Correspondente da TV russa em Paris demite-se por causa da guerra na Ucrânia

“Quando falei com os meus chefes, disse-lhes que já não posso fazer este trabalho”, recordou a jornalista numa conferência de imprensa na capital francesa. “Deixei o Canal 1 precisamente porque a guerra começou.”

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"Deixei o Canal 1 precisamente porque a guerra começou", informou Zhanna Agalakova, afastando quaisquer rumores Reuters/NOEMIE OLIVE

Zhanna Agalakova é uma conhecida apresentadora de notícias televisivas russa, nomeada para o Prémio TEFI da Academia de Televisão da Rússia, em 2002, e galardoada com a Medalha da Ordem Por Mérito à Pátria, em 2006. Hoje, Zhanna, de 56 anos, deixou de ser correspondente especial do Canal 1 (Piervy Kanal, no original), controlado pelo Estado russo, depois de se ter demitido por discordar da guerra travada pela Rússia na Ucrânia.

“Quando falei com os meus chefes, disse-lhes que já não posso fazer este trabalho”, recordou a jornalista numa conferência de imprensa na capital francesa, onde trabalhava nos últimos tempos como correspondente. “Deixei o Canal 1 precisamente porque a guerra começou”, informou, afastando quaisquer rumores.

A iniciativa de revelar a razão pela qual deixou de aparecer no canal estatal russo vem do desejo de que os russos oiçam a sua mensagem, deixando de estar “zombificados” pela propaganda, explicou. Isto porque, detalhou a repórter, a televisão russa está a ser utilizada para fazer propaganda do Kremlin, revelando que as autoridades estão há anos a sufocar os meios de comunicação independentes.

A Reuters questionou o Kremlin sobre as acusações formuladas, mas, até ao momento, não houve quaisquer reacções às acusações de Zhanna.

Esta não é a primeira vez que um jornalista do Canal 1 se rebela contra a política de Moscovo nos últimos dias. Há uma semana, a produtora do Canal 1 Marina Ovsiannikova entrou em directo, durante um boletim noticioso, segurando um cartaz que denunciava a guerra na Ucrânia. “Não à guerra. Parem a guerra. Não acreditem na propaganda. Estão a mentir-vos.”

Marina Ovsiannikova, que foi detida, interrogada e multada (além de demitida), mantém a sua postura, na esperança de que o seu protesto abra os olhos dos russos à propaganda estatal.

A Rússia iniciou a invasão — o Kremlin designa o ataque como uma “operação militar especial” de “desnazificação” — à Ucrânia na madrugada de 24 de Fevereiro. Vinte e seis dias após o início da guerra, mais de 3,55 milhões de pessoas já saíram do território, de acordo com o último balanço do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, naquele que é considerado o êxodo mais rápido na Europa. Até 20 de Março, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos contabilizava 925 mortos entre civis, dos quais 75 crianças.

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