Atrasos na contagem dos votos nos EUA fazem temer longa noite de desinformação

Twitter e Facebook tomam algumas medidas para tentarem limitar as consequências das declarações de vitória antes do tempo. Resultados finais em estados como a Pensilvânia e o Arizona podem demorar várias horas ou dias a serem conhecidos.

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O período de votação antecipada em Nova Iorque arrancou esta semana, mas em muitos outros estados já decorre há semanas LUSA/JUSTIN LANE

Na noite eleitoral de 3 de Novembro, quando milhões de norte-americanos estiverem ansiosos para conhecerem o nome do seu próximo Presidente, o possível silêncio nos principais jornais e canais de televisão vai ser preenchido por uma avalancha de previsões, nas redes sociais, feitas a partir de resultados incompletos. 

Empresas como o Facebook e o Twitter anunciaram novas regras para tentarem pôr alguma ordem no previsível caos de desinformação que se espera após o fecho das mesas de voto nos EUA. Mas não há muita gente a apostar no sucesso dessa operação.

“Pode haver uma corrida louca para ver quem anuncia primeiro as previsões, porque dessa forma ganham-se retweets [a partilha, por outros utilizadores, das mensagens publicadas no Twitter]”, diz Brent Peabody, um apoiante da candidatura do Partido Democrata e “entusiasta da comunidade eleitoral do Twitter”, ouvido pela NBC News.

Ao contrário do que aconteceu em 2016, quando a vitória de Donald Trump foi inesperada, mas pôde ser confirmada na própria noite eleitoral, a contagem dos votos na eleição deste ano pode vir a ser um dos processos mais confusos e demorados das últimas décadas – talvez só comparável à eleição de 2000, quando o vencedor, George W. Bush, só foi conhecido mais de um mês depois da noite eleitoral.

Pandemia mudou tudo

Mas, este ano, a situação é ainda mais complicada. Em 2000, os eleitores sabiam que só estava em causa o resultado no estado da Florida; na próxima semana, por causa do aumento do número de votos por correspondência devido à pandemia, e aos atrasos nos correios, é possível que os resultados caiam a conta-gotas, nas horas e dias seguintes, em estados tão importantes para a vitória final como o Arizona, a Carolina do Norte, a Florida, a Georgia, o Michigan e a Pensilvânia.

“Apenas oito estados esperam ter pelo menos 98% de resultados oficiosos até às 12h do dia a seguir à eleição. Vinte e dois estados e o distrito da capital autorizam a recepção de boletins de voto após o dia da eleição, desde que tenham sido enviados antes. E isso vai depender do dia em que os eleitores enviaram os seus boletins”, alerta o New York Times numa página onde vai actualizado as expectativas dos responsáveis eleitorais dos vários estados sobre a divulgação dos resultados.

No fim de uma campanha eleitoral em que um dos principais candidatos, o Presidente Donald Trump, tem sugerido que só perderá se houver fraude generalizada no envio de boletins de voto por correspondência, é possível que os seus apoiantes declarem vitória na noite de 3 de Novembro, em estados decisivos, antes de a contagem estar fechada.

Pensilvânia e Arizona

Num dos cenários possíveis, os resultados iniciais no estado da Pensilvânia podem apontar para uma vantagem significativa do Presidente Trump.

Ao contrário dos eleitores do Partido Democrata – que recorreram em grande número ao voto por correspondência, por estarem mais receosos das consequências da pandemia –, os apoiantes do Presidente dos EUA vão aparecer em força no dia da eleição. 

Como a lei na Pensilvânia só autoriza o início da contagem de votos no próprio dia da eleição, é natural que haja mais votos em Trump do que em Biden numa contagem inicial.

Para além disso, o Supremo dos EUA decidiu que os boletins de voto por correspondência na Pensilvânia podem ser aceites até 6 de Novembro, desde que sejam enviados antes de 3 de Novembro. Se milhares de eleitores do Partido Democrata enviarem os seus votos em Joe Biden no dia 2, segunda-feira, é possível que os resultados provisórios conhecidos na noite eleitoral (uma vantagem de Trump, por exemplo) venham a ter um final muito diferente (a vitória de Biden).

Tendo em conta que Donald Trump venceu na Pensilvânia, em 2016, com apenas mais 44.292 votos do que Hillary Clinton (num universo de mais de seis milhões de eleitores), e que uma vitória no mesmo estado, este ano, pode decidir quem será o próximo Presidente dos EUA, é fácil perceber a confusão que se pode instalar no país.

Da mesma forma, os primeiros resultados no Arizona podem favorecer Joe Biden e dar a impressão, aos seus apoiantes, de que o candidato confirmou as previsões das sondagens e virou o estado de vermelho (a cor do Partido Republicano) para azul (a cor do Partido Democrata) – o que também pode ser decisivo para a vitória final, se Donald Trump conseguir limitar os ganhos de Joe Biden nos estados do Midwest e do Sul, na outra ponta do país (onde as mesas de voto encerram mais cedo devido às diferenças nos fusos horários).

Ao contrário do que acontece na Pensilvânia, os responsáveis eleitorais puderam começar a contar os votos por correspondência duas semanas antes de 3 de Novembro, e os resultados iniciais podem beneficiar Joe Biden de forma enganadora.

Para tentar limitar os estragos na noite eleitoral, o Twitter anunciou que vai eliminar mensagens que incluam declarações de vitória antes do tempo – antes que os resultados finais sejam confirmados por responsáveis eleitorais no estado em causa, ou por pelo menos dois jornais ou canais de televisão nacionais.

O Facebook não quis ir tão longe, mais vai acrescentar um aviso sobre os atrasos na contagem dos votos às mensagens de “partidos e candidatos” que reclamem vitória antes do tempo.

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