Jimmy Kimmel jura que não está na lista de Epstein e ameaça processar estrela da NFL

Lista de nomes ligados ao magnata que tinha um esquema de tráfico sexual está prestes a ser conhecida. Suspeita lançada sobre anfitrião do famoso talk show pode acabar em tribunal.

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“As suas palavras imprudentes põem a minha família em perigo”, escreveu Kimmel DR

Um jogador da liga norte-americana de futebol (NFL), o quaterback Aaron Rodgers, dos New York Jets, sugeriu que o nome do apresentador do talk show nocturno de elevadas audiências Jimmy Kimmel está numa lista de mais de 150 personalidades, que terão sido citadas ao longo de um processo que envolveu os crimes de Jeffrey Epstein, que mantinha um esquema de tráfico sexual de menores. “Há muita gente, incluindo Jimmy Kimmel, que espera que isso não se saiba”, disse, na terça-feira, no Pat McAfee Show da ESPN.

Kimmel, que já satirizou Rodgers no seu programa devido à sua posição antivacinação, recorreu à rede social X (ex-Twitter) para garantir que o lançamento da suspeita não será ignorado, avisando que pondera interpor uma acção contra o jogador. E, claro, recusa veemente a presença do seu nome na referida lista: “Para que conste, não conheci, não viajei de avião, não visitei, nem tive qualquer contacto com Epstein, nem encontrará o meu nome em qualquer ‘lista’ que não seja o disparate claramente falso que os malucos de cérebro mole como você parecem não conseguir distinguir da realidade.” E destaca: “As suas palavras imprudentes põem a minha família em perigo.”

A Internet, porém, não tardou a encontrar uma ligação entre Epstein e Kimmel: um vídeo que mostra o apresentador a confraternizar com o chef pessoal do empresário, com a legenda “Jimmy Kimmel e o seu amigo Adam Perry Lang, que foi chefe de cozinha pessoal de Jeffrey Epstein durante anos”, e que depressa se tornou viral. Teorias da conspiração à parte, não há qualquer indício de que, por essa razão, o apresentador conhecia o financeiro.

A polémica está relacionada com a divulgação dos nomes que foram citados ao longo do processo de Virginia Giuffre contra Ghislaine Maxwell, acusada de facilitar os crimes de Epstein, que se suicidou na prisão em 2019, numa altura em que personalidades sonantes já tinham sido associadas às suas actividades, nomeadamente o príncipe André de Inglaterra ou o então secretário do Trabalho, Alexander Acosta dos EUA, que se demitiu​.

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Jeffrey Epstein foi detido a 8 de Julho de 2019 por tráfico sexual e conspiração; suicidou-se cerca de um mês depois EPA/JASON SZENES

A 18 de Dezembro, um juiz assinou uma ordem para a divulgação pública das identidades de mais de 150 pessoas mencionadas nesse processo civil de 2015, já findo. Maxwell está a cumprir uma pena de 20 anos de prisão por ter ajudado Epstein a recrutar e a abusar sexualmente de raparigas menores de idade.

Ao longo desta terça-feira, era esperada a divulgação da lista, mas um recurso interposto por uma “Jane Doe” (designação usada para anónima) poderá adiar a sua publicação até ao próximo dia 22. Isso não significa que faltem suspeitas.

Investigações do The Wall Street Journal (WSJ) ou do New York Times (NYT) já resultaram numa compilação de identidades de pessoas da alta sociedade: entre nomes já relacionados e outros, que, anteriormente, não tinham surgido nos registos de voo do jacto privado Lolita ou nas anotações do próprio Epstein.

Bill Gates

Eis um nome que não será uma novidade: a associação entre ambos foi amplamente falada, sobretudo depois de ser conhecido o divórcio de Melinda. Mas, segundo o Wall Street Journal, o que os ligava também era a chantagem — dado que o próprio Gates viria a confirmar. Epstein tinha conhecimento de um caso extraconjugal do multimilionário (com a jogadora de bridge Mila Antonova no início da década de 2010) e usou esse facto para tentar obter dinheiro do co-fundador da Microsoft. “Epstein tentou, sem sucesso, aproveitar-se de uma relação passada para ameaçar o senhor Gates”, confirmou um porta-voz de Bill Gates à revista People.

