Lukashenko acusado de “sequestro de avião” e “rapto” de jornalista

Dirigentes europeus e dos EUA defendem proibição do espaço aéreo bielorrusso, depois do desvio ordenado por Lukashenko. EUA exigem “libertação imediata” do jornalista detido ao aterrar em Minsk.

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O jornalista e activista Roman Protasevich, durante uma audiência num tribunal de Minsk, em 2017 Reuters

Todos os voos civis devem deixar de sobrevoar a Bielorrússia, defende o chefe da Comissão de Negócios Estrangeiros do Senado norte-americano, Bob Menendez, num comunicado conjunto com os homólogos de vários países europeus, um dia depois de o regime de Alexander Lukashenko ter desviado um avião, a pretexto de um suposto alerta de segurança, para deter o jornalista Roman Protasevich.

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O voo da Ryanair unia duas capitais da União Europeia, tendo levantado de Atenas, na Grécia, com destino a Vílnius, na Lituânia, com 123 pessoas a bordo. Quando estava prestes a deixar o espaço aéreo bielorrusso, os passageiros foram informados de que faria uma aterragem de emergência em Minsk. As autoridades bielorrussas tinham contactado a tripulação para relatar um alerta de bomba, que acabaria por se comprovar ser falso.

“Isto é um acto de pirataria aérea, combinado com sequestro de avião e, eventualmente, ligado a um rapto”, afirmou o deputado britânico conservador Tom Tugendhat, à rádio do jornal The Times, defendendo a imposição de novas sanções aos dirigentes bielorrussos. Tugendhat é um dos signatários do comunicado – para além dos Estados Unidos e do Reino Unido, o texto é assinado por parlamentares da República Checa, Lituânia, Alemanha, Irlanda e Polónia.

Condenando “a ameaça de violência contra um avião civil”, os responsáveis descrevem um acto de pirataria numa rota entre dois países da NATO e da UE” e “um acto imprudente que colocou os passageiros e a tripulação em grave perigo”, que recorda “a falta de legitimidade da administração que reivindica autoridade em Minsk”.

Tanto os EUA como a UE deixaram de reconhecer Lukashenko como Presidente da Bielorrússia depois das presidenciais de Agosto, que deram ao líder bielorrusso 80% dos votos e foram consideradas fraudulentas, provocando meses de protestos pró-democracia duramente reprimidos pelas forças de segurança.

Possíveis sanções

“Poderia haver outras medidas […]. Estou a pensar numa medida que deve ser discutida a nível europeu e internacional, a proibição do espaço aéreo bielorrusso, que é uma medida de sanção”, disse entretanto o secretário de Estado francês dos Assuntos Europeus, Clément Beaune, em declarações transmitidas pela rádio RMC.

A Comissão Europeia, assim como dirigentes de vários países da UE, já tinham condenado o desvio do avião; e a presidente, Ursula von der Leyen, falou num acto “completamente inaceitável” que tem de ser sancionado. As possíveis sanções serão discutidas esta segunda-feira à tarde, numa reunião do Conselho Europeu em Bruxelas.

O secretário de Estado norte-americano juntou a sua voz ao coro de críticas, exigindo ainda “a libertação imediata” de Roman Protasevich. A mesma exigência foi feita já esta segunda-feira pelo alto-representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell.

“Este acto chocante do regime de Lukashenko pôs em perigo as vidas de mais de 120 passageiros, incluindo cidadãos dos EUA”, lê-se num comunicado de Antony Blinken. “As informações que sugerem o envolvimento dos serviços de segurança da Bielorrússia e o uso de um avião militar bielorrusso para escoltar o avião são profundamente preocupantes e requerem uma investigação total”, acrescenta Blinken.

Alguns passageiros relataram como o jornalista bielorrusso, que viajava com a sua namorada, estava “superassustado”. “Eu vou ser condenado à morte aqui”, disse a um passageiro, antes de ser levado pela polícia bielorrussa.

Ordem de Lukashenko

Os media estatais confirmaram, entretanto, que Lukashenko deu pessoalmente a ordem para desviar o avião, que aterraria em Vílnius mais de seis horas depois do previsto e com menos dois passageiros – Protasevich e a namorada.

Com 26 anos, Protasevich foi co-fundador e editor de um serviço de notícias online sediado na Polónia, o NEXTA, que cobriu os protestos contra Lukashenko no ano passado e que, como outros, usava a aplicação Telegram – a plataforma que tem sido o recurso possível para jornalistas e activistas conseguirem dar notícias e passar mensagens em países que censuram a informação. Actualmente, Protasevich trabalha para outro canal do Telegram, o Belamova.

Protasevich deixou o país em 2019 – a participação num protesto aos 16 anos fez com que fosse expulso de uma escola e, mais tarde, do programa de jornalismo na Universidade Estatal de Minsk – e vive exilado na Lituânia. Em Novembro, foi acusado de organizar motins e incitar ao ódio social no seu país.

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