Sondagem. Queda do PS leva a empate técnico com o PSD e direita ultrapassa a esquerda

Socialistas perdem seis pontos em relação à sondagem de Julho do Cesop. PSD só ganha um ponto. Quem também recupera terreno são o Chega, IL, Bloco e PAN. Direita toda junta chega aos 51%.

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António Costa, secretário-geral do PS LUSA/PAULO NOVAIS

Não é o PSD que melhora, é sobretudo o PS que piora: se as eleições legislativas se realizassem agora, haveria um empate técnico entre os dois maiores partidos e a direita conseguiria, toda junta, a maioria absoluta.

Os resultados da última sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (Cesop) da Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1 dão aos socialistas 32% das intenções de voto e 31% aos sociais-democratas, mostrando uma queda de seis pontos percentuais do PS e apenas uma ligeira subida de um ponto para o PSD quando comparado com o estudo realizado em Julho do ano passado.

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Um ano depois da maioria absoluta do PS, nem os socialistas nem mesmo a esquerda toda junta consegue alcançar novamente essa fasquia. O PS tem agora menos 9,5 pontos do que a votação que teve nas últimas legislativas, e o PSD está um ponto percentual acima do resultado nas urnas (29,86%). O Chega ganhou 3,5 pontos, a IL ganha 3, e o Bloco 2,5 pontos. Já a CDU encolhe meio ponto.

Esta nova sondagem do Cesop/Católica, cujo trabalho de campo foi realizado entre os dias 9 e 17 deste mês, indica que os quatro partidos à direita – PSD, Chega, Iniciativa Liberal (IL) e CDS – obtêm, juntos, 51% das intenções de voto, contra os 47% de uma “geringonça” com todos os partidos da esquerda e o PAN. Aos 31% do PSD juntam-se os 11% do Chega, 8% da IL e 1% do CDS-PP.

Na prática, este era o valor (51%) a que ainda chegava toda a esquerda e o PAN na sondagem de Julho passado. Na altura, seis meses depois das eleições, o PS já perdera a maioria absoluta. Os novos resultados confirmam e acentuam a tendência de queda dos socialistas.

À esquerda, além dos 32% do PS, contam-se os 7% do Bloco, 4% da CDU, e o PAN e o Livre com 2% cada. O que significa que, com estes resultados, a antiga "geringonça" (PS, BE e CDU) valeria agora apenas 43% (depois de, nas legislativas de 2015, ter representado 50,75%; e nas de 2019 ter chegado aos 52,19%).

PS chamuscado por causa do Governo

Entre as nove forças políticas, as únicas a cair são o PS e a CDU. A explicação sobre os socialistas estará no desempenho do Governo, que desde Julho não parou de acumular polémicas com ministros e secretários de Estado.

Se em Julho António Costa quase só podia queixar-se dos estilhaços da teimosia com Pedro Nuno Santos sobre o aeroporto e do fecho de urgências, agora a lista é enorme. E até inclui novamente Pedro Nuno Santos, agora já fora do Governo, e a polémica com a indemnização da TAP à gestora Alexandra Reis, que deu azo a uma comissão de inquérito.

Aos incêndios descontrolados do Verão somaram-se as nomeações (e tentativas) no executivo, como Sérgio Figueiredo, ou casos de governantes envolvidos directa ou indirectamente em processos judiciais, como Miguel Alves e Carla Alves, ou em investigações, como Fernando Medina, ou ainda com ligações familiares incompatíveis devido a negócios com o Estado. A que se soma a actuação política de ministros como Maria do Céu Albuquerque (no processo de nomeação da secretária de Estado) e João Gomes Cravinho (por causa das obras do Hospital Militar de Belém).

Na CDU, a saída de Jerónimo de Sousa e sua substituição (num processo não isento de críticas sobre a falta de participação dos militantes) por Paulo Raimundo, em Novembro, não foi suficiente para inverter a tendência de queda. Os 5% de intenções de voto em Julho emagreceram para 4%.

Do lado dos que subiram nas intenções de voto em comparação com a anterior sondagem, os primeiros sete meses de Luís Montenegro à frente do PSD não parecem ter entusiasmado o eleitorado "laranja": o partido subiu um magro ponto de 30 para 31%. Os outros partidos à direita (à excepção do CDS, que manteve o seu 1%) têm motivos para festejar e na Iniciativa Liberal haverá quem leia nesta subida de 6 para 8% já um novo alento depois da mudança de presidente e queira afastar os maus agoiros de quem via na saída de João Cotrim Figueiredo e sua substituição por Rui Rocha o início do declínio do partido.

O Chega subiu de 9 para 11%, o que confirma a tendência de subida do partido de André Ventura, mas não para os valores que este tem colocado como meta (15%).

Também o Bloco, que se prepara para mudar de líder, com Mariana Mortágua a perfilar-se como a sucessora de Catarina Martins, sobe dois pontos, de 5 para 7%. O anúncio de que Catarina Martins não se recandidataria foi feito no dia 14, já durante a recolha de dados para esta sondagem.

Nos mais pequenos, o PAN recupera terreno subindo de 1 para 2% e apanha o Livre no mesmo patamar.

Nesta sondagem, 76% dos inquiridos responderam que, se houvesse agora eleições, de certeza que iriam votar, e 14% disseram que "em princípio" também o fariam. Só 2% responderam que de certeza que não iriam votar.

"Geringonça" à direita?

As divisões à direita, marcadas pelas tão reclamadas “linhas vermelhas” ao Chega, deixam o cenário com várias dúvidas. Uma aliança apenas entre Luís Montenegro e o liberal Rui Rocha permitiria chegar aos 39%, enquanto se o PSD se aliasse apenas ao Chega, a soma seria de 42%. Se o presidente do PSD nunca afirmou taxativamente que não fará alianças com o Chega, o novo líder da Iniciativa Liberal já foi claro ao recusar acordos com o partido de André Ventura.

Por seu lado, André Ventura, impulsionado por resultados de sondagens que têm dado até 14% das intenções de voto ao Chega, não se tem cansado de encostar o PSD à parede avisando que um futuro governo à direita terá obrigatoriamente que contar com o Chega – ou “não haverá governo à direita” – e que não lhe bastará um acordo parlamentar como aquele que existe nos Açores.

Tendo em conta apenas as estimativas de votação desta sondagem (e não de conversão em mandatos na Assembleia da República que, na prática, ditam o poder no Parlamento), uma aliança de apenas dois partidos à direita poderia ser contrariada por uma iniciativa de união da esquerda. Se se juntar o 1% do CDS à equação da direita, então o cenário PSD+Chega+CDS empatava com os 43% da esquerda.

Porém, tendo em conta que todos os valores são estimativas, qualquer cenário de direita versus esquerda encaixa no intervalo do empate técnico.

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