Há uma nova geração e influente no PS

Têm menos de 50 anos, têm formação académica, quase todos já passaram a prova das urnas e desempenharam ou desempenham cargos institucionais. São a nova geração com poder no PS, estatuto que partilham com alguns seniores que vêm da linhagem Guterres, por via de Ferro ou de Sócrates.

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Mariana Soares

A ascensão de António Costa à liderança do PS consumou uma mudança geracional, trazendo à ribalta do poder e da influência partidários uma nova geração em muitos casos ainda pouco mediatizada e desconhecida pelo país.

É a esta nova geração que caberá construir as pontes e sanar a ruptura profunda que está na base da sua ascensão, o confronto entre António Costa e António José Seguro, mas é ela também que fará a ligação com as velhas sensibilidades do PS que ainda perduram e influenciam o partido.

Permanecem com importância no PS figuras que vêm do passado e com história no partido, quer pelo prestígio intelectual, quer pelo peso na estrutura, quer ainda pelo currículo de governação, como são os casos de Pedro Silva Pereira, José Vieira da Silva e Carlos César.

Também é verdade que o poder no PS e no Governo não se reduz à nova geração e que há figuras que têm prestígio e influência junto a Costa e em Conselho de Ministros, como ps ministros Eduardo Cabrita, Augusto Santos Silva, Capoulas Santos, Ana Paula Vitorino ou até de Mário Centeno e Maria Manuel Leitão Marques - estes dois últimos nem sequer militantes são. Mas em termos de partido uma nova elite nasceu.

No PSD, o salto geracional foi dado com a subida de Pedro Passos Coelho ao poder partidário, em 2010. No PS, deu-se só agora e está associada ao facto de António Costa ter desde cedo cultivado relações e trabalhado em conjunto com diversos jovens dirigentes da JS, que integram a geração abaixo da sua.

Os novos protagonistas têm formação académica superior às anteriores gerações, acompanhando o movimento de aumento das habilitações literárias a nível nacional . E são os primeiros que, mesmo quando nascidos antes do 25 de Abril, não têm memória própria da revolução, apenas memória construída a partir do que ouviram contar pelos pais, familiares e amigos. Talvez por isso, não tenham preconceitos em assumir acordos de governação com o PCP e o BE.

Os gabinetes de Costa

Logo como secretário de Estado e depois ministro dos Assuntos Parlamentares, no primeiro Governo de António Guterres (1995-1999), Costa teve a trabalhar consigo figuras como Fernando Rocha Andrade, Marcos Perestrello, hoje secretários de Estado dos Assuntos Fiscais e da Defesa, respectivamente. Fora do gabinete, mas até hoje próximo de António Costa - embora tenham entrado e ruptura devido aos acordos à esquerda -, funcionou também o líder da JS, Sérgio Sousa Pinto, claramente aquele que se destacava como o mais proeminente do grupo.

Quando António Costa passa a ministro da Justiça de Guterres ganham destaque neste grupo figuras como João Tiago Silveira, que tinha sido dirigente da JS, e Graça Fonseca, que adere já ao PS e é hoje secretária de Estado da Modernização Administrativa. Já mais recente é a aproximação a António Costa de Ana Catarina Mendonça Mendes, embora seja permanente a sua ligação a Sousa Pinto, a cuja direcção pertenceu na JS.

Como é normal num partido, com o passar dos anos as novas gerações vindas das jotas ascendem ao poder com as suas hierarquias próprias. Mais uma vez, o PSD serve de exemplo, com o actual presidente do partido a ter presidido à JSD entre 1990 e 1995. No PS, o mesmo se passou com António José Seguro. Mas, embora tivesse consigo alguns antigos jotas, casos de António Galamba, Álvaro Beleza e Eurico Brilhante Dias, não fez a mudança geracional que agora se constata.

As figuras mais influentes no PS: Quem é quem

Por outro lado, mesmo antes de Seguro, nos governos de José Sócrates estrearam-se como secretários de Estado alguns jovens como é o caso de João Tiago Silveira, Fernando Medina e Pedro Marques, mas a ascensão geracional em grupo dá-se só agora.

Há uma característica nesta ascensão de uma nova elite socialista que importa destacar. Aquele que seria o sucessor natural de Seguro e de António Costa, Sérgio Sousa Pinto desde cedo deixou perceber que não estava na corrida pela liderança. Contudo, o seu prestígio e peso no partido, sobretudo, junto das novas gerações, é profundo, bem como a sua influência intelectual. Figura de referência nesta nova geração é também João Tiago Silveira, outro dirigente que depois da experiência governativa com José Sócrates optou pela vida académica e que, por agora, chefia o gabinete de estudos do partido.

Na nova rede de poder e influência do PS, ascende também um conjunto de dirigentes ainda mais novos, nascidos já depois do 25 de Abril, onde o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, é o líder natural, com um destaque que é potenciado pelo facto de Sérgio Sousa Pinto ter optado por não se posicionar para disputar a liderança. Na faixa etária de Pedro Nuno Santos há outros nomes que já se destacam Duarte Cordeiro, Mariana Vieira da Silva, Miguel Prata Roque, Ricardo Mourinho Félix e Pedro Delgado Alves.

Mas o poder e a influência no PS de hoje conta também com figuras que vêm da estrutura partidária como Manuel Pizarro, no Porto, ou Vasco Cordeiro, nos Açores. E dos que fizeram o seu percurso fora do aparelho e se destacaram pela participação institucional, como Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, e Pedro Marques, ministro do Planeamento e Infraestruturas.

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