Ventura quer o Chega a liderar oposição nas próximas legislativas e “preparado para governar”

Chega reúne-se em convenção este fim-de-semana em Santarém. André Ventura quer chegar aos 30% e ultrapassar o PSD nas próximas legislativas.

A abertura da convenção foi atrasada uma hora por falta de quórum.
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A abertura da convenção foi atrasada uma hora por falta de quórum Paulo Pimenta
PP - 27 JANEIRO 2023  - SANTAREM - CONVENSAO DO CHEGA PULICO
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Delegados reúnem-se para eleger de novo o presidente e os restantes órgãos do partido Paulo Pimenta
PP - 27 JANEIRO 2023  - SANTAREM - CONVENSAO DO CHEGA PULICO
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André Ventura é o único candidato que vai a votos no sábado para a presidência. Paulo Pimenta

O calendário e as metas estão estabelecidas: André Ventura quer "ultrapassar o PSD e liderar a oposição" nas próximas eleições legislativas, chegando aos 30%, e "preparar o partido para ser Governo". A quem diz que os quatro anos na presidência do partido são muito tempo avisa: acabou de fazer 40 anos, ainda tem "energia e força" para continuar a liderar o partido e ir-se embora seria "cobardia política".

André Ventura, que abriu a convenção que o partido realiza em Santarém até domingo com uma hora de atraso por falta de quórum, não se cansou de enaltecer os resultados do Chega que, em dois anos e meio, passou de um deputado para doze, conseguiu algumas centenas de eleitos nas autárquicas, ajudou a tirar a maioria absoluta ao PS nos Açores, e roça agora os 14% nas sondagens, como aconteceu esta semana. "Com quase 15% nas sondagens é absurdo querer mudar de liderança", vincara aos jornalistas ao chegar às instalações do centro de exposições onde se realiza a reunião.

Foi, aliás, a traçar o que classificou de história de "sucesso" do partido que começou a falar às cerca de 400 pessoas presentes, mas também a queixar-se do tratamento que recebe dos outros partidos. "Ostracizaram-nos, humilharam-nos e espezinharam-nos", descreveu, para fazer o auto-elogio da "coragem" que só o Chega tem por ser o único partido a "enfrentar António Costa sem medo".

"É isto que temos de fazer: ir à luta, não nos perdermos nos jogos internos, sermos a única oposição a sério e deixá-los entretidos com os cordões sanitários, e que farão acordo ou não farão acordo [com o Chega]. (...) O nosso acordo é só um: com o povo português que se sente enganado há tantos anos."

"Quem não está é porque não tem força política"

Defendendo os resultados "palpáveis" que o partido atingiu — "quem diria que conseguíamos tanto como conseguimos?" — e apoiado no crescimento sustentado nas sondagens, André Ventura vincou que até ao ano passado o Chega procurou "implantar-se" mas agora o desafio é outro: "De 2023 para frente temos de estar preparados para governar."

Num discurso de 25 minutos marcado por muitos aplausos e em que até se cantou os parabéns a Ventura, o líder do partido não se esqueceu dos críticos, mas com poucas palavras. “Quem não está cá, quem não se candidatou, não foi por regras de secretaria. É porque não tem força política neste partido. Com quem decide sempre não participar na vida democrática do país, nós não vamos perder um segundo", apontou.

Ventura procurou apagar a imagem de um líder agarrado ao poder, como o pintam esses críticos internos. "O que será o Chega no futuro? A História é necessariamente limitativa. Nenhum líder fica para sempre. Eu não ficarei para sempre, esta direcção não ficará para sempre, mas eu fiz 40 anos há uma semana...", dizia quando foi interrompido pela plateia que lhe cantou os parabéns. Aproveitou para ironizar que o momento seria aproveitado pelas televisões para dizerem que este é um "partido unipessoal" por até cantarem ao líder.

"O que quero dizer é que ainda me sinto com energia e força para continuar a liderar este partido", explicou. "A meio deste caminho incrível que conseguimos, ir-me embora não era um desprendimento; era cobardia política [sair] (...) depois de termos chegado aqui, de estarmos ali mesmo na curva, quase, quase a ver a terra prometida", afirmou como que numa alusão à saída de João Cotrim Figueiredo da presidência da Iniciativa Liberal. "

“A ambição que tenho para o partido não é só ganhar as eleições de amanhã (…) O desafio de domingo para a frente é muito maior”, apontou, marcando as regionais da Madeira como primeiro objectivo para atingir a maioria do PSD na região. O seguinte são as europeias, em 2024, onde quer ter “o melhor resultado da história” do partido.

