Truss reforça favoritismo na corrida à chefia do Governo britânico

Sondagem da YouGov mostra que a ministra dos Negócios Estrangeiros tem uma vantagem de 32 pontos sobre Sunak na eleição interna do Partido Conservador. Ainda assim, a maioria dos militantes acha que o afastamento de Johnson foi um erro.

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A luta pelo cargo de primeiro-ministro do Reino Unido retratada num mural em Belfast (Irlanda do Norte) Reuters/CLODAGH KILCOYNE

Elizabeth Truss está muito perto de ser eleita líder do Partido Conservador e próxima primeira-ministra do Reino Unido. De acordo com uma sondagem da YouGov para a Sky News, parcialmente divulgada esta quinta-feira, a actual ministra dos Negócios Estrangeiros do Governo britânico tem uma vantagem de 32 pontos percentuais em relação ao outro candidato na etapa final da corrida ao cargo de Boris Johnson, Rishi Sunak.

Segundo o inquérito, já depois de os dois candidatos terem participado numa série de debates e de acções de campanha, Truss recolhe 66% das intenções de voto dos militantes conservadores, ao passo que o antigo ministro das Finanças se fica pelos 34%, excluindo os indecisos e aqueles que dizem que não vão votar.

Sunak e Truss foram os dois candidatos escolhidos pelos 358 deputados do Partido Conservador na primeira fase do processo de escolha do sucessor de Johnson, em Julho. Durante este mês de Agosto, é a vez de os cerca de 160 mil militantes tories participarem no processo, votando no seu candidato favorito – o resultado final será revelado no dia 5 de Setembro.

Apesar de ainda poderem alterar o seu voto até ao fecho da eleição, muitos militantes já votaram. A sondagem da YouGov mostra que, entre aqueles que o fizeram, 68% escolheram Truss e 31% optaram por Sunak. Entre os que ainda não votaram, 44% dizem que vão votar em Truss, 29% indicam o seu voto em Sunak e os restantes 26% estão indecisos.

Uma das possíveis explicações para o favoritismo de Liz Truss é o facto de as bases do Partido Conservador ainda serem, em grande medida, aquelas que elegeram Boris Johnson e que deram o seu apoio à consumação do “Brexit” a qualquer custo.

Truss é vista com a candidata da continuidade e tem recebido o respaldo de grande parte das figuras mais próximas do ainda primeiro-ministro e dos representantes universo brexiteer e neoliberal do partido.

Um estudo de 2019 da Universidade Queen Mary, de Londres, mostra que os militantes tories são maioritariamente homens (63%), brancos (97%), com mais de 65 anos (39%), residentes no Sul de Inglaterra (56%), de classe média e alta (80%) e pró-“Brexit” (76%).

Sunak chegou mais tarde à política e ao partido, e apesar de um início de carreira promissor, tem sido catalogado pelos apoiantes de Truss como uma espécie de “traidor”, uma vez que foi a sua demissão que deu início a uma onda de dezenas de renúncias de membros do Governo que viria a obrigar Johnson a abdicar do cargo.

Por outro lado, o antigo ministro das Finanças é visto como o rosto da imposição da mais pesada carga fiscal no Reino Unido desde 1940.

Parte dessa narrativa sobre Sunak parece ser inclusivamente confirmada pela sondagem da YouGov. Cinquenta e cinco por cento dos inquiridos não concordam com a mobilização liderada pelos ministros e deputados conservadores que levou ao pedido de demissão do primeiro-ministro.

Boris Johnson apresentou a demissão no dia 7 de Julho, depois de se ter mostrado incapaz de travar as críticas internas motivadas por uma série de escândalos que abalaram a sua liderança durante os meses anteriores – com a polémica das festas em Downing Street durante a pandemia à cabeça – e que tiveram repercussões negativas no desempenho eleitoral do Partido Conservador, com resultados incómodos em eleições locais e intercalares.

Ainda assim, 46% dizem que votariam em Johnson se ele estivesse na corrida – contra 24% em Truss e 23% em Sunak –; 44% consideram que daria um melhor primeiro-ministro que qualquer um dos outros dois; e mais de 80% acreditam que seria capaz de vencer Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, nas próximas eleições legislativas, previstas para 2024.

Este último dado é particularmente relevante, tendo em conta que, de acordo com a sondagem, 40% dos inquiridos assume que a candidata favorita à vitória dificilmente conseguirá ser bem-sucedida nessas eleições: ou Truss vence sem conseguir a maioria na Câmara dos Comuns, ou perde para o Labour.

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