Bill Gates volta a Jeffrey Epstein para acusar magnata falecido de chantagem

Um alegado caso extraconjugal do co-fundador da Microsoft com uma jogadora de bridge terá sido usado pelo financeiro.

Foto
Bill Gates: "Foi um grande erro despender tempo [com Jeffrey Epstein]" Justin Tallis//Pool via REUTERS/arquivo
Ouça este artigo
--:--
--:--

“Epstein tentou, sem sucesso, aproveitar-se de uma relação passada para ameaçar o senhor Gates.” A declaração de um porta-voz de Bill à revista People confirma a história avançada pelo Wall Street Journal (WSJ), em que se denuncia a intenção do magnata caído em desgraça de chantagear o co-fundador da Microsoft com um alegado caso com uma jogadora de bridge russa.

De acordo com o WSJ, Epstein, que foi encontrado morto na sua cela, em Agosto de 2019, enquanto aguardava julgamento por tráfico sexual, enviou um e-mail a Bill Gates, em 2017, aludindo a uma relação com Mila Antonova para obter financiamento. O texto dá conta que Gates, um apaixonado pelo jogo de cartas, conheceu a jogadora em 2009, quando ambos se confrontaram num torneio. Na época, o multimilionário era casado.

Anos mais tarde, Mila Antonova conheceu Epstein durante as suas diligências em busca por um financiamento de meio milhão para um negócio online. Nessa altura, o magnata optou por não investir, mas, mais tarde, quando a mulher decidiu dedicar-se à programação, “Epstein concordou em pagar e pagou directamente à escola”, revelou em declarações ao WSJ, ressalvando que, na época, “não fazia ideia de que ele era um criminoso ou que tinha segundas intenções”. Já sobre Gates, a russa preferiu não fazer comentários.

A missiva de Epstein citada pelo WSJ pedia a Gates o reembolso do dinheiro que teria gastado a pagar o curso de codificação de software a Mila Antonova, sugerindo que, se Gates não colaborasse a sua ligação à jogadora poderia tornar-se pública. Ao que o WSJ apurou, nenhum pagamento foi concretizado. “O senhor Gates nunca teve qualquer relação financeira com Epstein”, acrescentou o porta-voz em declarações à People.

“Um erro”

Mas os encontros entre os dois homens tiveram consequências. Na altura em que Bill e Melinda Gates anunciaram o milionário divórcio, depois de 27 anos de matrimónio, o WSJ revelou que a mulher terá começado a reunir-se com os seus advogados para tratar do fim da relação um ano antes, precisamente no dia a seguir a ter vindo a público uma série de nomes sonantes que estariam entre as relações próximas do magnata norte-americano: o príncipe André, do Reino Unido, o antigo governador do Novo México Bill Richardson e o ex-senador norte-americano George Mitchell, entre outros.

Na altura, eram conhecidos encontros entre os dois homens ao longo dos anos, e num desses, em 2013 (ou seja, cinco anos depois de Epstein ter sido condenado por solicitar sexo a uma menor), é referido que Gates voou com o financeiro no jacto privado deste, de New Jersey para Palm Beach. O interior do jacto, baptizado de Lolita Express, terá sido adaptado para proporcionar maior conforto aos encontros sexuais do seu proprietário e convidados, nomeadamente com a inclusão de um piso almofadado, contaram duas mulheres que viajaram na aeronave à Vanity Fair​.

De acordo com uma ex-funcionária da Fundação Bill & Melinda Gates, ouvida na altura pelo WSJ, a preocupação de Melinda com o relacionamento entre os dois homens datava desses tempos, e terá dito ao marido, depois de uma reunião do casal com Epstein, que não se sentia confortável com esta amizade.

No entanto, a gota de água deu-se em Outubro de 2019, dois meses após a morte do financeiro, quando o New York Times noticiou que Gates se tinha encontrado com Epstein em numerosas ocasiões, nomeadamente na casa do último em Manhattan. Nesse mesmo mês, Melinda, conhecida pelo seu esforço por promover o empoderamento feminino e acabar com a desigualdade de género, realizou várias chamadas com os seus conselheiros em que se terá começado a discutir o fim do casamento.

Em Agosto de 2021, numa entrevista com Anderson Cooper, na CNN, Gates admitiu que ele e Epstein encontraram-se em vários jantares, nos quais o filantropo esperava angariar milhares de milhões de dólares para os seus projectos na área da saúde global, mas que esses encontros terminaram quando Gates percebeu que a perspectiva de financiamento “não era uma coisa real”. “Foi um grande erro despender tempo com ele, para lhe dar a credibilidade de eu estar lá”, nessas ocasiões, disse Gates. E acrescentou: “Havia muitos outros na mesma situação que eu, mas cometi um erro.”

Já Melinda French Gates, numa entrevista de 2022 ao programa CBS Mornings, recusou a ideia de o divórcio ter sido causado pelos encontros entre o ex-marido e o financeiro, mas não se coibiu em afirmar que “não gostava” das reuniões entre os dois homens. A mulher adiantou ainda se encontrou com Epstein uma vez, o que foi o suficiente para ter ficado mal impressionada: “Queria ver quem era este homem e arrependi-me desde o segundo em que entrei pela porta. Ele era abominável. Era o mal personificado. Depois disso, tive pesadelos com ele.”

Sugerir correcção
Comentar