Biden admite preocupação com resposta da China à nova vaga de covid-19

Presidente dos EUA acompanha dúvidas da OMS, que diz que o número de infectados divulgado pelo Governo chinês não representa “o verdadeiro impacto da doença” no país. UE recomenda testes negativos.

Foto
Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos Reuters/LEAH MILLIS

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, admitiu na quarta-feira que existe preocupação no Governo norte-americano em relação às informações que as autoridades chinesas estão a transmitir à comunidade internacional no que toca ao número de cidadãos do país infectados com o vírus SARS-CoV-2 desde o levantamento da maioria das restrições sanitárias, no final do ano.

“Eles [a China] ficam muito sensíveis (…) quando sugerimos que não têm sido muito colaborativos”, disse o chefe de Estado norte-americano aos jornalistas, numa visita ao estado do Kentucky, citado pela Reuters.

Biden falou poucas horas depois de um alto responsável da Organização Mundial de Saúde (OMS) ter afirmado que o número de doentes com covid-19 divulgado pelo Governo chinês não representa “o verdadeiro impacto da doença” na República Popular da China.

“Acreditamos que os actuais números publicados pela China sub-representam o verdadeiro impacto da doença em termos de admissões hospitalares, em termos de admissões em ICU [unidades de cuidados intensivos, e, particularmente, em termos de mortes”, assumiu o director do programa de emergências da agência de saúde da ONU, Mike Ryan.

As autoridades chinesas deram apenas conta de uma morte por covid-19 em todo o país na quarta-feira e cinco mortes no dia anterior – o número total oficial de mortos é de 5259. Segundo um relatório divulgado esta quinta-feira pela OMS, Pequim registou 218,019 novos casos desde o primeiro dia de 2023.

Os epidemiologistas e outros especialistas em saúde olham, no entanto, para estes números com desconfiança, e há cada vez mais Governos a assumirem a mesma posição.

Depois de três anos marcados por confinamentos rigorosos e operações de testagem em grande escala da população, a chamada política “covid zero” e as restrições sanitárias que lhe foram associadas começaram a ser gradualmente abandonadas a partir de Novembro na China.

Por se tratar do país mais populoso do mundo, todas as previsões apontavam para uma propagação descontrolada da covid-19 pelo território, na ordem dos milhões de novos casos por dia, e os relatos de caos que chegam dos hospitais e das casas funerárias em várias cidades chinesas parecem atestar isso mesmo.

“Ainda não temos todos os dados”, insistiu Ryan, na conferência de imprensa de quarta-feira, em Genebra, na Suíça.

Uma das principais preocupações das autoridades sanitárias internacionais e nacionais prende-se com a possibilidade de propagação acelerada de novas variantes ou subvariantes da doença.

As críticas de vários Governos, como o australiano ou a Administração Trump, à forma como a China lidou com o primeiro surto de covid-19, em Wuhan, no final de 2019, voltam a motivar suspeitas de que o Governo chinês pode estar a omitir o verdadeiro impacto da doença para fins políticos – até porque a reabertura da economia chinesa foi precedida de protestos inéditos contra o regime e o Presidente, Xi Jinping.

“Aquilo que se está a passar na China é preocupante”, disse esta quinta-feira o ministro da Saúde francês, François Braun, em declarações à France 2.

A próxima data importante do calendário de desmantelamento da “covid zero” na China é o próximo domingo, dia em que o Governo chinês deixa de exigir quarentenas obrigatórias para aqueles que entram no país vindos do estrangeiro.

Vários Estados asiáticos, europeus e americanos já anunciaram medidas restritivas para os viajantes e turistas que cheguem aos seus territórios vindos da China. Portugal resiste, por enquanto, a impor restrições.

Na quarta-feira, os representantes no Conselho da União Europeia “encorajaram fortemente” os 27 Estados-membros a exigirem a apresentação de um teste negativo de covid-19 com menos de 48 horas aos passageiros de voos da China.

Esta quinta-feira, o Governo alemão seguiu a recomendação europeia e anunciou que, a partir de domingo, vai exigir a realização de testes rápidos na chegada ao país para quem vem da China.

Sugerir correcção
Comentar