Turismo rural resiste melhor à pandemia e sobe receita por dormida

O turismo rural e de habitação teve uma subida de 8,6% do proveito médio por dormida no ano passado, em contraciclo com o resto do sector, mas todos sofreram com o menor número de turistas.

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Subida do proveito médio no no espaço rural e de habitação contrariou tendência do sector Ricardo Lopes

O turismo no espaço rural e de habitação foi o segmento que no ano passado melhor resistiu à pandemia, tendo registado um aumento do proveito médio por dormida de 8,6%, atingindo os 52,3 euros. Esta evolução contraria a queda de 9,4% registada em 2020 na globalidade do alojamento turístico (para 41,7 euros por dormida), depois do crescimento de 3,2% em 2019, e que foi particularmente severa nos segmentos da hotelaria e do alojamento local (que neste caso inclui apenas dez ou mais camas).

As estatísticas do turismo de 2020, divulgadas nesta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), mostram que, com excepção dos meses de Abril e Maio (em que o proveito médio por dormida recuou 12,8% e 9,8%, respectivamente), em todos os restantes meses verificaram-se aumentos do proveito médio por dormida no turismo rural e de habitação, com destaque para os meses de Agosto (13,1%), Julho (7,9%) e Setembro (7,3%).

Esta “singularidade”, sublinha o INE, “indicia que este segmento da oferta dos serviços de alojamento turístico terá sido mais resistente ao impacto da pandemia”.

O turismo no espaço rural e de habitação (que representa 5% nas dormidas e 6,3% nos proveitos por aposento) foi o que registou menores decréscimos no número de hóspedes (-37,1%) e de dormidas (-34,1%), a grande distância das reduções verificadas na hotelaria (-61,6% e -63,9%, respectivamente) e no alojamento local (-66,3% e -65%).

Olhando para os segmentos mais penalizados pela pandemia da covid-19, na hotelaria (que tem um peso de 81,1% nas dormidas e 83,9% nos proveitos de aposento) o proveito médio por dormida foi de 43,1 euros, o que se traduziu numa diminuição de 10,5% face ao ano pré-pandemia. O segmento do alojamento local, com quotas de 13,9% nas dormidas e 9,8% nos proveitos de aposento, foi o que registou maior diminuição do proveito médio por dormida (-11,3%), tendo atingido 29,6 euros.

O instituto de estatísticas nota que a redução do volume de negócios da actividade do turismo não decorreu apenas de um efeito quantidade, uma vez que “também se assistiu em geral à redução de preços”. A maior fonte da queda das receitas foi a diminuição acentuada do número de turistas a partir de Março do ano passado, com destaque para os estrangeiros. Os proveitos totais ficaram-se pelos 1,4 mil milhões de euros (a esmagadora maioria na hotelaria), menos 66,3% face a 2019.

Contracção “sem precedente histórico”

O INE recorda que em 2020 houve uma contracção “sem precedente histórico” de 73,7% face a 2019, para 6,5 milhões de turistas estrangeiros (e depois de um crescimento de 7,9% no ano anterior, em que foram batidos novos recordes). Espanha, diz o INE, “manteve-se como o principal mercado emissor de turistas internacionais (quota de 28,5%), tendo registado um decréscimo de 70,5% em 2020”. Já em dormidas, o Reino Unido manteve-se como o principal mercado emissor, com 16,6% do total dos não residentes, e uma queda de 77%.

Ao todo, as dormidas dos mercados externos apresentaram uma contracção de 74,1% e ficaram-se pelos 13,4 milhões, o que equivale a 44,3% do total. O mercado interno foi fundamental para o sector, tal como será este ano, e assegurou 16,9 milhões de dormidas (menos 35,4%), o que equivale a 55,7% do total.

O INE dá ainda conta, conforme já avançou o PÚBLICO, que 61% da população residente não fez férias fora de casa, pelo que houve menos 1,4 milhões de turistas face ao ano anterior. É preciso recuar a 2013, ano em que se sentiam de forma profunda os efeitos da troika de credores internacionais, para encontrar um resultado pior (e que contabiliza, via inquérito, quem efectuou pelo menos uma deslocação com dormida fora do seu ambiente habitual).

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