Adaptação é preciso

A incerteza do futuro apenas nos deixa vislumbrar aquilo que sabemos querer: a sustentabilidade da humanidade.

Foto
"O currículo mantém-se, as estratégias são as mesmas, os recursos educativos os de sempre" Paulo Pimenta/Arquivo

A educação e o trabalho. Um binómio indissociável. A educação prepara o futuro do trabalho e promove a aquisição de mais competências e conteúdos para o desempenho de acções necessárias na actualidade, numa perspectiva de life long learning. Há muito que vimos sentindo necessidade de dotar as empresas de estruturas de ensino-aprendizagem, para que os seus activos mais importantes possam acompanhar o desenvolvimento e fazer face aos desafios que lhes são colocados.

É preciso criar cultura de aprendizagem nos meios laborais; não de modo constante, interminável, mas sim, quando for necessário, constituindo por si um só um desafio. Se o fizermos de modo constante, perde o sentido, torna-se uma banalidade e desmotivando para os momentos em que aprender um novo conteúdo ou competência é de extrema importância.

Na escola, a educação prepara os alunos para a incerteza do futuro, com uma matriz curricular que parece ser a mais adequada, pelo menos para quem toma decisões. A incerteza do futuro apenas nos deixa vislumbrar aquilo que sabemos querer: a sustentabilidade da humanidade.

Dada esta certeza, o investimento na sustentabilidade do futuro é crucial, onde competências como a resolução de problemas, a inovação, que não é mais do que a criatividade ao serviço da identificação de novas oportunidades, novas abordagens curriculares para além do currículo formal, aprendizagem que integre o erro, cenários multidisciplinares, entre outas necessidades disruptivas com os tradicionais ambientes educativos, estão em cima da mesa daqueles que querem fazer avançar o futuro sustentável da educação em ordem a melhor servir a humanidade.

Quando esta pandemia que ainda vivemos trouxe todos para casa, estudantes e trabalhadores, parece que tudo o que vivíamos e que dava sentido às nossas vidas estava posto em causa. Se pensarmos bem, não foi a covid-19 que deu à luz o trabalho remoto ou híbrido, ou o ensino à distância. Estas situações ganharam mais relevância por se terem massificado, mas já havia quem aprendesse à distância e quem trabalhasse em casa e fosse poucas vezes ao escritório até porque já não tinha o seu local de trabalho. Estas pessoas tiveram uma educação formal como tantas outras e tiveram que fazer a sua adaptação a um modo diferente de exercer a sua actividade profissional.

Está visto que a capacidade de adaptação e o modo como reagimos à mudança, vai ser um factor diferenciador na educação do futuro. Como educamos para a gestão da mudança? Para a consideração de novas oportunidades com criatividade? Que disciplina e que estratégias podem facilitar a apropriação destas competências? Como deve a escola funcionar para que proporcione aos alunos a capacidade de no futuro gerir as incertezas com que se vão deparar? Tsedal Neeley, professora na Harvard Business School, numa live da Harvard Business Review adiantou que, hoje em dia, precisamos de estar preparados com três mochilas diferentes para nos conseguirmos adaptar: a abertura de mentalidade – mindset; um conjunto de recursos diversos e saber fazer uso deles, tools set, um dos quais a tecnologia, e o outro um conjunto de competências para além dos saberes técnicos, skills set.

Algumas escolas aproveitaram a embalagem da pandemia e fecharam-se sobre si mesmas, tomando todas as precauções sanitárias, mas proporcionando pouca adaptação à nova e futura realidade. O currículo mantém-se, as estratégias são as mesmas, os recursos educativos os de sempre. Os pais não podem entrar. As reuniões de pais estão transformadas em perguntas enviadas por escrito e respondidas da mesma forma. Este é o novo normal para algumas escolas. É esta a colaboração e co-construção de um futuro sustentável?

As escolas que já tinham ou conseguiram ter educação à distância durante os confinamentos, consideram-se perfeitamente adaptadas à nova realidade. Continuam a existir turmas a ir para casa em isolamento e observa-se este trânsito com indiferença. É assim, é assim que tem de ser.

O que é afinal a escola, enquanto espaço físico? Mais do que o destino de todos os dias, é uma ferramenta de socialização, de compromisso com a aprendizagem, é um espaço de ancoragem para alunos, professores e famílias. Para além de dar aulas muito similares às que foram acontecendo online, que partido estamos a tirar do espaço físico que é a escola, para o desenvolvimento integral dos alunos?

Aqueles que tem a cabeça enfiada na areia e que estão à espera que a tempestade passe, quando a tirarem do buraco, não vão reconhecer o espaço onde estão e vão ter mais dificuldade em acelerar os passos da adaptação, e possivelmente vão ficar para trás. Mais do que nunca o desenvolvimento de competências sociais e humanas é fundamental, o ir para além do currículo é imprescindível, ter uma visão partilhada de um futuro sustentável é tarefa dos líderes educativos a co-criar com todos os actores da escola.

Temos estado a sensibilizar e a investir de forma produtiva e escalável nesta imperativa mudança de mindset na educação?

Sugerir correcção
Ler 1 comentários