Carlos III: um livro à descoberta do novo rei britânico

A Viúva de Windsor, editado pela Oficina do Livro, é assinado pelo embaixador José Bouza Serrano.

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O novo livro conta a história dos Windsor Reuters/TOBY MELVILLE

Um mês depois de ter sido proclamado rei, Carlos III já fez a diferença do reinado de sua mãe, ao dar a saber que não estaria na Cimeira do Clima, porque a primeira-ministra Liz Truss objectou.

O novo rei é conhecido pelas suas opiniões apaixonadas a favor do ambiente e já se tinha comprometido a participar na designada Conferência das Nações Unidas sobre as alterações Climáticas (COP27), em Novembro, no Egipto.

O actual monarca esteve presente na COP26, em Glasgow, no ano passado, mas agora, em seu lugar, irá o filho e herdeiro William, uma vez que Carlos terá “outras prioridades”, segundo foi anunciado.

A notícia, confirmada depois de uma supostamente autorizada fuga de imprensa, pode dar um indício em relação ao comportamento do novo rei, cuja biografia é sobretudo conhecida pelo desassossego da sua vida amorosa, o matrimónio com a princesa Diana e posterior casamento com a futura rainha consorte Camila.

Tal circunstância fica patente no recente livro sobre a mais conhecida família britânica, A Viúva de Windsor, editado pela Oficina do Livro, e assinado pelo embaixador José Bouza Serrano.

O livro baseia-se não só em múltiplas obras sobre os membros e a história da família real, como em depoimentos de conhecidos e parentes próximos (da família e do autor) e testemunhos do próprio embaixador e seus conhecidos.

De acordo com o parecer do autor, Carlos começou a emitir opiniões no espaço público para contrabalançar “as atenções que se concentravam na sua cara-metade”, no tempo em que se encontrava casado com Diana, conhecida postumamente como “princesa do povo”.

Até à sua ascensão à coroa, o novo rei chegou a interferir na política, com cartas escritas a ministros a tentar alterar legislação, e que acabaram divulgadas na imprensa.

Uma atitude muito diferente de Isabel II, mais discreta na sua interferência e mais respeitadora dos protocolos constitucionais, que impedem a casa real de participar no debate político.

Mas Carlos, no seu primeiro discurso enquanto rei, prometeu seguir o exemplo da mãe.

Entre outros exemplos, Bouza Serrano recorda que o então príncipe se pronunciou “sobre “a fealdade da arquitectura moderna”, as divisões “entre as minorias étnicas e o resto da população” ou as condições de trabalho dos “deserdados de East End”, ao mesmo tempo que concordou pagar 25% de imposto sobre os seus rendimentos”.

O livro do embaixador lança alguma luz sobre o perfil deste novo rei que, de acordo com as suas próprias palavras, aprendeu as suas funções conscienciosamente “como os macacos, olhando para os meus pais”.

Carlos foi o primeiro filho de um casal apaixonado, cuja escolha do apelido — apenas Windsor — criou todavia uma desavença entre a futura rainha e o duque de Edimburgo, seu marido, Mountbatten de nome de família, uma adaptação do original germânico Battenberg.

É assim que ficamos a saber que o novo rei foi um jovem tímido, sensível e complexado devido às suas enormes orelhas, que os pais sempre se teriam recusado a mandar corrigir cirurgicamente, e que tinha medo do pai.

A etiqueta em que foi criado também terá contribuído para o tornar pouco espontâneo, segundo escreve Bouza Serrano.

Carlos foi todavia o primeiro herdeiro do trono a frequentar uma escola — “espartana” e ao gosto do pai —, na qual era alvo “de muitas chacotas e partidas”, agredido deliberadamente nos jogos de râguebi — havia “a diversão de bater no futuro rei de Inglaterra”.

O livro relata em pormenor a história recente da linhagem real britânica, cujo nome actual foi adoptado há apenas um século, pelo então rei Jorge V (bisavô de Carlos), para tentar mascarar a ascendência alemã Saxe-Coburgo e Gotha da Casa Real.

O nome foi criado a partir da designação de um antigo castelo na posse da família, Windsor, em Berkshire.

Carlos é a quarta geração de uma “inventada Casa de Windsor, nascida da decisão patriótica do rei Jorge V, que sofria os bombardeamentos dos seus primos alemães durante a Guerra Mundial”, escreve o embaixador.

A família real, designada como “A Firma”, não parece ser um modelo de virtudes, segundo conta Bouza Serrano, que ilustra os leitores com muitos pormenores sobre a vida pessoal e íntima de alguns dos antepassados directos do novo rei, alguns dos quais colocam a léguas os múltiplos casos de amores, desamores e adultérios da geração de Carlos III.

Seja como for, ainda é cedo para analisar o novo padrão de comportamento da casa real britânica. O novo rei só será coroado no próximo ano, pelo que tudo o que acontecer daqui para a frente será visto à lupa.

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