Marcelo foi jantar à Suíça, no último dia da histórica pastelaria

A histórica pastelaria da baixa lisboeta fechou as portas esta sexta-feira e deixou o edifício onde morava desde 1922.

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Nuno Ferreira Santos

Marcelo Rebelo de Sousa foi à Suíça fazer uma última refeição antes de a histórica pastelaria da baixa lisboeta fechar. O Presidente da República quis “matar saudades" da pastelaria da qual foi “um cliente habitual” e que encerra esta sexta-feira.

“Durante décadas, almocei aqui e jantei aqui, desde miúdo, com a minha família”, contou à TVI. “Nesta mesma mesa morreu o meu pai, neste mesmo lugar onde estou a comer, há 16 anos.”

“O progresso, a mudança tem custos – custos urbanísticos e custos humanos”, afirmou o Presidente da República. “Virá para cá uma cadeia internacional poderosíssima – é a vida.”

A pastelaria Suíça, que se orgulha de ter introduzido em Portugal o croissant francês, encerra permanentemente nesta sexta-feira, depois de o edifício onde estava instalada desde 1922, no Rossio, ter sido comprado por fundos estrangeiros.

Restaurante Ano Novo também fechou

Além da Suíça, também esta sexta-feira foi o último almoço serviço pelo restaurante Ano Novo, de comida tradicional portuguesa, na Rua dos Correeiros, por o novo senhorio, de nacionalidade holandesa, ter recusado renovar o contrato de arrendamento.

"A sensação que nós temos é que estão a desaparecer algumas lojas que têm um grande significado para este território. Ainda hoje fechou este restaurante que era muito especial aqui na zona e, enfim, temos aqui um conjunto de situações que nos desagradam", disse Miguel Coelho, presidente da Junta de Santa Maria Maior.

Para o presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina, Manuel Lopes, "o problema é complexo". "Temos de ser claros e dizer que muitas das lojas encerradas cumpriram um ciclo de vida. Isto é como tudo: os anos vão passando, as empresas fazem-se velhas, os administradores também se fazem mais envelhecidos e, se não houver sucessão, a empresa ou é vendida ou encerra pura e simplesmente", disse.

Manuel Lopes destacou que o número de lojas a encerrar "é elevado neste momento".

"Infelizmente muitas das lojas não teriam possibilidades de continuidade, dado à sua forma de estar e o seu não aproveitamento da proximidade àquilo que é hoje o comércio e os serviços, mas há infelizmente um número elevadíssimo de lojas históricas que não deviam nem poderiam ser encerradas, porque elas tinham viabilidade e fazem parte da história da nossa Baixa", considerou.

"A reabilitação tinha que acontecer, o que não aplaudimos é a forma como estão a ser encerrados estabelecimentos que deveriam ter continuidade", acrescentou, salientando que, devido ao actual mercado de arrendamento, "poucas empresas dirigidas ou na posse de portugueses têm condições de pagar aquilo que o mercado exige".

A carta a Nadal

O quarteirão da Suíça foi vendido e os empresários terão chegado a acordo para sair do espaço. A icónica pastelaria ainda se candidatou ao programa municipal "Lojas com História", mas acabou por desistir.

Numa carta enviada à Câmara de Lisboa a 15 de Junho o proprietário revelou que se afigurava necessário "o encerramento da Pastelaria Suíça, pelo menos no espaço que agora ocupa".

"Sucede que, desde o momento da aludida candidatura até à presente data, ocorreram várias vicissitudes que tiveram, e têm tido, um impacto negativo na exploração comercial da Pastelaria Suíça, impossibilitando a sua viabilidade, subsistência e continuidade no futuro", refere a carta, assinada por Fausto Roxo.

Por isso, continua o texto, os proprietários desistiram do processo de candidatura a esta classificação, "dado que o mesmo deixou de se justificar".

Face à notícia do encerramento, o Fórum Cidadania Lx decidiu escrever uma carta, em castelhano, a Rafael Nadal, o tenista espanhol que é investidor do fundo imobiliário que comprou o quarteirão da Pastelaria Suíça, em jeito de sensibilização para a importância que a Suíça (e não só) tem na história da cidade. A carta referia outras casas do quarteirão como a Pérola do Rossio (loja de renome de chá e cafés), a Casa da Sorte (apostas), a Ourivesaria Portugal, a Antiga Casa do Bacalhau, “cuja história na cidade é tão importante que não há ninguém em Lisboa que não saiba onde é o ‘Quarteirão da Suíça’”.

O restaurante Ano Novo, na Rua dos Correeiros, comprado pelo pai de Luís Lopes em 1960, serviu hoje almoços pela última vez. "O senhorio vendeu o prédio a um indivíduo holandês e ele mandou uma carta a dizer que não renovava o contrato e já não era possível continuar aqui. Fomos despejados, embora sempre pagássemos a renda e cumpríssemos com as nossas obrigações", disse à Lusa Luís Lopes, sócio-gerente, que trabalhava no restaurante familiar há 28 anos.

Luís Lopes salientou que "cada vez há menos comida portuguesa na Baixa e cada vez há de haver menos, principalmente ao almoço, os clientes eram todos conhecidos nossos", desabafou.

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