Dissidente bielorrusso preso depois de desvio de avião foi colocado em prisão domiciliária

As autoridades levaram Roman Protasevich e Sofia Sapega para apartamentos, confirma o pai do jornalista. Mas as acusações contra ambos e a falta de informação sobre o seu estado mantêm-se.

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Protasevich numa audiência num tribunal de Minsk, em 2017, antes de se exilar na Lituânia Reuters

Roman Protasevich já saiu da prisão em que se encontrava e foi posto num apartamento alugado pelas autoridades da Bielorrússia. A sua namorada, a russa Sopia Sapega, que seguia com ele no voo 4878 da Ryanair, desviado no fim de Maio às ordens de Alexander Lukashenko, e que foi igualmente detida por Minsk, também foi colocada num apartamento, sozinha, contou o seu padrasto ao serviço russo da BBC.

“É-me difícil comentar as acções das autoridades, quais são os seus objectivos”, disse o pai do jornalista dissidente, Dmitri Protasevich, citado pela BBC. “Eles continuam sob controlo total das autoridades, ninguém retirou as acusações contra nenhum deles”, afirmou ainda. “Ninguém nos diz nada sobre o estado de saúde de Roman, sobre o seu estatuto, é tudo uma paródia.”

Protasevich, que vivia exilado na Lituânia, está acusado de vários crimes, incluindo organização de “distúrbios em massa”, o que lhe pode valer 15 anos na prisão, enquanto a namorada do jornalista também é acusada de provocar distúrbios. Num vídeo que terá sido gravado sob coacção, o jornalista confessou “ter organizado protestos na cidade de Minsk” e garantia não ter “problemas de saúde”.

Os pais de Sofia Sapega, de 23 anos, dizem-se “em choque” com mais esta surpresa. A família, afirma o seu padrasto, Sergei Dudich, esperava que as acusações contra a jovem fossem retiradas. “O advogado não diz nada, as autoridades não dizem nada”, lamenta o pai de Protasevich. “Se a forma de detenção mudou é uma melhoria nas condições de vida deles. De resto, não sabemos o que se segue.”

O avião comercial da transportadora irlandesa fazia um voo entre duas capitais da União Europeia, Atenas e Vílnius, quando foi desviado a pretexto de uma suposta ameaça de bomba e escoltado por um caça MiG-29 (da era soviética) até ao aeroporto da capital bielorrussa.

A acção foi amplamente condenada como um acto de pirataria e de rapto e descrita pela UE como “um acto escandaloso e ilegal” – Bruxelas decidiu na altura endurecer as sanções já em vigor contra o regime e proibir os aviões bielorrussos no espaço aéreo europeu, ao mesmo tempo que vários países e companhias deixavam de aterrar na Bielorrússia e de sobrevoar o território do país.

Já esta semana, os 27 decidiram acrescentar o nome de 78 pessoas e oito entidades associadas ao regime na lista de sanções aplicadas pela UE por causa da repressão contra a oposição democrática, alargando as mesmas medidas a sete indivíduos e uma entidade que estiveram directamente envolvidos na aterragem forçada do voo da Ryanair.

Lukashenko justificou na altura o desvio como necessário para “proteger o país” e acusou os países ocidentais de estarem a ultrapassar “uma infinidade de linhas vermelhas”.

A UE não reconhece Lukashenko como Presidente da Bielorrússia, depois de ter considerado fraudulentos os resultados das presidenciais de Agosto, que deram ao líder bielorrusso 80% dos votos, provocando meses de protestos pró-democráticos, duramente reprimidos pelas forças de segurança.

Com 26 anos, Protasevich foi co-fundador (com outros jornalistas no exílio) e editor de um serviço de notícias online sediado na Polónia, o Nexta, que se transformou num canal influente juntos dos manifestantes. O regime considera o Nexta um “organização extremista”.

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