Sánchez ainda não descartou Governo de coligação com o Podemos

PSOE continua a explorar cedência de ministérios a Iglesias, mesmo dando prioridade a um pacto parlamentar. Bom momento nas relações com Podemos e intransigência do Cidadãos favorecem plano B dos socialistas espanhóis.

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Pedro Sánchez e Pablo Iglesias Reuters/JUAN MEDINA

Partido Socialista espanhol (PSOE) e Unidas Podemos estão determinados em chegar a um acordo para a investidura do próximo Governo de Espanha. Os contactos entre os dois partidos prosseguem a bom ritmo e terão derivado, nos últimos dias, para a possibilidade de um executivo de coligação. 

O ensaio recente de uma maioria, na eleição da nova presidente do Congresso dos Deputados, Meritxell Batet, aliado ao pacto iminente, entre as duas forças de esquerda, para a governação da comunidade de Valência, confirmam o bom momento nas relações entre Pablo Iglesias e Pedro Sánchez. E, a par da posição irredutível de um Cidadãos que só quer ser oposição, o ainda presidente do Governo pode vir a renunciar ao desejo de avançar sozinho para um novo mandato.

“Uma coligação [com o Podemos] não seria um drama, mesmo não sendo a nossa primeira opção”, assumiu uma fonte socialista ao jornal El País. “O que queremos é estabilidade para fazer frente à ofensiva da direita”.

Sem deputados suficientes para alcançar a maioria absoluta na câmara baixa do Parlamento espanhol, Sánchez dá prioridade, ainda assim, à formação de um Governo minoritário, alicerçado em compromissos específicos, sobre temas específicos, com partidos específicos – possibilidade que os media espanhóis não se cansam de catalogar de “solução à portuguesa”.

O Podemos, que não esconde o desejo de entrar para o Governo e que terá refreado, nos últimos dias, a pretensão de exigir a Sánchez algum, ou alguns, dos principais ministérios – Negócios Estrangeiros, Interior, Justiça, Finanças e Defesa –, surge na linha da frente para a aplicação desta estratégia do PSOE.

Os líderes dos dois partidos têm estado em contacto permanente e já assumiram haver “boa vontade” e “optimismo” para um entendimento do que consideram ser “as forças progressistas de Espanha”. 

Mas do outro lado do espectro político, a vontade de ajudar Sánchez a ser investido é praticamente nula. Se no Partido Popular a questão nem se coloca, por força da rivalidade e da alternância de poder, de décadas, com os socialistas, no caso do Cidadãos está em causa a postura intransigente do seu líder.

Albert Rivera endureceu muito o seu discurso contra o PSOE na campanha para as eleições realizadas no final do mês passado – prometeu um “cordão sanitário” para isolar os socialistas – e já disse pessoalmente a Pedro Sánchez que não está disponível para apoiar a sua investidura no Congresso

Parte desta posição está relacionada com o que o dirigente liberal entende ser o seu novo papel na política espanhola, face ao desempenho eleitoral catastrófico do PP e à diferença mínima – 0,8% – verificada entre os dois partidos de direita: nada mais, nada menos do que o de líder da oposição aos socialistas e à esquerda.

A fase decisiva das negociações para a formação e investidura de um novo Governo em Espanha arranca na próxima segunda-feira, um dia depois das eleições europeias, municipais e autonómicas. Bem colocado nas sondagens, o PSOE espera aproveitar os bons resultados para encarar as próximas semanas numa posição de força, recolher apoios entre os partidos regionais e decidir, com o Podemos, qual a melhor solução para ultrapassar o estado de fragmentação partidária do Congresso.

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