Crise diplomática: EUA e Reino Unido cancelam reunião sobre comércio

Donald Trump chamou “estúpido” ao embaixador britânico e “tola” a Theresa May devido à forma como conduziu o “Brexit”.

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O embaixador Darroch ouvindo Trump e May em Washington Carlos Barria/Reuters

Uma reunião entre os secretários de Comércio britânico e norte-americano foi cancelada, de acordo com fontes do Governo dos EUA citados pela Sky News, depois dos insultos do Presidente Donald Trump à primeira-ministra Theresa May.

Depois do jornal inglês Sunday Mail ter divulgado telegramas diplomáticos em que o embaixador britânico em Washington, Kim Darroch, se referia ao Governo dos EUA como “incompetente” e “instável”, o Presidente Trump reagiu. Nesta terça-feira, na sua conta no Twitter acusou o diplomata de ser “muito estúpido” e disse que Theresa May conduziu o processo do “Brexit" "da sua forma tola”.

Logo de seguida, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Jeremy Hunt, usou o Twitter para dizer a Donald Trump que considerava os comentários sobre May “desrespeitosos e errados”.

A crise diplomática adensou e as autoridades norte-americanas revelaram que o encontro entre o secretário do Comércio britânico, Liam Fox, e o secretário do Comércio norte-americano, Wilbur Ross, fora cancelado.

As mesmas fontes disseram, contudo, que o Departamento de Comércio dos EUA está a trabalhar para encontrar uma nova data, “conveniente para ambas as partes”, para a realização da reunião, numa altura em que os dois países procuram estreitar relações comerciais perante o cenário do “Brexit”.

“Os amigos falam francamente, por isso também o farei: os comentários são desrespeitosos e errados para a nossa primeira-ministra e para o meu país”, escreveu Hunt.

Sobre os telegramas em que Darroch se referia ao Governo americano e a Trump - descrito como “incompetente” e “inseguro" -, Hunt já tinha dito que lamentava e pedido desculpa.

“Os vossos diplomatas dão as suas opiniões, privadas, ao secretário de Estado Mike Pompeo e os nossos faaem o mesmo”, explicou Jeremy Hunt, dirigindo-se directamente a Donald Trump, na sua conta do Twitter.

Trump anunciou que cortava relações com o embaixador britânico. Jeremy Hunt reiterou, como Theresa May já tinha feito, o seu apoio a Darroch. E disse que, se for escolhido pelo Partido Conservador para substituir May, o mantém no posto.

“Os embaixadores são escolhidos pelo Governo do Reino Unido e, se eu for primeiro-ministro, o nosso embaixador (em Washington) fica”, disse Jeremy Hunt.

A crise diplomática cria porém um dilema ao futuro primeiro-ministro (a escolha é entre Hunt e Boris Johnson, a quem as sondagens dão vantagem): manter Darroch, arriscando problemas diplomáticos, ou substituí-lo, passando a ideia de que  cedeu à pressão de Donald Trump.

Nos telegramas, Darroch, que está no posto de embaixador em Washington desde 2016, sugeriu que para se comunicar com Donald Trump é preciso “apresentar os argumentos de forma simples” e disse que não acredita que surjam mudanças com o evoluir do tempo.

“Não acreditamos que esta Administração se torne substancialmente mais normal; menos disfuncional; menos imprevisível; menos dividida; menos diplomaticamente desajeitada e incompetente”, escreveu o embaixador num dos telegramas.

Jeremy Hunt confirmou que há uma investigação em curso à fuga de informação que permitiu a divulgação dos telegramas diplomáticos e disse que “se e quando houver responsáveis, eles serão condenados”.

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