Estudos apontam mercado de Wuhan na China como início da pandemia

Os dois estudos publicados pela revista Science mostram que os primeiros casos estavam concentrados no mercado da cidade chinesa e apontam como causa provável uma origem animal. A investigação revela ainda que o vírus não circulou entre humanos antes de Novembro de 2019.

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Mercado de Wuhan, na China Reuters/ALY SONG

Dois estudos divulgados na terça-feira pela revista Science concluem que a pandemia de covid-19 começou no mercado da cidade chinesa de Wuhan, apontando como causa provável do vírus uma origem animal, noticiou a agência France-Presse (AFP).

O primeiro estudo é uma análise geográfica que mostra que os primeiros casos, detectados em Dezembro de 2019, estavam concentrados no mercado. Já a segunda investigação, é uma análise genómica do vírus dos primeiros casos, mostrando que é muito improvável que tenha circulado amplamente entre humanos antes de Novembro de 2019.

Desde o início da pandemia que existe o debate entre especialistas, que ainda procuram, quase três anos depois, esclarecer o mistério sobre a origem do vírus SARS-CoV-2.

Um dos autores destes estudos, Michael Worobey, virologista da Universidade do Arizona, assinou uma carta em 2021 onde pedia que fosse seriamente considerada a hipótese de uma fuga de um laboratório em Wuhan.

No entanto, com os dados analisados desde então, o cientista considera agora “que simplesmente não é plausível que o vírus tenha sido introduzido de outra forma que não seja através do comércio de animais no mercado de Wuhan”, segundo explicou em conferência de imprensa.

Kristian Andersen, do Scripps Research Institute e também co-autor destes estudos, realçou que apesar de não ter sido refutada a teoria da fuga de um laboratório, é importante “entender que há cenários possíveis e outros prováveis”. O primeiro estudo analisou os locais de residência dos primeiros 155 casos identificados em Dezembro de 2019.

Falta identificar o animal intermediário

Os investigadores mostraram que estes casos estavam concentrados em torno do mercado de Wuhan, ao contrário dos registados nos meses seguintes, que coincidiram com bairros altamente populosos.

Além disso, entre os casos estudados, pessoas não ligadas directamente ao mercado viviam mais próximo deste do que as que trabalhavam ou o visitaram recentemente. Isto indica que estes terão sido provavelmente infectados devido à proximidade com o local.

Os cientistas também analisaram amostras retiradas do mercado em Janeiro de 2020, por exemplo, de uma gaiola ou carrinhos. As pesquisas mostraram que as amostras positivas estavam concentradas no Sudoeste do mercado, precisamente onde os animais vivos eram vendidos (incluindo o cão-guaxinim, uma espécie de texugo ou raposa).

O animal que pode ter actuado como intermediário entre morcegos, portadores de coronavírus e humanos, não foi identificado. Já o segundo estudo é baseado na análise do genoma do vírus que infectou as primeiras pessoas.

A análise conclui que duas linhagens do vírus, A e B, existiam antes de Fevereiro de 2020 e que provavelmente resultaram de dois eventos separados de transmissão humana, ambos no mercado de Wuhan. Estudos anteriores sugeriram que a linhagem B evoluiu da linhagem A.

Os cientistas alertam que é importante entender de onde vieram os animais vendidos no mercado para minimizar riscos futuros.

Apesar de as ‘áreas cinzentas’ permanecerem, os investigadores sublinharam que as informações disponíveis sobre o início da pandemia eram muito detalhadas. “Há um sentimento geral de que não há informação que nos possa dizer algo sobre a origem da pandemia de covid-19. Isso é simplesmente incorrecto”, sublinhou Kristian Andersen.

A China tem sido regularmente acusada de reter informações ou de não cooperar plenamente com investigações internacionais.

Compreender como a pandemia começou é crucial para ajudar a prevenir eventos futuros semelhantes e potencialmente salvar milhões de vidas. “As pandemias não exigem que nomeemos um responsável, mas exigem que as entendamos”, concluiu.

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