Comissão propõe utilização excepcional das verbas da coesão para apoiar refugiados da Ucrânia

Novo programa de Acção da Coesão em Favor dos Refugiados da Europa (CARE) vai comparticipar as despesas imediatas dos Estados-membros no acolhimento das populações deslocadas pela guerra.

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Proposta da comissária para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, para a criação de um novo programa de Acção da Coesão em Favor dos Refugiados da Europa foi aprovada EPA/JULIEN WARNAND

A Comissão Europeia quer replicar o modelo que testou pela primeira vez quando a crise da covid-19 atingiu a Europa, e voltar a autorizar um aumento temporário do co-financiamento até 100% dos programas da política de coesão para financiar as acções dos Estados-membros na resposta a uma nova crise, desta feita humanitária, provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.

Esta terça-feira, foi adoptada uma proposta da comissária para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, para a criação de um novo programa de Acção da Coesão em Favor dos Refugiados da Europa (que tem a sigla em inglês CARE), ao abrigo do qual os Estados-membros vão poder utilizar as verbas do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), do Fundo Social Europeu (FSE) e do Fundo de Auxílio Europeu às Pessoas Mais Carenciadas (FEAD) para comparticipar despesas com o acolhimento das populações que fogem da guerra da Ucrânia.

É, mais uma vez, uma medida excepcional e que obriga a alterar o regulamento geral dos fundos para a sua flexibilização: a política de coesão, que tem uma vocação estrutural, prevê a comparticipação de investimentos de longo prazo, e não o reembolso de despesas imediatas.

Em 2020, a Comissão criou a Iniciativa para o Investimento em Resposta ao Coronavírus (ou CRII, na sigla em inglês), para facilitar a utilização de fundos estruturais e de investimento na resposta de emergência no sector da saúde, em medidas destinadas ao mercado laboral e no apoio a pequenas e médias empresas.

Agora com o CARE, abre a porta ao pagamento de despesas com o apoio e acolhimento de refugiados vindos da Ucrânia, nomeadamente na educação, no emprego, na habitação ou nos serviços de saúde, e ainda ao reembolso pela compra de produtos de primeira necessidade, como alimentação ou vestuário.

De acordo com a proposta, serão elegíveis para pagamentos através do CARE os investimentos para a instalação de estruturas de acolhimento, como centros de recepção de refugiados ou hospitais de campanha, ou para a integração das pessoas deslocadas de guerra: cursos de língua, formação profissional, apoio jurídico, aconselhamento e assistência psicológica e outros serviços.

Além do CARE, que tal como o CRII garante o acesso às verbas da política de coesão do anterior quadro financeiro plurianual que não foram executadas, ou à reafectação ou congelamento de despesas já contratualizadas, a Comissão Europeia prevê a mobilização de uma parcela adicional de dez mil milhões de euros dos fundos de Assistência à Recuperação para a Coesão e os Territórios da Europa (REACT-EU) de 2022, que também vão poder ser usados para o financiamento de acções de apoio às populações obrigadas a fugir da Ucrânia.

No fim da reunião do colégio de comissários, esta terça-feira, em Estrasburgo, o responsável pela pasta do Apoio Humanitário e Gestão de Crises, Janez Lenarcic, disse que até agora Bruxelas já disponibilizou 90 milhões de euros de ajuda de emergência para a Ucrânia (85 milhões de euros) e a República da Moldova (cinco milhões de euros), para viabilizar o fornecimento de alimentos, água, cuidados de saúde e abrigos para as populações deslocadas. “Este é um primeiro financiamento”, assinalou, lamentando as dificuldades em fazer chegar esta ajuda aos locais onde ela é mais necessária, por causa dos bombardeamentos das forças russas.

Lenarcic disse ainda que “graças à maior activação de sempre do Mecanismo de Protecção Civil da UE em resposta a uma emergência”, já foi possível distribuir milhões de artigos, como tendas, cobertores, sacos-camas, medicamentos e material de primeiros-socorros, geradores, bombas de água e outros equipamentos pela Ucrânia e os países vizinhos onde estão a chegar diariamente centenas de milhares de pessoas.

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