Modelos unem-se pela Ucrânia e vão doar parte dos lucros das semanas de moda

Bella Hadid e Kaia Gerber juntaram-se ao movimento iniciado pela argentina Mica Argañaraz. Depois de Milão, a Semana da Moda de Paris decorre a todo o gás, até 8 de Março.

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Bella Hadid no desfile da Moschino na Semana da Moda de Milão Reuters/ALESSANDRO GAROFALO
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O desfile da Dior esta terça-feira Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW
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A directora criativa da Dior, Maria Grazia Chiuri Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW
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O desfile da Dior Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW
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Rihanna no desfile da Dior Reuters/CLOTAIRE ACHI
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Maria Grazia Chiuri descreveu a colecção como uma manifestação de sobrevivência da mulher Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW
Notis Sfakianakis
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Os coletes estilo airbag Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW
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Desfile da Yves Saint Laurent EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON
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O pêlo usado pela marca é sintético Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW
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O desfile foi junto à base da Torre Eiffel EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON
,Semana de Moda de Paris 2022 - Outono/Inverno
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A colecção é assinada pelo director criativo Anthony Vaccarello Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW
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O designer belga Anthony Vaccarello EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON
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A estruturas exageradas foram uma constante da proposta EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

A moda segue a rotina de cada estação de volta à normalidade dos desfiles, mas com os olhos postos no que se vive na Ucrânia. Nos últimos dias, várias modelos, incluindo Bella Hadid e Kaia Gerber, anunciaram que doariam uma porção — sem especificar qual — dos lucros das semanas da moda para ajudar os ucranianos. “É incrivelmente estranho estar a fazer desfiles de moda, sendo o nosso trabalho, especialmente durante tempos como este”, escreveu Hadid, no Instagram.

Várias modelos começaram a juntar-se à causa depois da argentina Mica Argañaraz ter usado os stories daquela rede social, este domingo, para partilhar o desconforto que sentia em estar a lucrar com desfiles de moda enquanto sabia “que está uma guerra a acontecer no mesmo continente”. Pouco depois, a italiana Vittoria Ceretti, a holandesa Kiki Willems, a britânica Francesca Summers e a australiana Aylah Peterson, entre outras, publicaram também o comunicado de Argañaraz a confirmar que se juntariam à angariação de fundos.

Entre as modelos a dar a voz pela causa está a conhecida norte-americana Bella Hadid. “Temos muitos amigos ucranianos, entre colegas, modelos, produção, equipas de casting, e ver a falta de comunicação e conhecimento sobre uma guerra, que é cada vez mais grave, é muito, muito triste”, escreveu a modelo. “Vou doar parte dos meus rendimentos desta semana da moda [de Paris] para ajudar organizações ucranianas”, declarou, citada pela revista britânica Marie Claire.

Hadid incentivou ainda “outros amigos, modelos e colegas” e “todos os que estejam a lidar com estes sentimentos” a contribuir. A modelo norte-americana aproveitou ainda para deixar uma reflexão sobre a indústria: “A moda pode ser muito solitária e pode fazer qualquer um sentir que não se enquadra, ainda mais no que toca a política. É difícil sentirmo-nos ouvidos e vistos quando as pessoas só estão a pensar em bens materiais, em vez de pensar na guerra e no bem-estar dos outros”.

Kaia Gerber, a filha da supermodelo Cindy Crawford, juntou-se à onda de apoio, elogiando Mica Argañaraz por ter dado o exemplo. “Obrigada por nos inspirares a fazer o mesmo”, escreveu a modelo norte-americana. A acção das modelos surge na sequência das críticas deixadas nas redes sociais às marcas durante a Semana da Moda de Milão, que terminou este domingo, 27 de Fevereiro. Nas publicações da Gucci, da Prada e da Versace, centenas de utilizadores comentaram com um emoji da bandeira da Ucrânia, outros incentivavam as casas de moda de luxo a fazer doações.