"Temos de fazer mais cá dentro, mas o meu objectivo enquanto presidente nunca será só vencer um congresso. Aquilo que eu estabeleço como meta é um dia termos a força de ganharmos este país. E é por isso que me candidato: para ganharmos Portugal", haveria de rematar André Ventura no final do discurso.

"Lutar para liderar a oposição"

Com a oposição interna impedida de participar devido à alteração de regras para a eleição de listas de delegados, Ventura tentou passar a imagem de coesão pedindo a união de todos para "alcançar o sonho" de quebrar o ciclo de bipartidarismo PS/PSD.

"Este partido não nasceu para protestar; nasceu para apupar e denunciar, mas nasceu e tem uma vocação estrita para governar Portugal. Por isso temos dito que não aceitaremos nenhuma solução em que a nossa missão seja levantar e baixar o braço no Parlamento. Nós só queremos uma solução: aquela em que sejamos responsabilizados pelo governo de Portugal", defendeu André Ventura.

"Esse caminho, que muitos acham que tem de ser de entendimentos e de coligações — e eu compreendo porque é um cenário que mais facilmente é desenhável — (...) tem de ser um sonho em que [o partido] tem de acreditar" para o conseguir concretizar. Até porque, elogiou, um dos deputados do Chega "vale por cada vinte do PSD" e, por isso, Ventura acredita que se as sondagens hoje falam em 14%, o partido pode chegar aos 20% e "talvez Deus e o destino dêem a sorte" para chegar aos 30% e "dar mesmo uma volta ao país".

É essa meta a que Ventura se propõe levar o partido na moção de estratégia que vai levar à convenção para justificar a sua candidatura à presidência, cuja eleição se realiza neste sábado à tarde.

"Não vos posso prometer que venceremos as legislativas. Gostava, mas não posso. Posso prometer-vos que lutaremos para lá chegar; não vos envergonharemos em nenhuma eleição que vamos travar. Nos momentos piores há um responsável que será sempre o presidente do partido. Cá estaremos para assumir essa responsabilidade e lutaremos para liderar a oposição em Portugal."

André Ventura procurou marcar a posição do Chega no espectro político realçando ter sido a "primeira direita a defender" causas como as "lutas dos polícias, dos profissionais de saúde, dos professores e dos que têm salários miseráveis"." outra direita [o CDS] dizia que isso era para a esquerda. "Por isso desapareceram do Parlamento e continuem todos os dias a perder votos." A isso, somou a "luta contra a subsidiodependência", contra a "esquerda bafienta" de que as repreensões de Augusto Santos Silva são "uma medalha".

O regresso de "Deus, Pátria e Família" e os ataques aos jornalistas

Após o discurso de André Ventura, abriu-se espaço para intervenções de cerca de 20 militantes. Entre eles, deputados — como Pedro Frazão, Jorge Galveias ou Rui Paulo Sousa —, assessores — como Manuel Matias — e caras menos conhecidas. O lema “Deus, Pátria e Família”, trilogia defendida por Salazar, foi repetido duas vezes: uma por Manuel Matias, outra pelo militante Luís Fernandes, que lhe acrescentou o “trabalho” (como André Ventura já havia feito no congresso de Viseu).

A primeira intervenção coube a Rui Paulo Sousa, o até agora secretário-geral, que evidenciou que o que o Chega conseguiu até agora se deve às “ajudas financeiras”, deixando no ar um pedido para o reforço financeiro do partido. “Tudo isto não seria possível sem os apoios dos nossos militantes, que contribuíram, na medida do possível, para as contas do partido”, afirmou, pedindo à sala palmas e recebendo-as.

O restante das intervenções centrou-se em ataques ao PS, aos jornalistas e a António Costa. O orgulho pela dimensão eleitoral que o Chega atingiu — “somos a terceira força política!” — e a convicção de que um dia Ventura vai governar o país foram sentimentos partilhados pela maioria dos que subiram ao palco. Houve lágrimas e gritos: “André vai em frente tens aqui a tua gente!”, ouviu-se em uníssono. E até houve quem trouxesse uma gravata preta para ironizar sobre o anúncio da saída de Nuno Afonso, o número dois do partido. Com Henrique Pinto de Mesquita

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