Reeleito com 98,3% dos votos, Ventura recusa “geringonças” e promete ganhar as ruas

Presidente do Chega promete combate “sem tréguas” à corrupção. Núcleo duro da direcção de Ventura continua. “Ou há Governo com o Chega ou não há Governo de todo em Portugal.”

PP - 28 JANEIRO 2023  - SANTAREM - CONVENCAO DO CHEGA PUBLICO
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No discurso de vitória, Ventura pediu unidade aos militantes Paulo Pimenta
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André Ventura apresentou a sua moção à presidência Paulo Pimenta
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O presidente do partido recandidata-se porque, argumenta, acredita que consegue levar o partido a ainda melhores resultados Paulo Pimenta
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Convenção do Chega decorre este fim-de-semana em Santarém Paulo Pimenta
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Convenção do Chega decorre este fim-de-semana em Santarém Paulo Pimenta
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Convenção do Chega decorre este fim-de-semana em Santarém Paulo Pimenta
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Convenção do Chega decorre este fim-de-semana em Santarém Paulo Pimenta
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Convenção do Chega decorre este fim-de-semana em Santarém Paulo Pimenta
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Convenção do Chega decorre este fim-de-semana em Santarém Paulo Pimenta

André Ventura foi reeleito, como esperado, presidente do Chega com 98,3% dos votos e, no discurso de vitória, prometeu ganhar as ruas à esquerda e impôs a sua linha vermelha: não fará qualquer "geringonça" de direita. "Nós queremos ser governo em Portugal mas não estamos dispostos a "geringonças" de direita porque elas nunca funcionaram e connosco também não vão funcionar. (...) Garanto que nunca abdicarei [desta decisão]: ou há Governo com o Chega ou não há Governo de todo em Portugal."

Esta é a "mensagem clara" que Ventura diz que sai do congresso e do mandato expressivo que lhe deram os delegados (houve 648 votos a favor – 98,3% –, seis brancos e cinco nulos). "Escusam de continuar a falar em linhas vermelhas, azuis ou verdes. Há apenas uma entidade que estabelece quais as linhas vermelhas e não se chama Luís Montenegro, Rui Rocha, Santos Silva ou António Costa. Chama-se povo português." Essa premissa aplicar-se-á a todas as eleições. "Este partido não quer falsas 'geringonças'; quer governar."

Num discurso com forte pendor populista em que Ventura se vitimizou pelo tratamento dado ao Chega, prometeu dar o sangue, suor e até travar a "batalha" da sua vida pelos que não têm voz e contra a corrupção. Também reconheceu, de passagem, que houve "falhas" no seu mandato (na comunicação, na interligação entre estruturas, mas também na autonomia local), colocou como primeiro objectivo levar o partido ao poder e como segundo "ganhar a rua à esquerda".

"Voltaremos a conquistar as ruas deste país com o nosso sangue e o nosso suor. Venceremos no sindicalismo, nas manifestações, na expressão da nossa voz. (...) Seremos a voz daqueles que a perderam, dos desalentados ", prometeu.

E houve mais uma promessa: a de que o partido dará tudo o que tem na guerra contra a corrupção. "Doa a quem doer, nas mais altas esferas do Estado, os portugueses têm direito a essa justiça", prometeu, apesar de saber que os militantes do Chega vão ser "perseguidos, achincalhados, excluídos, minimizados e apagados". "Mas nós já o sentimos todos os dias", lamentou.

Enaltecendo a "unidade" do partido com a votação expressiva em si, Ventura devolveu o poder aos militantes: "Neste partido o presidente só sai e abandona funções quando vocês disserem." Mas também insistiu na necessidade de manter esse "esforço de unidade" no futuro.

Neste domingo serão extintos alguns órgãos e há novas listas para outros – o conselho nacional reduz-se para menos de metade (de 70 para 30 membros), Rodrigo Taxa deixa o conselho de jurisdição que passa a ser liderado por Bernardo Pessanha. "Temos que fazer melhor do que fizemos. Espero que todos estes órgãos possam representar integralmente este partido e darem todos o seu melhor sem egos, traições ou jogos de bastidores."

