PME portuguesas viram desvio de financiamento agravar-se

Dados do Banco Central Europeu sugerem que empresas da zona euro sentiram melhorias no segundo semestre da pandemia, mas há grandes diferenças nacionais.

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Adriano Miranda (arquivo)

Durante o segundo semestre da pandemia, o problema mais referido das pequenas e médias empresas (PME) da zona euro foi encontrar clientes e mão-de-obra qualificada. As PME portuguesas são das que mais se queixam do hiato de financiamento (o desvio entre as necessidades e disponibilidades), logo a seguir às da Grécia.

Segundo o inquérito às PME divulgado esta terça-feira pelo Banco Central Europeu (BCE), as preocupações com o acesso a financiamento externo mantiveram-se relativamente reduzidas, com excepção das PME gregas. Mas, em termos gerais, as micro-empresas (com menos de dez trabalhadores) notaram maiores dificuldades no acesso a empréstimos bancários, ao contrário das grandes empresas (mais de 250 trabalhadores), que indicaram que a disponibilidade de crédito à banca voltou aos níveis pré-pandemia.

Tal cenário dificultou a vida de muitas das mais de 11 mil empresas auscultadas para a mais recente edição do Inquérito ao Acesso das Empresas a Financiamento (SAFE, Survey on the Access to Finance of Enterprises, na versão inglesa), até porque, no período em causa, entre Outubro de 2020 e Março de 2021, os resultados operacionais “continuaram a deteriorar-se”, apesar de terem registado melhorias face ao primeiro semestre da pandemia.

A amostra do SAFE inclui 11.007 empresas da zona euro, das quais 10.054 (91%) são PME.

Avaliando o problema do acesso a financiamento numa escala de 1 (nada importante) a 10 (muito importante), houve menos PME a queixarem-se em países como Portugal, Bélgica, Irlanda, França, Itália, Áustria e até mesmo na Grécia. No entanto, o volume de empresas que se queixam continua relativamente elevado comparado com os últimos anos, aponta o BCE, em países como Portugal, Espanha, Itália, Áustria, Eslováquia e Alemanha.

As PME dos países que mais sofreram com a crise das dívidas soberanas na UE são precisamente aquelas onde a preocupação é maior. Na Grécia, este indicador tem uma pontuação média de 5,9 (numa escala de um a dez), seguindo-se Espanha (5,4) e Portugal e Itália (ambos com 5,2). No extremo oposto, as PME da Finlândia são as que menos importância dão a este problema.

Contrariando a tendência europeia, que se pautou por menos queixas em relação ao hiato no financiamento, Portugal viu mais PME a reportarem este problema durante o período em causa. O número das que disseram precisar de empréstimos ou acesso a linhas de crédito até baixou, mas essa tendência foi contrariada pelas opiniões negativas das que continuaram a precisar: entre esta fatia, houve mais empresas a queixarem-se de que não encontraram solução nem para empréstimos nem para linhas de crédito.

Em termos europeus, o acesso a apoios públicos diminuiu, segundo a maioria dos inquiridos, e a disponibilidade de crédito ao comércio também. Os dados do BCE também confirmam a menor disponibilidade e acesso de apoios públicos entre a primeira e a terceira vaga de covid-19, que causaram maiores problemas sanitários e levaram muitos governos a adoptar medidas mais drásticas de limitação à actividade económica. 

Entre as que recorreram a medidas públicas de apoio, a maioria classificou-as como extremamente importantes para cumprimento das responsabilidades imediatas e de curto prazo. Entre os maiores países da zona euro, mais de 90% das PME de Alemanha e França relevaram a ajuda dada pelo Estado, resultado que só é ultrapassado em dois países: Portugal e Irlanda, onde cerca de 97% dos beneficiários de apoios públicos disseram que estes foram essenciais para sobreviver a este período. 

Por países, Áustria, Grécia e França têm o maior número de PME que disseram ter registado melhorias no acesso a apoios públicos, mas em sentido contrário estiveram Eslováquia, Bélgica e Portugal. Tal cenário agravou algumas dificuldades porque, ao mesmo tempo, houve uma menor disponibilidade da banca para conceder empréstimos, segundo disseram mais PME portuguesas.

Esta indisponibilidade não tem impacto na maioria das PME, já que 75% diz evitar recorrer a empréstimos bancários. Em Portugal, o número de empresas a declarar que prescinde desta via de financiamento também aumentou no segundo semestre da pandemia, mas as razões dessa opção variam de país para país. No caso português (e grego) a principal razão apontada são “taxas de juro altas”.

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