Ghislaine Maxwell pediu desculpa, mas “conduta hedionda” resultou numa sentença de 20 anos

“[A arguida] participou em alguns dos abusos; a sua conduta foi hedionda e predatória”, avaliou a juíza Alison Nathan antes de proferir a sentença.

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Ghislaine Maxwell foi multada ainda em 750 mil dólares Reuters/JANE ROSENBERG

Ghislaine Maxwell, antiga socialite britânica, condenada por crimes de tráfico sexual, incluindo de menores, cumprirá o máximo da pena a que foi prevista pela magistrada norte-americana: 20 anos. Findo esse tempo, a ex-namorada e funcionária de Jeffrey Epstein permanecerá durante mais cinco anos sob observação.

Depois de ter decidido, a favor da defesa, que a sentença seria determinada por directivas de 2003, o que colocava a pena entre 15 anos e cinco meses e 19 anos e cinco meses, a juíza Alison Nathan ouviu os depoimentos das vítimas, inclusive de mulheres que não testemunharam durante o processo apresentado a tribunal no fim do ano passado (nomeadamente o depoimento escrito de Virginia Giuffre), e ambas as equipas de advogados. No fim, escutou as palavras de Ghislaine Maxwell, naquele que foi o primeiro depoimento da arguida.

“Tenho uma profunda empatia por todas as vítimas neste caso”, começou Maxwell por dizer, considerando a associação com Epstein como “uma mancha”. “Tê-lo conhecido é o maior arrependimento da minha vida.”

“Acredito que Jeffrey Epstein enganou todos aqueles que se encontravam na sua órbita”, continuou. “As suas vítimas consideravam-no um mentor, amigo, amante. Era Jeffrey Epstein que deveria ter estado perante vós. Em 2005. Em 2009. E novamente em 2019. Mas hoje cabe-me a mim ser condenada.”

A ex-namorada do investidor financeiro, que facilitou os encontros, recrutou raparigas e participou em actividades sexuais com menores, declarou “sentir muito pela dor” das vítimas. “Espero que a minha condenação e a minha dura pena vos traga paz e o ponto final necessário. Espero que esta data traga um capítulo terrível ao seu fim.”

As palavras de Ghislaine Maxwell, porém, não desencadearam a clemência da juíza que a equipa jurídica da britânica tinha pedido. Pelo contrário, Nathan esclareceu que “a senhora Maxwell não está a ser punida como representante de Epstein, mas sim pelo seu papel na conduta criminosa”. “Participou em alguns dos abusos; a sua conduta foi hedionda e predatória.”

No fim, a magistrada condenou Ghislaine Maxwell a 20 anos de prisão efectiva e a mais cinco de liberdade condicional. Paralelamente, a juíza impôs o pagamento de 750 mil dólares (713 mil euros). Os advogados da britânica pediram que a mulher cumpra a sua sentença em Danbury, Connecticut.

Ghislaine Maxwell, de 60 anos, foi julgada depois de ter sido acusada de ser cúmplice de Jeffrey Epstein na exploração e abuso sexual de menores. No entanto, no decorrer do julgamento, realizado no fim do ano passado, Maxwell acabou por ser descrita como tendo uma participação activa nos abusos.

Jeffrey Epstein (nascido em 1953, em Brooklyn, Nova Iorque) foi um magnata norte-americano, multimilionário e muito influente no meio político e mediático norte-americano, com ligações a personalidades como os ex-presidentes norte-americanos Bill Clinton e Donald Trump ou o príncipe André do Reino Unido. Tanto que, em 2008, depois de ter sido acusado, dois anos antes, de tráfico sexual de menores, crime que o poderia ter levado a enfrentar uma dura pena, apenas passou 13 meses numa ala privada de uma cadeia na Florida. E saía seis dias por semana para trabalhar no gabinete que mandou construir nas proximidades. Um tratamento especial para um suspeito de crimes sexuais, e com ficha de agressor sexual na polícia, que chegou ao fim, em 2019, com uma segunda acusação de tráfico sexual de menores, desta vez no estado de Nova Iorque.

Epstein foi detido, acusado de gerir uma rede de angariação de raparigas menores, muitas entre os 14 e os 16 anos, para serem abusadas sexualmente nas mansões que possuía em Nova Iorque e em Palm Beach, na Florida. De acordo com a acusação, o investidor pagava a uma rede de colaboradores para recrutarem adolescentes em centros comerciais, escolas ou festas. Os alvos preferidos seriam jovens com graves problemas familiares, pobres e desprotegidas, que poderiam cair na armadilha da proposta de 200 ou 300 dólares em troca de fazerem uma massagem ao magnata. As vítimas aceitavam e acabavam por ser levadas para um quarto onde Epstein esperava por elas, vestido apenas com uma toalha. Depois, o magnata pressionava as adolescentes a fazerem sexo em troca de mais dinheiro ou de promessas de carreira no cinema e de inscrição em universidades.

A prisão de Epstein, a 6 de Julho de 2019, fez suar pessoas importantes nos EUA. Pouco mais de um mês depois, a 10 de Agosto, foi encontrado morto na cela de uma prisão de segurança máxima em Manhattan, Nova Iorque. O multimilionário apresentava sinais de “suicídio por enforcamento”, causa que viria a ser confirmada pelo relatório oficial da autópsia. Horas antes da morte, tinham sido revelados centenas de documentos com detalhes sobre as acusações de tráfico sexual de menores de que Epstein era alvo desde 2005, nomeadamente nomes que estariam envolvidos nos seus esquemas, como o do antigo governador do Novo México Bill Richardson e do antigo senador norte-americano George Mitchell.

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