Jornalista bielorrusso surge em vídeo a admitir acusações, mas a família fala em “tortura”

O pai de Roman Protasevich diz que tem medo do que pode acontecer ao seu filho e afirma que ele “não pode ter admitido” a responsabilidade das acusações que lhe são imputadas.

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Retratos do jornalista Roman Protasevich e da namorada, Sofia Sapega, ambos detidos TOMS KALNINS/LUSA

O Governo da Bielorrússia divulgou, na noite de segunda-feira, as primeiras imagens do jornalista Roman Protasevich desde a sua detenção, em Minsk, após o desvio do avião comercial onde seguia com destino a Vílnius, na Lituânia.

Num vídeo cuja autenticidade não foi verificada por fontes independentes, Protasevich confessa ter organizado protestos no país e garante estar bem de saúde. De acordo com a família de Protasevich e de outros críticos do regime autoritário de Alexander Lukashenko, o jornalista bielorruso foi coagido – ou mesmo torturado para dizer o que se ouve no vídeo divulgado na segunda-feira.

“Estou no Centro de Detenção n.º 1, em Minsk, e posso dizer que não tenho problemas de saúde”, diz Protasevich, num vídeo que parece ter sido filmado pelas autoridades bielorrussas. “Continuo a colaborar com a investigação e confessei ter organizado protestos na cidade de Minsk”, afirma o jornalista, no que equivale a uma confissão que pode valer-lhe uma pena máxima de 15 anos de prisão.

Roman Protasevich, de 26 anos, diz ainda que “a atitude dos funcionários do Ministério da Administração Interna (…) é o mais correcta possível, em conformidade com a lei”.

O pai do jornalista, Dzmitri Protasevich, alertou para a existência de coerção ao ver o vídeo: “Estas não são as palavras dele, não é o tom do discurso dele. Está muito reservado e percebe-se que está nervoso”, disse, em declarações à BBC. Sobre a confissão, Dzmitri Protasevich considera que o filho “não pode ter admitido ter organizado protestos em massa, porque não o fez”.

O jornalista bielorrusso criou o canal Nexta, influente durante as eleições de 2020 e junto dos milhares de manifestantes que encheram depois as ruas do país, para contestarem o regime do Presidente Alexander Lukashenko. Foi depois acusado de actos de terrorismo.

O pai de Roman Protasevich disse ter medo do tratamento que está a ser dado ao filho – nas imagens, o jornalista da oposição aparenta ter uma contusão sobre o olho direito. “É possível que esteja a ser agredido e torturado. Esperamos que consiga lidar com isto”, disse Dzmitri Protasevich à agência Reuters

Vários membros da oposição a Lukashenko, activistas e líderes internacionais, como o Presidente dos EUA, Joe Biden, acreditam que o jornalista foi coagido.

“Este é o Roman sob pressão física e psicológica”, disse a líder da oposição bielorrussa, Svetlana Tikhanouskaia, no Twitter, apelando à libertação “imediata” do jornalista. As autoridades não responderam às acusações de tortura sobre Protasevich e têm negado acusações de abusos de outros detidos

Desde domingo que as atenções estão focadas na Bielorrússia, depois de o Presidente do país, Alexander Lukashenko, ter ordenado o sequestro do avião da companhia Ryanair, num voo entre Atenas e Vílnius, sob o pretexto de um alerta de bomba a bordo.

O acto foi condenado por vários países no Ocidente e por organizações internacionais, exigindo-se a libertação de Protasevich e a abertura de uma investigação. E o embaixador da Letónia em Minsk foi expulso, depois de o Governo letão ter hasteado uma bandeira branca e vermelha, na praça central de Riga, em solidariedade com a oposição ao regime de Lukashenko. 

Por sua vez, Minsk acusa os EUA e os países europeus de serem responsáveis por uma escalada da tensão, considerando as acusações “precipitadas e beligerantes”. “A situação está a ser intencionalmente politizada, e têm sido feitas acusações sem fundamento”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros bielorrusso numa declaração.

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