Apoiantes de Trump envolvidos em episódios de intimidação na véspera das eleições

Estradas bloqueadas em Nova Jérsia e Nova Iorque, cerco a autocarro da campanha de Joe Biden no Texas, e vários comícios democratas canceladas por precaução. Num clima de tensão e incerteza, retórica de Donald Trump, que apoia comportamento violento dos seus apoiantes, gera preocupação.

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Comício de Donald Trump na Georgia EPA/BRANDEN CAMP

Com os Estados Unidos a preparem-se para uma noite eleitoral que promete muita incerteza, os últimos dias de campanha ficaram marcados por episódios de intimidação por parte dos apoiantes de Donald Trump, que levaram ao cancelamento de comícios do Partido Democrata por precaução.

No domingo, uma caravana de veículos com bandeiras de apoio ao Presidente norte-americano bloqueou parcialmente o trânsito na Garden State Parkway, uma das principais estradas da Nova Jérsia. O mesmo aconteceu na ponte Mario M. Cuomo, em Nova Iorque, com os apoiantes de Trump a saírem dos seus carros em celebração, buzinando e hasteando bandeiras.

Na Virgínia, registaram-se incidentes quando uma caravana de apoio a Trump entrou em Richmond, envolvendo-se em confrontos com contramanifestantes junto ao monumento de Robert E. Lee, o militar que liderou aquele estado na Guerra Civil Americana. Na Georgia, um comício do Partido Democrata foi cancelado, com os organizadores a acusarem os apoiantes de Trump de intimidação.

Estes episódios vêm na sequência de um caso que já está a ser investigado pelo FBI, depois de na sexta-feira cerca de uma centena de carros com bandeiras da campanha de Trump terem cercado um autocarro da campanha de Joe Biden e Kamala Harris numa estrada no Texas, obrigando-o a parar. Por precaução, a campanha democrata cancelou alguns comícios programados para aquele dia.

O vídeo foi amplamente partilhado nas redes sociais, inclusive pelo próprio Donald Trump. “Amo o Texas”, lê-se na descrição do vídeo partilhado no Twitter pelo Presidente.

Trump voltaria mais tarde ao Twitter para defender os seus apoiantes – que apelidou de “patriotas” - e criticar o FBI, que decidiu investigar o incidente.

“Na minha opinião, estes patriotas não fizeram nada de mal. O FBI e a justiça deveriam era investigar os terroristas, anarquistas e agitadores dos ANTIFA, que andam por aí a queimar as nossas cidades geridas por democratas e a magoar as pessoas”, afirmou Trump, apesar da falta de evidência de casos de violência perpetrados por grupos antifascistas nos Estados Unidos.

Já em Graham, na Carolina do Norte, uma marcha pacífica de homenagem a George Floyd, o afroamericano assassinado por um polícia de Mineápolis em Maio, que gerou uma vaga de manifestações contra a violência policial e o racismo, acabou com uma intervenção policial musculada.

Os participantes na homenagem, que no final pretendiam deslocar-se às urnas, numa acção para demonstrar a importância de votar nas eleições deste ano, ajoelharam-se durante mais de oito minutos em tributo a Floyd, tendo depois a polícia recorrido à força para retirar os participantes das ruas.

Foi utilizado gás pimenta e feitas várias detenções, com relatos de crianças apanhadas no meio da confusão, segundo a imprensa norte-americana. Os organizadores da marcha denunciam o clima de medo e uma tentativa de supressão de voto.

“Estas pessoas estão assustadas”, disse o reverendo Gregory B. Drumwright, organizador da marcha, citado pelo The New York Times. “Existe um clima de medo à nossa volta”, acrescentou.

Incitar a violência

Numas eleições em que, pela primeira vez na história dos Estados Unidos, o número de votos por antecipação vai superar a participação eleitoral do dia das eleições, as autoridades contam que as habituais filas sejam mais pequenas este ano, o que permitirá um controlo mais apertado de incidentes junto às assembleias de voto.

No entanto, escreve o The Washington Post, o voto antecipado tem sido marcado por acusações de intimidação e assédio junto dos eleitores, inclusive de caravanas de apoiantes de Donald Trump que tentaram por várias vezes bloquear o acesso aos locais de voto.

Apesar de a maioria das ameaças que proliferam online não terem migrado para as ruas norte-americanas, as autoridades acompanham com preocupação o incitamento à violência, particularmente de grupos de extrema-direita, como os Proud Boys, que no primeiro debate entre Biden e Trump ouviram o Presidente pedir-lhes para ficarem “a postos” para a noite de 3 de Novembro.

A retórica de Trump, que tem elogiado o comportamento várias vezes violento dos seus apoiantes e recusa comprometer-se com uma transição pacífica de poder, tem sido apontada pelos analistas como uma forma de legitimação da violência.

Durante o seu mandato, têm sido frequentes as declarações ou publicações no Twitter que foram considerados como incitação à violência, desde montagens em vídeos em que o Presidente aparece a agredir jornalistas, às ameaças de enviar militares para conter protestos contra o racismo.

Os ataques e ameaças aos seus adversários políticos também têm sido recorrentes, tendo o último acontecido no domingo, num comício na Florida, com o Presidente norte-americano a insinuar que gostaria de lutar fisicamente com Joe Biden, que considera “uma pessoa fraca”.

“De todas as pessoas do mundo com quem eu poderia lutar, [Biden] é provavelmente aquele que eu mais gostaria. Aquelas pernas ficaram muito finas, nem seria preciso cerrar o punho”, afirmou Trump, que no mesmo comício admitiu vir a despedir Anthony Fauci, o imunologista que tem sido o rosto combate ao coronavírus nos EUA, depois das eleições.

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