Biden aceita cimeira com Putin – mas só se a Rússia não invadir a Ucrânia

Casa Branca concorda “em príncipio” com a proposta de Macron para um encontro entre os dois líderes sobre a “segurança e estabilidade estratégica na Europa”. Kremlin diz que é “prematuro” falar em planos concretos para uma cimeira.

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Os dois Presidentes reuniram-se em Junho para discutir questões relacionadas com armamento DENIS BALIBOUSE/EPA

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aceitou, “em princípio”, participar numa cimeira com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, dedicada à crise de segurança na Ucrânia e no Leste da Europa, revelou nesta segunda-feira Emmanuel Macron, chefe de Estado francês. O Governo norte-americano esclareceu, no entanto, que o encontro só terá lugar “se não tiver havido uma invasão” ao território ucraniano.

“Estamos sempre prontos para a diplomacia”, garantiu Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca. “Mas também estamos prontos para impor céleres e graves consequências caso a Rússia escolha a guerra”.

O Presidente da França, que propôs uma cimeira dedicada à “segurança e estabilidade estratégica na Europa” na sequência de uma série de telefonemas realizados no domingo, disse, através do seu gabinete, que Putin concordou com a necessidade de “dar prioridade a uma solução diplomática” e aceitou participar. A agência russa Interfax também deu conta de que o Presidente russo concordou com a realização da cimeira.

A reacção oficial do Kremlin foi, no entanto mais, cautelosa. O seu porta-voz, Dmitri Peskov, disse esta segunda-feira aos jornalistas que é “prematuro falar sobre planos específicos para a organização de qualquer tipo de cimeira”, tendo em conta a situação “extremamente tensa” na região do Donbass, no Leste da Ucrânia. Peskov revelou ainda, citado pela agência de notícias russa Tass, que o Presidente russo vai falar nesta segunda-feira ao Conselho de Segurança do país, para discutir a crise.

Biden e Putin encontraram-se pessoalmente em Junho, em Genebra (Suíça), para um encontro em que se discutiu armamento, diplomacia e segurança cibernética, entre outros temas.

A avaliação das condições para novo encontro deverá entrar agora na agenda de trabalhos de Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, e de Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, que se reúnem na próxima quinta-feira para discutir a crise ucraniana.

Numa entrevista à CNN, no domingo, o chefe da diplomacia dos EUA voltou a insistir, porém, que os cerca de 150 mil soldados russos, carros de combate e peças de artilharia destacados ao longo da fronteira com a Ucrânia continuam a sugerir que “estamos à beira de uma invasão”. “Até os tanques estarem efectivamente em andamento e os aviões a voar, vamos aproveitar todas as oportunidades e todos os minutos para ver se a diplomacia ainda pode dissuadir o Presidente Putin de levar isto para a frente”, acrescentou.

Acusando o Ocidente de “histeria” e de estar a fazer “propaganda de guerra”, Moscovo assegura, no entanto, que não tem qualquer intenção de invadir a Ucrânia, e justifica a presença de tropas na região com a realização de exercícios militares. Na semana passada anunciou, inclusivamente, a retirada de soldados e veículos de guerra da Crimeia e de outras zonas da vizinhança ucraniana.

Mas a revelação, no domingo, do prolongamento dos exercícios que envolvem cerca de 30 mil soldados estacionados na Bielorrússia – justificado pelo Governo bielorrusso com o “aumento da actividade militar perto das fronteiras externas” dos dois países e do “agravamento da situação no Donbass” – foi visto pela NATO como uma confirmação das intenções bélicas da Rússia.

Imagens de satélite fornecidas pela empresa norte-americana Maxar sugeriram ainda que Moscovo está a mobilizar mais tropas para a região. Algumas delas, diz a empresa, estarão a apenas 15 quilómetros da fronteira ucraniana.

A Rússia tem insistido que o Ocidente se deve comprometer a rejeitar qualquer pedido de adesão da Ucrânia à NATO no futuro e rejeita a presença de tropas e armamento da aliança militar no Leste da Europa.

Enquanto as potências discutem formas de evitar um conflito na Ucrânia, as regiões do país controladas há oito anos por separatistas pró-russos, no Donbass, continuam a ser palco de bombardeamentos. Mas tanto os rebeldes como o Exército ucraniano garantem que estão apenas a empreender acções “defensivas” e acusam-se mutuamente de responsabilidade nos ataques.

Os separatistas já anunciaram, na semana passada, a evacuação de civis da região, e, citados pela agência russa RIA, revelaram que dois civis foram mortos após um ataque ordenado pelo Governo de Kiev. Nesta segunda-feira ouviu-se nova explosão na cidade de Donetsk.

“A situação é extremamente tensa e, até ao momento, não vemos sinais que apontem para uma redução do nível da tensão”, afirmou Dmitri Peskov. “As provocações e os bombardeamentos estão a tornar-se mais intensos, como é óbvio, e isto causa-nos preocupações muito profundas.”

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