Príncipe André

Foi um dos primeiros a cair depois de conhecidas as suas ligações a Epstein. Mas, um documentário de 2023 (Secrets of Prince Andrew, da A&E) vai mais longe e descreve os dois como melhores amigos, recordando uma visita de André à ilha privada de Epstein, em 2000, onde o magnata instruiu uma jovem a ter sexo com o monarca, segundo o testemunho da modelo Lisa Phillips, que estava no local. Paralelamente, Epstein e Ghislaine eram presenças constantes nas propriedades da família real (e até em eventos privados da família). O biógrafo real Andrew Lownie avalia no documentário que “Epstein e Ghislaine foram convidados para o coração da monarquia britânica”. Sobre André, diz Lownie, Epstein terá declarado: “Só há uma pessoa que gosta mais de sexo do que eu, e essa pessoa é o André.”

Bill Clinton

Durante o julgamento de Maxwell, várias testemunhas relataram que na casa de Palm Beach, na Florida, havia fotografias de Epstein com Fidel Castro, ao lado do Papa João Paulo II, ou com Bill Clinton, quando visitou o então Presidente na Casa Branca. De acordo com o Daily Mail, Epstein esteve 17 vezes na Casa Branca durante o primeiro mandato do democrata, entre 1993 e 1997.

Vera Wang

A designer terá sido um nome usado por Epstein para atrair raparigas fascinadas com o mundo da moda. Vera Wang defendeu-se, declarando: “Nunca soube que ele estava a usar o meu nome em qualquer circunstância.”

Naomi Campbell

A modelo não nega ter conhecido o magnata, mas, tal como a designer Vera Wang, afirma que desconhecia que Epstein usava o seu nome como isco para quem pretendia entrar na carreira. “Ela lamenta profundamente ter tido qualquer contacto com Epstein após a sua condenação”, disse uma porta-voz de Naomi Campbell ao WSJ.

Robert Kennedy Jr.

O candidato presidencial Robert Kennedy Jr. admitiu, numa entrevista à Fox News, que viajou duas vezes no avião particular de Jeffrey Epstein, mas ressalvou tê-lo feito em família: primeiro, na Páscoa de 1993, com Emily Ruth Black, que, segundo o político, tinha uma relação com Ghislaine Maxwell; e, mais tarde, com Mary Richardson e os filhos “para ir à caça de fósseis no Dacota do Sul”. Só que, escreve a New York Magazine, os registos dos voos não coincidem com o testemunho do candidato independente.

William Burns, director da CIA

De acordo com os documentos judiciais, Burns recebeu Epstein por três vezes, numa altura em que era o vice-secretário de Estado de Obama. A porta-voz da CIA, Tammy Kupperman Thorp, divulgou uma declaração negando que Burns tivesse qualquer relacionamento com Epstein: “Não sabia nada sobre ele, a não ser que ele foi apresentado como um especialista no sector de serviços financeiros.”

Noam Chomsky

O filósofo e cientista cognitivo foi procurado por Epstein, em 2015, quando o primeiro dava aulas no MIT, instituição à qual o magnata teria doado centenas de milhares de dólares. Além de reuniões, sabe-se que voou no Lolita, rumo a Nova Iorque, para jantar com o empresário, com o realizador Woody Allen e a mulher deste, Soon-Yi Previn. Mas, questionado sobre o envolvimento, o académico foi peremptório: “Não têm nada a ver com isso.” E, acrescentou ao WSJ, que apenas sabia que Jeffrey Epstein tinha sido condenado por um crime e tinha cumprido a sua pena. “De acordo com as leis e normas norte-americanas, isso dava-lhe um passado limpo.”

Ehud Barak, antigo primeiro-ministro de Israel

O político israelita era visita regular da propriedade nova-iorquina de Epstein, entre 2013 e 2017, onde havia “frequentemente outras pessoas interessantes, da arte ou da cultura, do direito ou da ciência, das finanças, da diplomacia ou da filantropia”. Nesses encontros, garantiu, nunca houve “raparigas menores ou mesmo mulheres adultas em contextos ou comportamentos impróprios”.

Tom Barrack

Aliado próximo de Donald Trump, conheceu Epstein ainda durante a década de 1980, tal como o ex-presidente norte-americano. Mas foi em 2016 que foi convidado a visitar a casa do financeiro. Entre os convivas estavam o embaixador russo nas Nações Unidas, Vitaly Churkin e Woody Allen.

Woody Allen

De acordo com uma série de documentos, Woody Allen, acusado de abuso sexual de menores pela filha adoptiva Dylan Farrow (alegações que nunca foram provadas), encontrava-se regularmente com o vizinho Jeffrey Epstein, mesmo depois de o financeiro ter cumprido pena de prisão por solicitar para prostituição uma jovem com menos de 18 anos. O WSJ encontrou registos de encontros entre os dois homens pelo menos uma vez por mês ao longo de 2014 e 2015.

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