Rússia diz-se “pronta” a cortar laços com a UE se forem impostas novas sanções

Lavrov admite que o caminho pode passar por corte de relações. Alemanha considera declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros russos “desconcertantes e incompreensíveis”.

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Lavrov durante a conferência de imprensa conjunta com Borrell, em Moscovo EPA

Uma semana depois de ter afirmado que a União Europeia “não pode ser tratada como um parceiro de confiança” – com o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, a ouvir, impassível, a seu lado, em Moscovo – Serguei Lavrov afirma que, face à probabilidade de serem impostas novas sanções contra a Rússia devido à prisão do opositor Alexei Navalny, o país está pronto a cortar relações com Bruxelas. As declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros de Vladimir Putin integram uma entrevista que será transmitida esta sexta-feira – alguns excertos já foram divulgados no site do Ministério.

“Estamos a avançar na direcção de um corte com a União Europeia?”, pergunta o entrevistador do programa televisivo Solovyov Live, do influente Vladimir Solovyov. “Partimos do facto de que estamos prontos [para isso]. Caso voltemos a ter sanções impostas em alguns sectores que criam riscos para a nossa economia, incluindo nas áreas mais sensíveis”, responde Lavrov. “Não nos queremos isolar da vida global, mas temos de estar prontos para isso. Se se quer paz então é preciso preparar para a guerra.”

“Estes comentários são realmente desconcertantes e incompreensíveis”, afirmou uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão numa conferência de imprensa em Berlim. “Só posso sublinhar isso”, acrescentou o porta-voz do Governo, Steffen Seibert.​

Na terça-feira, quando Borrell esteve no Parlamento Europeu a ouvir muitas críticas à sua viagem a Moscovo, várias vozes defenderam uma mudança na abordagem estratégica da UE e a imposição de sanções direccionadas ao topo da estrutura do poder russo. O que mais enfureceu os dirigentes dos países da União e muitos eurodeputados foi o anúncio da expulsão de diplomatas alemães, polacos e suecos durante a vista de Borrell, sem que o representante europeu fosse sequer informado. A Rússia diz que os diplomatas tinham participado em protestos a pedir a libertação de Navalny.

Segundo três diplomatas europeus ouvidos na quinta-feira pela agência Reuters, Bruxelas deverá impor a proibição de viagens e congelar bens de aliados do Presidente Putin, possivelmente já este mês, depois de Paris e Berlim terem afirmado que tem de haver uma resposta a Moscovo. Em Outubro, depois do envenenamento de Navalny, a UE aprovou um primeiro pacote de sanções contra a Rússia.

Numa outra entrevista, ao jornal Izvestia, o representante permanente da Rússia na UE, Vladimir Chizhov, diz, por seu turno, que a visita de Borrell foi a sinal positivo da disponibilidade europeia para negociar e que as conversações entre o país e o bloco vão prosseguir.

Ora o comportamento de Lavrov na presença de Borrell foi visto precisamente como sinal de que a Rússia “não está interessada no diálogo, bem nas áreas em que a cooperação pode ser de interesse comum e global”, como afirmou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. “O Governo russo está numa preocupante rota autoritária”, disse o próprio Borrell perante os eurodeputados, defendendo que “os próximos passos” devem incluir sanções e afirmando que vai “avançar com propostas concretas”.

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