Ventura deixa cair Mithá e Pacheco da direcção

No final dos trabalhos, já passava da 1h, foi divulgada a lista da nova direcção nacional proposta por André Ventura, que passa de um conjunto de 14 pessoas (sem contar com o presidente) para apenas nove, mas onde o líder mantém o seu núcleo duro. À esperada saída de Nuno Afonso junta-se Gabriel Mithá Ribeiro, que no Verão pediu a demissão da vice-presidência em colisão com Ventura por este lhe ter tirado a coordenação do gabinete de estudos (mas depois se reconciliaram), assim como José Pacheco, o deputado e líder açoriano, e Carlos Magno Magalhães, antigo líder distrital de Évora.

Desaparecem os dois cargos de secretário-geral que são ocupados até agora por Rui Paulo Sousa (que tinham também o cargo de vogal) e Pedro Pinto, passando ambos a adjuntos da direcção. Que se juntam nessas funções aos até aqui vogais Diogo Pacheco de Amorim, Patrícia Carvalho, Ricardo Regalla e Rita Matias. De cinco vice-presidentes passam a três - António Tânger Correa, Pedro Frazão (ambos deputados) e Marta Trindade.

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Convenção do Chega em Santarém Paulo Pimenta

As eleições para os órgãos nacionais decorrem na manhã de domingo. À frente do conselho de jurisdição ficará Bernardo Pessanha (até aqui assessor parlamentar e secretário da mesa do conselho nacional) que sucede a Rodrigo Taxa. Este último, que foi considerado um dos mais próximos e fiéis de Ventura, fez uma intervenção de despedida onde assumiu que não gostou das funções que exerceu e deixou um pedido notoriamente crítico ao grupo parlamentar para que "alguns" deixassem de pensar nos seus interesses e se dedicassem à sua missão no partido.

Para o conselho nacional, que passa de 70 para 30 elementos, há oito listas candidatas, parte delas encabeçadas por líderes distritais.

"Levar o partido, nos próximos quatro anos, a liderar um Governo"

Na apresentação da moção, ao final da manhã, André Ventura fixou o objectivo de "levar o partido, nos próximos quatro anos, a liderar um Governo", classifica o Chega como a "única cura para o vírus mortal socialista" e quer o partido a dar a resposta aos problemas que o PSD de Luís Montenegro não dará. Na apresentação da sua moção aos delegados da convenção, o líder que se recandidata a presidente apontou as suas metas para um novo mandato: "Vencer cada uma das eleições; mostrar que somos o principal partido português; e, o tecto me caia aqui em cima, se nós não havemos de ser, um dia, líderes do governo em Portugal."

O presidente procurou contrariar a ideia de que está agarrado ao poder, mas admitiu que a avaliação que faz de si próprio é a de que consegue "melhorar e muito" aquilo que o partido já conseguiu. "No dia em que entender que não tenho condições pessoais, políticas ou outra de vos levar mais longe, nenhum de vós precisará de me indicar a porta. Sairei pelo meu próprio pé e estarei aí sentado ao vosso lado", garantiu. Porém, esse ainda não é o momento.

O propósito da recandidatura é claro: "Levar este partido, nos próximos quatro anos, a liderar um governo." Mas André Ventura tão depressa afirma essa meta como admite não poder "prometer que o Chega vencerá as eleições ou ficará acima do PSD". E é sobretudo aos sociais-democratas que se atira, por serem uma "oposição que não tem feito oposição nem o trabalho para que foi mandatada", e porque os portugueses já não acreditam que Luís Montenegro "vá resolver os problemas do país".

É por isso que Ventura quer um partido virado para fora em vez de enredado nas tricas internas – agora apaziguadas com a ausência dos críticos nesta reunião – e que seja o "porta-voz da insatisfação nacional da crise que o PS gerou".

Embora estivesse a apresentar a moção com que se recandidata à liderança do Chega ao mais de meio milhar de delegados que se reúnem neste fim-de-semana em Santarém, pouco falou sobre o seu tema central, a corrupção. O partido deve "começar já a criar uma alternativa ao socialismo, uma alternativa credível, moderna e acima de tudo com a eliminação da corrupção e da impunidade como os grandes objectivos a alcançar. Um governo e um país de corrupção zero!, eis o grande lema desta moção", lê-se no texto. Porém, o documento não apresenta quaisquer medidas, ideias ou estratégia para o alcançar – só a promessa de escrutinar o Governo.

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António Tânger Correa, vice-presidente do Chega Paulo Pimenta

Aposta nas regionais da Madeira e Açores

A votação secreta para a presidência da direcção nacional, a que Ventura concorre sozinho (as candidaturas fecharam às 23h de sexta-feira), decorreu durante a tarde deste sábado, a par com a apresentação de duas dezenas de moções sectoriais.

