Dono do quarteirão da Suíça: “Sou o maior defensor de não lhe mexer”

Investidor britânico elogia as mudanças na Lei das Rendas, a câmara de Lisboa e a DGPC, que na sua opinião foram as três alavancas para a reabilitação da cidade.

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No ano passado, a câmara de Lisboa decidiu forrar a fachada do quarteirão com azulejos, segundo um projecto já antigo SEBASTIAO ALMEIDA

O dono do quarteirão da Suíça diz estar chocado com o facto de aquele vasto edifício, situado em pleno Rossio, na Baixa de Lisboa, estar há tantos anos em estado de abandono e a degradar-se. “É a praça principal da cidade!”, insurge-se William Blake Loveless, que comprou o imóvel no início do ano passado através da sua empresa Jackyl.

Durante uma recente passagem pela capital portuguesa, onde esteve a avaliar novas oportunidades imobiliárias, o investidor britânico falou com o PÚBLICO a propósito de um projecto comercial e desportivo que está a desenvolver em Carnaxide, Oeiras. Mas a conversa versou também sobre o emblemático quarteirão lisboeta, popularmente conhecido pelo nome da pastelaria que ali existiu durante 96 anos, a Suíça (fechou em 2018).

“É provavelmente o meu edifício preferido na Europa”, diz Blake Loveless, que ainda não levanta muito o véu sobre o que ali se fará. Em Janeiro, em entrevista ao jornal Eco, o britânico disse que estava a estudar a hipótese de ali criar apartamentos turísticos ou um hotel, bem como lojas e escritórios.

Seja o que for, Loveless desdobra-se em elogios à arquitectura do quarteirão e promete não o desvirtuar. “Sou o maior defensor de não lhe mexer. Não quero que ele fique com um aspecto diferente, seria uma vergonha”, diz.

Se no caso de Carnaxide o que entusiasma Blake Loveless é ter “uma tela em branco” e poder intervir numa zona sem construções (exceptuando o Aqueduto das Francesas, classificado), no Rossio defende que é preciso mexer com pinças. “O nosso plano é respeitá-lo e restaurá-lo, fazer algo que as pessoas realmente gostem”, afirma. “O que foi construído há 200 anos não é necessariamente interessante para as pessoas de hoje. Isso não significa que se deite abaixo e se construa uma caixa de vidro”, comenta o investidor.

Ainda assim, sublinha, “tem de haver um equilíbrio entre respeitar o património e fornecer um produto que as pessoas querem usar”. Blake Loveless elogia a câmara de Lisboa e a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) por terem “uma visão prática e construtiva” para a reabilitação da cidade. “Antigamente a porta estava fechada, a postura era ‘não falem comigo, nem se dêem ao trabalho’. E o que tínhamos era edifícios a cair. A mudança na Lei das Rendas e o ajustamento da visão da câmara e da DGPC permitiram a reabilitação de edifícios históricos à custa de investidores estrangeiros e nacionais.”

Ao contrário de outros empresários, que chegaram ao mercado imobiliário português já há vários anos, Blake Loveless é relativamente novo por cá. Nada que o preocupe. “Portugal está no mapa e não vai sair dele”, afiança, deixando também elogios ao Governo pela forma “sustentável” como promove o sector imobiliário.

É por isso que rejeita a ideia, sublinhada por associações de defesa do direito à habitação e partidos políticos, de que haja uma bolha neste mercado. “O que é que define uma bolha? O mercado em Lisboa está quente? Sim, sem dúvida. É alimentado por dívida? Não. É alimentado por pessoas que compram cinco casas? Não. É alimentado por imigrantes, portugueses que mudam para casas melhores, porque é a primeira vez que podem comprar uma coisa moderna, de que gostam? Sim.”

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