Reino Unido pede investigação à “propaganda e desinformação” do canal russo RT

Canal de notícias tem delegações em vários países e já foi banido na Alemanha, no início de Fevereiro. Governo de Boris Johnson pede ao regulador dos media que se mantenha vigilante.

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No início de Fevereiro, a RT foi proibida de transmitir na Alemanha DR

O canal de notícias russo RT, financiado pelo Governo da Rússia e acusado, por vários governos europeus, de ser um instrumento de propaganda ao serviço do Kremlin, pode vir a ser alvo de sanções no Reino Unido, semanas depois de ter sido impedido de transmitir na Alemanha.

Numa carta enviada ao regulador dos media britânicos, esta quarta-feira, a ministra da Cultura, Nadine Dorries, pediu uma vigilância apertada às emissões da RT no Reino Unido, referindo-se ao canal como “um potencial disseminador de desinformação” sobre a guerra na Ucrânia.

“Respeitando a independência do Ofcom, peço-vos uma garantia de que as vossas acções serão atempadas e transparentes, para segurança do público britânico”, disse a responsável na carta enviada ao Ofcom, citada pela Reuters.

Como ministra da Cultura, Dorries é responsável pela indigitação dos presidentes do regulador dos media, o que levou a directora-adjunta da RT, Anna Belkina, a acusar o Governo britânico de “interferir de forma directa em instituições que são apresentadas como sendo imunes à pressão política”.

A actual presidente do Ofcom, Maggie Carver, ocupa o cargo de forma interina e foi indigitada durante o mandato do anterior ministro da Cultura, Oliver Dowden.

Trabalhistas pedem proibição

Na terça-feira, o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, defendeu a proibição da RT no Reino Unido, dizendo que a medida seria um primeiro passo para “enfrentar a campanha de propaganda” do Presidente russo, Vladimir Putin.

Em resposta, um porta-voz da Ofcom disse que “todos os canais licenciados são obrigados a cumprir as regras, incluindo as que dizem respeito ao rigor e à imparcialidade”.

“Se algum canal violar essas regras, não hesitaremos em agir”, disse o porta-voz, citado pelo The Guardian.

Questionado, esta quarta-feira, sobre se irá pedir ao Ofcom que faça uma análise à licença de transmissão do canal russo no Reino Unido, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse acreditar que a ministra da Cultura já fez esse pedido.

“Vivemos num país que acredita na liberdade de expressão”, disse Johnson no Parlamento britânico. “Penso ser importante que seja o Ofcom, e não os políticos, a decidir que organizações de media devem ser banidas — ao contrário do que acontece na Rússia.”

Mais tarde, o porta-voz de Johnson, Max Blain, tentou esclarecer as declarações do primeiro-ministro.

“Tudo o que a ministra da Cultura está a pedir ao Ofcom é que o regulador tome as medidas adequadas se houver algum indício de que a RT está a ser usada para disseminar desinformação”, disse o porta-voz.

Numa resposta à agência Reuters, sem nunca se referir directamente à RT, o regulador dos media no Reino Unido disse que “seria inaceitável que qualquer canal licenciado transmitisse propaganda de um dos lados”.

“Reconhecendo a gravidade da crise na Ucrânia, temos acompanhado o caso com muita atenção e já reforçámos a nossa supervisão dos canais no Reino Unido”, lê-se num comunicado do Ofcom.

Banida na Alemanha

No início de Fevereiro, o regulador dos media na Alemanha ordenou o fim das transmissões da RT no país. Em retaliação, a Rússia mandou encerrar a redacção em Moscovo do canal alemão Deutsche Welle.

Fundada em 2005 como Russia Today, a RT tinha tentado usar uma licença sérvia para operar na Alemanha, através da Internet. O regulador do país disse que essa licença não era suficiente porque o canal tem a sua sede em Berlim e visava a audiência alemã.

Antes de ter sido banida na Alemanha, a RT já tinha sido proibida de emitir na Ucrânia, em 2014, e na Letónia e na Lituânia, em 2020.

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