Supermodelo Naomi Campbell criticada por colaborar com marca de fast fashion

A britânica justifica a parceria com a PrettyLittleThing como uma forma de apoiar criadores emergentes e desvaloriza as críticas. “Vejo-me como uma agente da mudança”, defende.

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Naomi Campbell no Met Gala deste ano REUTERS/Pool
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A supermodelo Naomi Campbell tem estado debaixo de fogo nas últimas semanas, depois de ter anunciado uma parceria com a marca britânica de fast fashion PrettyLittleThing. Os fãs questionam-se por que motivo uma das mulheres mais requisitadas do mundo da moda se associou a uma etiqueta que está longe de ser sustentável. “Isto é honestamente horrível. Podia ter escolhido qualquer marca no mundo”, critica um seguidor, no Instagram.

Foi uma das supermodelos originais e mais requisitadas na década de 90 do século passado. Em Milão, Nova Iorque ou Paris, desfilou para as casas de moda mais exclusivas. Foi rosto da Fendi, da Prada ou da Saint Laurent. O currículo de Campbell faz, por isso, com que a mais recente colaboração com a PrettyLittleThing seja uma surpresa.

As peças vão ser apresentadas, nesta terça-feira, com um desfile, em Nova Iorque, a poucos dias de arrancar a Semana da Moda na cidade norte-americana. Os preços da colecção são bem mais acessíveis do que Naomi Campbell estaria habituada na moda de luxo — os artigos variam entre os 10 e os 140 euros.

Face às críticas dos fãs nas últimas semanas, a supermodelo tem procurado explicar-se em algumas entrevistas. “Vejo-me como uma agente da mudança. Sei que é fast fashion e que as pessoas têm críticas. Mas, enquanto agente da mudança, achei que era uma maneira fantástica de fazer a diferença na indústria ao reconhecer criadores emergentes, colocando-os numa plataforma global”, justificou à revista WWD.

A colecção, que inclui peças como vestidos acetinados, macacões de alfaiataria ou uma gabardina em napa, foi desenhada em parceria com os jovens designers Edvin Thompson e Victor Anate, apadrinhados por Campbell. Trazê-los para a PrettyLittleThing é uma forma de lhes dar uma “oportunidade” e deixar “as coisas evoluírem”, para que, quem sabe, possam fazer moda mais sustentável no futuro, diz à revista W. “Acredito que podem fazer a diferença, mas precisam da oportunidade.”

Campbell não se dá a hipocrisias e não tenta negar que a marca britânica produz roupa de forma massificada e com pouca qualidade, com recurso a mão-de-obra barata, mas coloca a tónica das críticas noutra perspectiva: “Há tantas marcas de fast fashion por aí — as pessoas dizem alguma coisa quando as outras modelos trabalham com elas? Dizem alguma coisa quando as modelos caucasianas trabalharam com marcas de fast fashion em colaborações?”

Além disso, diz não ter tempo para responder a críticas. “Tenho dois filhos, dois bebés para cuidar. Tenho um compromisso e fiz o que queria fazer. Quero colaborar com jovens designers”, declara. Naomi foi mãe pela segunda vez em Junho deste ano, aos 53 anos.

Parte da polémica também se deve ao historial da empresa de moda detida pelo grupo Boohoo. Em 2020, uma investigação do The Guardian revelou que a empresa vendia roupas fabricadas por paquistaneses pagos apenas 29 cêntimos por hora — feitas também a partir de poliéster não reciclado, um material que demora até 200 anos a decompor-se.

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A Boohoo é dona da PrettyLittleThing Dado Ruvic/reuters

Em reposta, a empresa publicou um novo plano de sustentabilidade onde promete, até 2025, que todo o poliéster e algodão serão reciclados ou “mais sustentáveis”. “Estamos comprometidos em garantir que todos os funcionários a produzir a nossa roupa recebem, pelo menos, o salário mínimo e não trabalharemos com fornecedores que não obedeçam a este compromisso”, reiteraram em comunicado, citado pelo The Telegraph.

As polémicas de Campbell

Desconhece-se qual será o valor do acordo estabelecido entre Campbell e a PrettyLittleThing, mas esta polémica está longe de ser a única no currículo da britânica. Em 2021, a associação Fashion For Relief, fundada pela própria, foi investigada por alegações de má gestão dos fundos angariados para apoiar crianças em situação de pobreza.

A supermodelo sempre negou todas as acusações de que estaria a usar o dinheiro de forma inapropriada. Aliás, assegurava ao The Guardian, nunca recebeu qualquer salário pelo trabalho na associação. A página da associação no Instagram não tem qualquer publicação desde 2020, deixando a dúvida se o projecto continua em funcionamento.

Em Novembro do ano passado, também foi criticada por ser anfitriã de um desfile de moda no Qatar. Nas Mohamed, o primeiro homem a assumir-se gay naquele país, acusou Naomi de “inconsistente” para com o apoio que tem dado à comunidade LGBTI durante décadas — “quer ter tudo”, escreveu nas redes sociais, cita o The Telegraph. Uma vez mais, Campbell defendeu-se lembrando que estar em sítios como o Qatar é “essencial para uma mudança positiva”.

A par da nova colaboração, a supermodelo tem a agenda de trabalho preenchida. Há um ano, anunciou que seria a nova embaixadora da Hugo Boss, ao mesmo tempo que continua a fazer capas de revistas em todo o mundo. Em Agosto, foi fotografada com as colegas Cindy Crawford, Christy Turlington e Linda Evangelista para a Vogue britânica, a propósito também da estreia do documentário The Super Models, com estreia agendada para 20 de Setembro.

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