Donald Trump ataca Anthony Fauci: “É um desastre”

Ataques do Presidente norte-americano surgem um dia depois de o Director do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA ter admitido que não estava surpreendido por Donald Trump ter sido infectado com o coronavírus.

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Reuters/POOL

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua a desvalorizar a pandemia do coronavírus e atacou o principal especialista em doenças infecciosas do país, Anthony Fauci, considerando-o um “desastre”.

“As pessoas estão fartas de ouvir o Fauci e todos esses idiotas”, afirmou Trump, numa chamada telefónica a partir do seu quarto de hotel em Las Vegas - onde está hospedado para participar em comícios no Arizona, com um membro da sua campanha - citada pelo The Washington Post.

“Todos os dias que ele vai à televisão, há sempre uma bomba. Mas haveria uma bomba ainda maior se o despedissem. Mas o Fauci é um desastre”, disse o Presidente norte-americano, que afirmou que o infecciologista “é um tipo porreiro, mas que anda aqui há 500 anos”.

Os ataques de Donald Trump surgem um dia depois de ter sido transmitida uma entrevista de Anthony Fauci no programa 60 minutos, da CBS, em que este admitiu que não estava surpreendido por o Presidente dos Estados Unidos ter sido infectado com o coronavírus.

“Fiquei preocupado que ele ficasse doente quando o vi em situações completamente precárias com grandes multidões, sem separação entre as pessoas, com quase ninguém a usar máscara”, disse Fauci.

O infecciologista, que tem sido o rosto dos Estados Unidos no combate à pandemia de covid-19, referiu-se em particular à reunião no Rose Garden da Casa Branca, no dia 26 de Setembro, onde Donald Trump anunciou a juíza Amy Comey Barrett como a sua escolha para substituir Ruth Bader Gindsburg. O anúncio viria a transformar-se num surto no interior da Casa Branca, com pelo menos 12 pessoas infectadas com o SARS-CoV-2.

“Quando vi aquilo na televisão, disse ‘oh meu deus, nada de bom pode vir dali. Vai ser um grande problema’”, acrescentou Fauci.

Desde o início da pandemia, a relação entre Donald Trump e Anthony Fauci, director do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos há 36 anos, tem sido conturbada, com o infecciologista chamado a corrigir repetidamente as declarações do Presidente.

Na semana passada, depois de aparecer num anúncio para a campanha de reeleição de Donald Trump, em que parece que está a elogiar o trabalho do Presidente no combate à pandemia, Fauci sentiu necessidade de vir a público distanciar-se da campanha republicana.

“Os comentários que me foram atribuídos foram retirados de contexto de uma declaração mais alargada que fiz há meses sobre o esforço dos responsáveis de saúde pública”, esclareceu Fauci.

As sondagens, que colocam Joe Biden à frente de Donald Trump por uma média de dez pontos, têm também apontado para a opinião negativa que os americanos têm sobre a gestão que o Presidente norte-americano tem feito da pandemia. Por outro lado, conforme uma sondagem do The New York Times/Sienna College publicada em Junho, 67% dos norte-americanos dizem que confiam em Anthony Fauci, enquanto Trump fica-se pelos 26%.

Num dos comícios em que participou esta segunda-feira no Arizona, Trump continuou a desvalorizar a pandemia de covid-19 nos Estados Unidos – que, segundo os dados da Universidade Johns Hopkins, já contabiliza mais de oito milhões de infectados com coronavírus e mais de 219 mil mortos –, e gabou-se de ter milhares de participantes nos seus comícios.

“As pessoas estão fartas da covid. Tenho os maiores comícios de sempre. E temos covid. As pessoas estão a dizer ‘não importa, deixem-nos em paz’”, afirmou Trump, no Arizona, gabando-se de ter actos de campanha com “25 mil pessoas”, enquanto Joe Biden “quando vai a comícios, tem quatro pessoas”.

Durante o dia, Trump voltou a atacar Joe Biden e chegou mesmo a afirmar que o candidato do Partido Democrata deveria “estar na prisão”. “Ele é um criminoso”, atirou Trump, sem apresentar provas, insinuando que existe “um escândalo sobre Joe Biden que o vai tornar um candidato praticamente impotente”.

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