016, em Amesterdão (ouro).

Em Abril, Jéssica Augusto venceu a maratona de Hamburgo, na Alemanha, garantindo mínimos para os Mundiais de 2017, que se vão disputar em Londres.

Cotovelada na concorrência

Telma Monteiro conquistou a medalha de bronze na categoria de -57kg, após derrotar a romena Corina Caprioriu nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em Agosto de 2016. Aos 30 anos, a glória olímpica é algo que a judoca pode meter na pilha das coisas que já conquistou, juntamente com cinco títulos europeus e quatro medalhas de prata em Mundiais. 

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Portugal com nota positiva

Em cinco meses, Portugal foi apontado como um exemplo na Educação pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) por duas vezes. A primeira, em Dezembro de 2016, nos resultados do PISA, os alunos portugueses ficaram pela primeira vez acima da média europeia. O director do departamento de Educação da OCDE, Andreas Schleicher, sublinhou que Portugal teve “progressos incríveis” no programa internacional de avaliação de alunos.

Na terça-feira, Portugal voltou a receber elogios no seguimento da iniciativa do Ministério da Educação de ouvir os alunos no âmbito da definição de um novo perfil de competências à saída da escolaridade obrigatória e da flexibilização curricular que está a ser preparada.

No que diz respeito ao ensino superior, as faculdades de economia da Universidade Católica Portuguesa e da Universidade Nova de Lisboa estão entre as 50 melhores do mundo, segundo o ranking de programas de formação de executivos do jornal britânico Financial Times, publicado em Maio de 2017 (a Porto Business School também consta da lista, mas está um pouco mais abaixo, em 69.º).

Dois pastorinhos canonizados

Papa Francisco visitou Portugal, onde permaneceu apenas 23 horas. Em Fátima, canonizou Francisco e Jacinta Marto, que passaram de beatos a santos. O Papa encontrou-se com Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, logo à sua chegada à base aérea de Monte Real, e com o primeiro-ministro, António Costa, no dia 13, já no Santuário de Fátima. 

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Salvador Sobral amou por todos

Chegou a dizer-se que era impossível e a música foi considerada pouco festivaleira. Mas Salvador Sobral de 27 anos venceu mesmo a Eurovisão, deixando de parte os adereços. O músico colou um país inteiro à televisão, para voltar a ver a Eurovisão, e foi recebido por milhares no aeroporto de Lisboa. 

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A Europa a gostar da música portuguesa

No início de 2017, Portugal teve a maior representação de sempre no festival Eurosonic em Groningen, na Holanda. O evento serviu de montra para a música europeia e contou com a presença de 5 mil profissionais da indústria musical. Este ano teve Portugal como país em destaque. Os 23 nomes que fizeram parte da armada portuguesa que atuou na Holanda eram nomes tão diferentes como Glockenwise ou Gisela João, DJ Ride ou Noiserv, Marta Ren ou Rodrigo Leão, The Happy Mess ou Octapush, Batida ou Best Youth. Este acontecimento foi apenas mais um sintoma da cada vez maior presença internacional da música feita em Portugal.

Cinema nacional nos olhos do mundo

Nuno Lopes ganhou prémio de melhor actor em Veneza com São Jorge, filme de Marco Martins que retrata os anos de intervenção da troika. O actor interpreta um boxeur que, no cume da crise financeira em Portugal, trabalha para uma empresa que cobra dívidas difíceis.

O Urso de Ouro de Berlim para melhor curta, em 2016, foi para Leonor Teles com a Balada de um Batráquio, uma curta-metragem de dez minutos sobre as superstições, os mal-entendidos e a xenofobia para com a etnia cigana. O mote é a colocação de estatuetas em forma de sapos de louça à porta das lojas para impedir a entrada de ciganos. 

Este ano, foi a curta-metragem Cidade Pequena a ser distinguida com o prémio Urso de Ouro no Festival de Berlim. O realizador, Diogo Costa Amarante, filma a relação entre uma mãe (Mara Costa Amarante) e um filho (Frederico Costa Amarante) que descobre na escola, aos seis anos, que as pessoas morrem quando o coração delas pára.

De Locarno, João Pedro Rodrigues regressou com um prémio — Melhor Realizador, por O Ornitólogo, sucedendo nesta categoria a Pedro Costa, que ganhou na edição de 2014 por Cavalo Dinheiro

Prémio para a boca

Há sete novos restaurantes com estrela Michelin em Portugal e mais dois que alcançam a segunda. A novidade foi anunciada em Novembro de 2016 em Girona, Catalunha. Os restaurantes Alma e Loco, em Lisboa, LAB by Sergi Arola, na Penha Longa, Sintra, Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, Antiqvvm, no Porto, e William, no Funchal, são as novidades absolutas no lote das estrelas do novo guia, aos quais se junta o regresso do L’And Vineyards, em Montemor-o-Novo, que tinha saído da lista na última edição. Os novos duas estrelas são o The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, e o Il Gallo d’Oro, no Funchal.

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Melhor destino, melhor praia, melhor piscina e melhor paisagem

Três vezes nomeado. Três anos eleito. O Porto voltou vencer a competição de melhor destino europeu do ano, promovida pela European Consumers Choice, ficando em primeiro lugar na votação online.

Os turistas gastam cada vez mais dinheiro no Porto e no Norte, segundo um estudo elaborado pelo IPDT — Instituto de Turismo, em parceria com o Turismo do Porto e Norte de Portugal (PNP) e o Aeroporto do Porto, o Perfil dos Turistas do Porto e Norte de Portugal durante o Inverno IATA 2016-2017 reporta um aumento de 222 euros no consumo médio por estada face ao mesmo período de 2015/16, altura em que a estada média se situou em seis noites. 

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Portugal também tem a piscina mais bonita da Europa. O site European Best Destinations (EBD) elegeu a piscina do The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, como a mais bonita da Europa. Num ranking com oito lugares está outra piscina situada em solo nacional: a do The Vine Hotel, no Funchal.

Depois do título de melhor destino europeu, de melhor praia e de melhor piscina, os prémios do European Best Destinations (EBD) continuam. Desta vez, os Açores foram eleitos a melhor paisagem da Europa. O Vale do Douro ficou em 11.ª posição na lista.

Praia de Galapinhos foi considerada a melhor da Europa. O Prémio European Best Destiantions escolheu a praia de Setúbal, três meses depois da eleição do Porto como melhor destino europeu. 

Portugal com a tecnologia na ponta dos dedos

Web Summit decorreu em Novembro de 2016, em Portugal, ao ritmo do crescente ecossistema de startups. Um evento que contou com a presença de mais de 50 mil participantes de 166 países. A cimeira tecnológica que nasceu em 2010 na Irlanda, e que se realizou pela primeira vez em Portugal, vai manter-se em Lisboa até 2020 e poderá prolongar-se por mais dois anos.

Na cimeira da tecnologia estiveram 66 star-ups nacionais e 15 mil empresas estiveram presentes. E o resultado do ano passado é tão positivo que a organização da próxima edição decidiu ter mais espaço disponível e contará com um programa de voluntariado que vai pôr 500 jovens a acompanhar os mais importantes oradores do encontro.

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Texto editado por Hugo Torres