Socialistas ganham e Pedro Sánchez até pode escolher com quem governar

PSOE vence eleições concorridas em Espanha. Bloco de direita fica longe do poder, na estreia do Vox no Parlamento e numa noite desastrosa para o PP.

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Pedro Sánchez falou aos apoiantes na sede do partido em Madrid Adriano Miranda
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Perante milhares de simpatizantes que gritavam “com Rivera não!”, aludindo à possibilidade de o PSOE, o vencedor das eleições legislativas antecipadas espanholas, se coligar com o Cidadãos, Pedro Sánchez foi lapidar. “Creio que isso ficou claro, não?”, afirmou, aplaudido e saudado por gritos de “no passarán” da multidão, que prefere o pacto com o Unidas-Podemos.

“Não vamos impor cordões sanitários a ninguém, a única condição é o respeito pela Constituição”, afirmou numa alusão às palavras de Albert Rivera, que pediu à direita que se unisse e impusesse um “cordão sanitário” em torno do PSOE, bloqueando quaisquer possíveis coligações ou acordos de governo que os socialistas fizessem com os partidos independentistas no Congresso. Esse tipo de acordo continua a ser necessário, pois a votação do PSOE e do Unidas-Podemos (165 deputados) não chega aos 176 deputados necessários para a maioria absoluta.

Há uma Espanha antes de 28 de Abril e há outra depois dessa data. A vitória do PSOE nas eleições deste domingo, sem maioria absoluta, confirma a transição definitiva do quadro político do país vizinho para um sistema de coligações e de pactos, e testemunha, pela primeira vez na sua história democrática, a entrada de um partido de extrema-direita no Parlamento.

Numa eleição a que os espanhóis aderiram em massa – 75,79% de participação, 9% mais que em 2016 – quatro dos cinco partidos mais votados têm razões para sorrir, mas também para lamentar, cabendo ao Partido Popular (PP) o rótulo de grande derrotado da noite, depois de alcançado o pior resultado da sua história.

Os socialistas elegeram 123 deputados, aumentando bastante a sua representação parlamentar com uma vitória que lhes deu alívio. Mas ficam obrigados a procurar parceiros, para poderem continuar a governar Espanha

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Unidas Podemos (UP), que não perdeu tanto como se esperava, é o mais forte candidato à próxima solução de governo. Pablo Iglesias enviou uma mensagem a Sánchez: “Queríamos um resultado melhor, mas este é suficiente para cumprir os nossos objectivos: travar a direita e construir um governo de coligação de esquerdas”.

O Partido Nacionalista Basco (seis deputados), Bildu (cinco) e Compromís (um) estão na calha para negociar uma solução de governo. Sobram ainda os independentistas catalães da Esquerda Republicana da Catalunha (15), que Sánchez quererá evitar a todo o custo, mas que poderá ter de ouvir.

A noite negra do PP

Do outro lado da barricada, a direita fica numa posição muito pouco favorável para aceder ao Palácio da Moncloa. Isto porque, mesmo coligados, PP, Cidadãos e Vox ficam aquém da maioria absoluta.

A noite eleitoral do PP revelou-se um verdadeiro fracasso. Com apenas 66 deputados eleitos, o partido de Pablo Casado perdeu 71 lugares em relação ao consulado de Mariano Rajoy e quase foi ultrapassado pelo Cidadãos – oito deputados e 0,8% de diferença a nível nacional. 

Casado, que puxou o partido muito para a direita, não se demitiu no discurso de concessão da derrota. “Sou especialista em descer a esta sala em noites complicadas”, afirmou Pablo Casado. “Aqui está um grande partido que sabe ser duro e maduro”, acrescentou, ao falar na sede do partido, e Madrid. A direcção do PP reúne-se nesta segunda-feira para analisar a derrota eleitoral nas eleições.

Cidadãos e Vox acabaram por ter uma noite agridoce. Os primeiros alcançaram 57 deputados, aumentaram a representação, mas ficaram numa posição incómoda para Albert Rivera.

Por um lado, o líder não cumpre a promessa de liderar um bloco político à direita, porque ainda tem de a disputar com o PP. E por outro, só poderá aspirar a um papel de destaque na governação se romper com o “cordão sanitário” ao PSOE e der a mão a Sánchez. Um cenário que será pressionado a admitir, se as negociações à esquerda bloquearem (de novo) o país.

Já o Vox dificilmente poderá olhar para o resultado das eleições e concluir que o seu desempenho foi fraco. É certo que o partido ultranacionalista ficou bem abaixo de todas as previsões – as suas (pelo menos 70 deputados) e as das empresas de sondagens (mais de 30) –, falhando o assalto ao terceiro lugar. Mas a verdade é que conseguiu entrar pela primeira vez no Parlamento espanhol e logo com 24 deputados, poucos meses depois de ter surpreendido a Andaluzia.

"Reconquista"

O partido de Abascal catapultou o desempenho surpreendente nas eleições andaluzes e logrou um resultado histórico, em todos os sentidos, assente numa onda patriótica que esgotou pavilhões e encheu praças, em nome da “continuidade histórica de Espanha” e do “fim da ditadura progressista”, comandada pelo PSOE. Lidar com a sua oposição inflamada será um dos grandes desafios do próximo Governo.

“Iniciámos uma reconquista e podemos dizer a toda a Espanha que o Vox veio para ficar”, anunciou Santiago Abascal. “Haverá uma resistência nacional no Parlamento”.

Só dentro de um mês deve haver novidades na formação de novo governo, quando se realizarem as eleições municipais e autonómicas, na mesma altura que as europeias. Até lá, a Espanha dos blocos ainda terá muito cimento para grudar. Ou para partir.

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