João Barrento é o vencedor do Prémio Camões 2023

Ensaísta e tradutor, João Barrento vence a 35.ª edição da distinção que anualmente premeia um autor de língua portuguesa pelo conjunto da sua obra.

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João Barrento publicou já em 2023 Aparas dos Dias - A escrita na ponta do lápis daniel rocha
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Autor de uma vasta obra ensaística e tradutor de literatura de língua alemã, João Barrento foi na tarde desta terça-feira distinguido com o Prémio Camões 2023, que nesta 35.ª edição teve um júri composto pelos académicos Abel Barros Baptista e Isabel Cristina Mateus, a representar Portugal; Cleber Ranieri Ribas de Almeida e Deonísio da Silva, pelo Brasil; Inocência Mata e Dionísio Bahule, respectivamente por São Tomé e Príncipe e Moçambique. Em comunicado, o Ministério da Cultura português salienta que "João Barrento foi reconhecido pelo júri como autor de uma obra relevante e singular em que avultam o ensaio e a tradução literária. Em particular, as suas traduções de literatura de língua alemã, que vão da Idade Média à época contemporânea, e em todos os géneros literários, formam o mais consistente corpo de traduções literárias do nosso património cultural e constituem indubitavelmente um meio de enriquecimento da língua e de difusão em português das grandes obras da literatura mundial", lê-se no comunicado, que cita o júri.

João Barrento nasceu a 26 de Abril de 1940 em Alter do Chão, distrito de Portalegre. Estudou Filologia Germânica na Faculdade de Letras de Lisboa, onde se formou em 1964 com uma dissertação intitulada A Palavra e o Gesto sobre a obra do dramaturgo inglês Harold Pinter. Entre 1965 e 1969 foi Leitor de Português na Universidade de Hamburgo, e depois de 1986 Leitor de Língua Alemã e Docente de Literatura Alemã e Comparada na Faculdade de Letras de Lisboa. De 1986 a 2002 foi professor de Literatura Alemã e Comparada e de História e Teoria da Tradução na Universidade Nova de Lisboa.

O ensaísta publicou já em 2023 o livro Aparas dos Dias - A escrita na ponta do lápis (Companhia das Ilhas), e entre as obras traduzidas e prefaciadas, contam-se três volumes de O Homem Sem Qualidades, de Robert Musil, Fausto e Torquato Tasso, de Goethe, o Jogo das Perguntas ou a Viagem à Terra Sonora, de Peter Handke, A Metamorfose, de Franz Kafka, Cassandra e Medeia, de Christa Wolf, Estou Só e Fora do Mundo, de Robert Walser, O Anjo do Desespero, de Heiner Müller, O Tempo Aprazado, de Ingeborg Bachmann, De Costas para a Janela, Poesia Alemã Contemporânea I e O Negativo dentro de Nós. Poesia Alemã Contemporânea II ou Todos os Poemas, de Friedrich Hölderlin.

João Barrento é ainda especialista na obra da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol, de que é responsável pela divulgação e pelo espólio.

Outros premiados

É o Ministério da Cultura português, através da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), com a colaboração do Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Cultural ​(GEPAC), que organiza, pela parte portuguesa, a atribuição do prémio e cabe à Fundação da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro a organização pelo lado brasileiro.​

Em 2022, o Prémio Camões foi para o ensaísta, romancista, professor, poeta e tradutor brasileiro Silviano Santiago, com mais de 30 obras publicadas (entre elas Ariano Suassuna – antologia comentada, de 1975; De Cócoras, de 1999 e Machado, de 2016, ainda sem edição portuguesa). No ano anterior, a distinção coube à escritora moçambicana Paulina Chiziane, autora de Niketche: Uma História de Poligamia e a primeira mulher africana a receber esta distinção. O diploma foi-lhe entregue em Maio deste ano, numa cerimónia no Picadeiro Real, em Lisboa, pelas mãos do primeiro-ministro António Costa e do embaixador do Brasil em Portugal. A escritora, no seu discurso, defendeu a descolonização da língua portuguesa.

Portugal e o Brasil estavam até 2022 empatados em números de prémios: em 2020 o prémio foi atribuído ao académico português Vítor Manuel Aguiar e Silva, que morreu em Setembro de 2022; e no ano anterior, 2019, o Prémio Camões foi para o escritor brasileiro Chico Buarque, que o veio receber a Portugal, três anos passados sobre a recusa do então Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em assinar o diploma e na véspera das comemorações do 25 de Abril de 2023. No seu discurso, o autor de Leite Derramado homenageou o seu pai, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda.

O Prémio Camões foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1989 e nesse ano foi atribuído ao escritor Miguel Torga (Portugal). Seguiram-se os premiados João Cabral de Mello Neto (Brasil, 1990), Vergílio Ferreira (Portugal, 1992), Rachel de Queiroz (Brasil, 1993) e Jorge Amado (Brasil, 1994).

O prémio Nobel da Literatura José Saramago também o recebeu (Portugal, 1995), bem como Eduardo Lourenço (Portugal, 1996), António Cândido (Brasil, 1998), Sophia de Mello Breyner Andresen (Portugal, 1999), Autran Dourado (Brasil, 2000), Eugénio de Andrade (Portugal, 2001), Maria Velho da Costa (Portugal, 2002), Rubem Fonseca (Brasil, 2003), Agustina Bessa-Luís (Portugal, 2004), Lygia Fagundes Telles (Brasil, 2005).

Nos anos seguintes, o prémio foi entregue a António Lobo Antunes (Portugal, 2007), João Ubaldo Ribeiro (Brasil, 2008), Ferreira Gullar (Brasil, 2010), Manuel António Pina (Portugal, 2011), Dalton Trevisan (Brasil, 2012), Alberto da Costa e Silva (Brasil, 2014), Hélia Correia (Portugal, 2015) e Raduan Nassar (Brasil, 2016), e ao poeta Manuel Alegre (Portugal, 2017).

O Prémio Camões tem um valor associado de 100 mil euros.

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