Entretanto, durante a manhã, foram passando pelo palco dirigentes e delegados e há uma certeza no ar: o Chega que está em Santarém quer mostrar-se como um partido com "maturidade", que pensa com consistência no futuro do país em vez de estar enredado em lutas intestinas, que tem soluções para os problemas – pelo menos diz que as tem, embora não as explicite –, e onde já cheira a poder.

O poder que advirá das regionais da Madeira e dos Açores e das europeias do próximo ano. José Pacheco, o líder açoriano que até tratou Ventura por "futuro primeiro-ministro", foi directo: "Se querem um exemplo de geringonças, se fazem acordos, eu falo com vocês. Os Açores são um bom exemplo. Quando lidamos com pessoas sérias tudo corre bem; quando começamos a lidar com aldrabões, tudo corre mal. (...) Eu não discuto pessoas, eu discuto políticas. Mas esta coisa de levar meninos ao colo não é para mim."

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Convenção do Chega em Santarém, este sábado Paulo Pimenta

Antes, foram deixados recados por vozes de peso do partido. O primeiro vice-presidente António Tânger Correa, veio deixar três "mensagens fundamentais para dentro do partido": "Deixar de jogar à defesa, contrapondo argumentos nas conversas privadas sem ser agressivos mas sendo assertivos", como sobre o "mito" de que o Chega é o partido de um homem só; contrariar a ideia de que o Chega é um partido de extrema-direita – "é mentira; a extrema-direita não existe" –, mas antes um partido radical porque acredita nas suas ideias e as "defende de forma radical até ao fim"; apostar nas eleições europeias para poder ter presença internacional.

Ter voz na Europa

Tânger Correa não se coibiu mesmo de deixar outros recados. Lamentou a falta de juventude na convenção e avisou que os militantes têm que "sair do sofá e ir para a rua", como têm feito os professores, os agricultores e os defensores dos animais. "Não se ganham eleições aqui sentados." E as europeias serão "as mais importantes", em que o partido conta ter a "maior votação de sempre".

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Paulo Pimenta

"Se pensam que aquilo no Parlamento Europeu é um sítio onde estão lá uns tipos sentados e umas miúdas, que não fazem a ponta de um chavelho, e que estão ali a ganhar uns cobres a mais... estão muito enganados. Há-os assim, também os há no nosso Parlamento e muitos, tirando o nosso grupo parlamentar."

O antigo diplomata salientou que o Chega "tem que ser alguém a nível internacional. Um partido só é grande se tiver presença internacional. A nossa voz tem que ser ouvida na Europa. E vamos fazer com que isso aconteça porque, ao contrário dos outros partidos, temos gente capaz, com experiência, com capacidade internacional suficiente para representar o Chega e Portugal." Até se auto-citou num comício no São Luiz em Novembro de 1974: "Porque somos os melhores, porque somos os mais patos, porque somos os mais puros, venceremos!"

Com ou sem "geringonça"?

Antes disso, o líder da concelhia de Gaia, Jorge Pereira, defendera: "A participação do Chega num futuro governo de Portugal deve ser efectiva: nada de 'geringonças' à direita; queremos ministérios que nos permitam alterar o rumo que o país tem seguido."

O líder parlamentar Pedro Pinto – um dos assinalados como "12 guerreiros" nas imagens dos deputados do Parlamento que passam em loop nos ecrãs do palco –, defendeu a queda do Governo porque o Chega não tem "medo de chegar ao poder e governar". Apoia-se nas sondagens que "dizem que não haverá governo à direita sem o Chega", mas promete: "Não nos venderemos ao PSD; nunca perderemos as nossas bandeiras e ADN. Vamos negociar, sim, mas não nos venderemos."

Já Diogo Pacheco de Amorim, o ideólogo do partido e que ocupou a cadeira de Ventura durante um mês no Parlamento, quando o líder era ainda deputado único, deixou uma mensagem parecida, mas mais vincada e falou como se tivesse permissão do presidente: "Nós não vamos participar numa nova 'geringonça' de direita. Que fique claro: Não somos nem seremos os porteiros da IL. Não vamos ser o capacho de ninguém. Nós vamos estar no governo com as pastas que entendermos que são as necessárias. Isto é o que temos a dizer aqui e em todo o lado. E é o que o nosso presidente sempre tem dito. Aqui o reafirmo."

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