Tories e trabalhistas unidos num ataque a Boris Johnson por não ter defendido embaixador

O homem que as sondagens conservadoras dizem que vai ser o sucessor de Theresa May é acusado de ter atirado Kim Darroch às feras. Deputados conservadores exigem que peça desculpas públicas.

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Johnson sempre foi o grande favorito para suceder a Theresa May à frente do Partido Conservador e do governo britânico Reuters/Henry Nicholls

Boris Johnson, o favorito à sucessão de Theresa May na liderança do Partido Conservador e do Governo britânico, viu esta quinta-feira formar-se uma rara aliança entre tories e trabalhistas contra si. Foi acusado de ter atirado às feras o embaixador britânico nos Estados Unidos, Kim Darroch, ao não defender a sua permanência no cargo. Polémica que não terá impacto na corrida à sucessão – uma sondagem conservadora diz que os votos por correspondência já lhe deram a vitória.

“Boris Johnson, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e que espera vir a ser primeiro-ministro, atirou o nosso mais importante diplomata à feras para servir os seus próprios interesses”, criticou o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Alan​ Duncan, em declarações à BBC, acusando-o ainda de “incompetência”.

Numa entrevista ao jornal Sun, Johnson recusou qualquer responsabilidade na demissão do diplomata e teceu-lhe elogios. “Não posso acreditar que me estejam a tentar culpar por isto”, disse, referindo ter no passado “trabalhado muito bem com ele”. “Acho que fez um trabalho fantástico.”

A entrevista acalmou, por uns momentos, os seus críticos, mas uma outra, no Politico e publicada também esta quinta-feira, piorou a situação do candidato à liderança conservadora. Nela, Johnson não resistiu a fazer uma piada sobre Darroch: “Para que fique registado, sou há muito admirador de Kim Darroch. E digo que se Donald Trump conseguiu ser amigo de Kim Jong-un, então consegue ser amigo de Kim Dar-roch.”

Na segunda-feira, o Daily Mail revelou uma série de mails diplomáticos confidenciais escritos por Darroch em que afirma que o Presidente dos Estados Unidos “irradia insegurança” e que não acredita que a Administração Trump possa vir a tornar-se “mais normal, menos disfuncional e menos desajeitada e inepta diplomaticamente”. O embaixador demitiu-se na quarta-feira. 

O Presidente dos Estados Unidos não gostou da manchete e disparou tweets contra o diplomata e May: “O embaixador maluco que o Reino Unido impingiu aos Estados Unidos não é alguém com quem nos emocionemos, é um tipo muito estúpido.” “Ele deveria falar ao seu país, e à primeira-ministra May, sobre a sua fracassada negociação do ‘Brexit’, e não ficar chateado com a minha crítica sobre quão mal foi negociado”, continuou Trump, sublinhando que o processo foi um “desastre”, porque a primeira-ministra optou pela sua “forma insensata” de negociação.

No primeiro debate televisivo que opôs Johnson e Jeremy Hunt, ministro dos Negócios Estrangeiros e candidato à sucessão de May, o primeiro esquivou-se a responder se manteria o embaixador no cargo se fosse primeiro-ministro. Já Hunt garantiu que o faria. “Se for primeiro-ministro, o embaixador nos Estados Unidos fica”, disse, exigindo “respeito” à Casa Branca.

A entrevista de Johnson ao Politico foi o que faltava para o pôr na mira das baterias conservadoras e trabalhistas no debate parlamentar desta quinta-feira. O deputado trabalhista Pat McFadden interpôs uma pergunta de urgência a Alan Duncan sobre a demissão de Darroch e duras críticas a Johnson vieram ao de cima.

“Os verdadeiros líderes protegem o seu povo, não os lançam aos lobos por verem benefícios para si próprios”, acusou McFadden, sublinhando que as atitudes de Johnson “são um claro aviso do que está para vir, se se tornar primeiro-ministro”. Em resposta, Duncan disse que o discurso do trabalhista devia ser “afixado em todas as paredes” para se saber como os líderes devem agir. Foi um raro consenso num momento em que tories e trabalhistas divergem em quase tudo.

A exigência de um pedido de desculpas público de Johnson não tardou e foi expressa pelo deputado conservador David Morris: “É dever de todos os membros do Parlamento apoiar os nossos excelentes diplomatas e funcionários públicos e [Johnson] devia vir a esta câmara pedir desculpa.” Boris Johnson ainda não reagiu.

Polémica sem influência na sucessão

A polémica não terá, porém, grande impacto na corrida à liderança torie. De acordo com uma sondagem do ConservativeHome, o antigo chefe da diplomacia britânica “já ganhou a disputa” com 72% de votos, contra os 28% de Hunt.

Ainda faltam 12 dias para a contagem dos votos dos cerca de 160 mil militantes conservadores, mas a ConservativeHome, diz o Guardian, tem sido “razoavelmente confiável” no apuramento das intenções de voto nas eleições do partido. O novo líder e primeiro-ministro é anunciado a 23 de Julho.

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