O criador Giorgio Armani foi o único a assinalar o conflito a decorrer no Leste europeu. “Em sinal de respeito”, a marca “escolheu não usar música” no desfile da colecção do próximo Outono / Inverno, informou num comunicado partilhado no Twitter.

A moda segue em Paris

A Federação Francesa de Alta-Costura e Moda, entidade que organiza o evento da capital francesa, emitiu um comunicado em que encoraja todos os convidados a “experienciar os desfiles dos próximos dias com solenidade e a reflectir sobre estas horas negras”. “A criação é baseada nos princípios de liberdade, sob quaisquer circunstâncias. E a moda sempre contribuiu para a emancipação individual e colectiva e expressão das nossas sociedades”, lembrou o presidente do certame, Ralph Toledano.

Até 8 de Março, a indústria reúne-se em Paris para apresentar as colecções da próxima estação fria. No início da tarde desta terça-feira, a Dior ocupou os Jardins das Tulherias. A directora criativa Maria Grazia Chiuri repensou os clássicos da marca, com novas técnicas, num desfile que descreveu ser uma manifestação da moda enquanto meio de sobrevivência.

As peças mais delicadas, como os vestidos translúcidos, foram coordenadas com casacos estilo motoqueiro e luvas. Já as saias compridas ganharam bolsas, coletes à prova de bala e airbags. Ainda que o tema possa parecer uma alusão à guerra na Ucrânia, é de frisar que as casas de moda começam a preparar as colecções com pelo menos seis meses de antecedência. “Acho que explorar este tipo de território ajuda-nos a perceber o verdadeiro valor da moda”, sublinhou Maria Grazia Chiuri, responsável pelo departamento feminino da marca francesa, em entrevista à Reuters.

“Às vezes pensamos na moda apenas como uma forma de embelezar o nosso corpo, e não algo em que o nosso corpo habita”, lembrou a designer. Na plateia do desfile esteve a cantora Rihanna, sentada ao lado de Bernard Arnault, o multimilionário dono da LVMH, grupo a que pertence a Dior. A artista —​ grávida do primeiro filho com o rapper A$AP Rocky — foi o centro das atenções e não escapou às câmaras dos fotógrafos com um vestido translúcido em tule preto.

Rihanna esteve, ainda, na primeira fila do desfile da Off-White, a marca do falecido designer Virgil Abloh, na noite de segunda-feira. A marca, que faz parte do conglomerado de luxo LVMH desde Julho, prestou uma homenagem às últimas criações que o norte-americano se encontrava a desenvolver, antes de morrer, vítima de cancro, em Novembro. O resultado foi uma colecção sensual, em homenagem à cultura pop, repleta de “pequenos vestidos pretos”, calças de cintura descida com aberturas e minissaias.

O desfile foi dividido em personagens, como “the Fangirl” ou “Carrie B” (referência a Carrie Bradshaw de O Sexo e a Cidade). Destacou-se Bella Hadid vestida de noiva com um volumoso vestido em tafetá branco, coordenado com ténis ─ os saltos iam na sua mão. As supermodelos dos anos 1990 também não faltaram à festa, com Cindy Crawford a desfilar lado a lado com a filha Kaia Gerber e a dinarmarquesa Helena Christensen a “rivalizar” com novos rostos como Kendall Jenner.

Na terça-feira, foi a Yves Saint Laurent a responsável por encerrar o dia de desfiles, com uma apresentação na base da Torre Eiffel. Na colecção, assinada pelo director criativo Anthony Vaccarello, não faltou o glamour que o cenário e a passadeira cor-de-rosa exigiam. Os casacos em pêlo sintético fizeram sucesso nas redes sociais, ao contrastarem com vestido mais suaves adornados com flores.

Durante os próximos dias, na Semana da Moda de Paris, esperam-se as apresentações de marcas como Balmain, Balenciaga, Chanel, Chloé, Givenchy, Loewe, e Louis Vuitton.

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