Sunak diz ao Partido Conservador e aos britânicos que está “preparado para ser radical”

Discurso do primeiro-ministro britânico no encerramento do congresso tory incluiu “decisões difíceis”, como o cancelamento de um troço projectado para a linha ferroviária de alta velocidade.

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Rishi Sunak, líder do Partido Conservador e primeiro-ministro do Reino Unido Reuters/HANNAH MCKAY

Acossado pelo Partido Trabalhista nas sondagens, fragilizado pela guerra entre facções no Partido Conservador e pressionado por antecessores (Liz Truss e Boris Johnson) ou aspirantes ao seu cargo (Suella Braverman), Rishi Sunak usou o discurso de encerramento do congresso dos tories, em Manchester, para dizer aos militantes que vai deitar as cautelas para trás das costas e apostar numa abordagem “ousada” e “radical” até às eleições legislativas, previstas para o próximo ano.

No seguimento de anúncios recentes, como o recuo nas metas de redução de emissões de gases com efeito de estufa no Reino Unido ou o endurecimento da política migratória, o primeiro-ministro e líder do Partido Conservador prometeu tomar “decisões difíceis” e de “longo prazo” tendo em vista um objectivo a que chamou de “futuro mais brilhante”.

“Na próxima eleição, a escolha que a população enfrenta é maior do que a política partidária: queremos um Governo comprometido em tomar decisões de longo prazo, preparado para ser radical face aos desafios e para fazer frente aos interesses instalados? Ou queremos manter-nos quietos e aceitar, calmamente, mais do mesmo?”, questionou Sunak, que, como lhe apontaram os críticos, lidera o partido que governa o Reino Unido desde 2010 e que teve cinco primeiros-ministros diferentes nos últimos 13 anos.

A resposta foi dada pelo próprio no final da sua intervenção: “Seremos ousados, seremos radicais. Enfrentaremos resistência e iremos desafiá-la. Daremos ao país aquilo de que tanto necessita, mas que lhe tem sido negado demasiadas vezes: um Governo preparado para tomar decisões de longo prazo para que possamos construir um futuro melhor para todos. Não tenham dúvidas: chegou a altura de uma mudança. E nós somo-la.”

Uma dessas decisões “difíceis” e “radicais, que já era expectável, foi a confirmação do cancelamento de um troço projectado para a nova linha ferroviária de alta velocidade (HS2), que a levaria, precisamente, até Manchester, no Norte de Inglaterra.

Ciente do desconforto que a opção está a causar junto dos deputados e delegados do Partido Conservador do red wall (“muro vermelho”), o antigo bastião operário trabalhista, particularmente no Centro e Norte de Inglaterra, que votou no “Brexit” em 2016 e nos tories em 2019, e que depositava grandes esperanças nos ganhos que o troço lhes traria, Sunak apressou-se, no entanto, a dizer que o dinheiro poupado com esse recuo da HS2 será devidamente investido na região.

“Iremos reinvestir cada cêntimo – 36 mil milhões de libras (41,6 mil milhões de euros) – em centenas de novos projectos de transportes no Norte, nas Midlands e em todos o país”, prometeu, descrevendo o projecto da HS2 como o “derradeiro exemplo do velho consenso” que, argumentou, sustenta o “statu quo político” britânico.

Com o Partido Conservador longe do Partido Trabalhista nas sondagens – a última sondagem do YouGov para Times, publicada na quinta-feira da semana passada, atribuía 24% das intenções de voto aos tories e 45% aos trabalhistas –, o primeiro-ministro também decidiu dedicar grande parte do seu discurso a criticar Keir Starmer e o Labour, acusando a oposição de não ter ideias.

“O Partido Trabalhista já definiu a sua posição: fazer e dizer o mínimo possível e esperar que ninguém repare. Eles [os trabalhistas] querem tomar o voto das pessoas como garantido e continuar a fazer política da mesma forma de sempre”, atirou.

“É uma aposta na apatia das pessoas”, prosseguiu. “Trata-se de chegar ao poder pelo poder. Resumindo: é tudo aquilo que está errado com a nossa política.”

O congresso anual do Partido Conservador, que durou quatro dias – e que, a par das intervenções de deputados e ministros de renome, teve várias iniciativas à margem do evento principal, como um ambicioso discurso da ex-primeira-ministra e crítica de Sunak, Liz Truss, sobre política económica – era visto como a derradeira oportunidade para o líder do partido e do Governo mostrar aos militantes que é o homem certo para enfrentar Starmer nas legislativas previstas para 2024.

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