México e Brasil lutam contra a expulsão de Trump das redes sociais

Ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro anuncia apoio à iniciativa de Obrador para se discutir a “liberdade de expressão na Internet” na próxima cimeira do G20. Ex-Presidente dos EUA foi banido do Twitter e do Facebook por “incitação à violência”.

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López Obrador, Presidente do México, quer resposta internacional à "inquisição" das redes sociais Francisco Guasco/EPA

Andrés Manuel López Obrador, Presidente do México, conseguiu um aliado importante para a iniciativa lançada no mês passado, de conceber uma resposta internacional concertada contra aquilo que considerou ser um acto de censura a Donald Trump, quando plataformas digitais, como o Facebook ou o Twitter, decidiram banir o ex-Presidente dos Estados Unidos das suas redes sociais, denunciando-o por “incitação à violência”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Ernesto Araújo, falou ao telefone com o seu homólogo mexicano, Marcelo Ebrard, e transmitiu-lhe que o Governo de Jair Bolsonaro vai juntar-se ao México na luta “pela liberdade de expressão na Internet”.

O chefe da diplomacia brasileira apoiou ainda a proposta de AMLO – como é conhecido o chefe de Estado mexicano – de levar o tema à próxima cimeira do G20, agendada para Outubro deste ano.

“Na óptima conversa com o chanceler Marcelo Ebrard, do México, ficámos de trabalhar juntos no G20 pela liberdade de expressão na Internet – uma prioridade do Brasil desde o início do Governo e, mais ainda agora, ante o risco de que as redes se tornem instrumento de controlo social”, escreveu Araújo no Twitter, na quinta-feira.

Na véspera, a conta oficial do Itamaraty – o ministério dos Negócios Estrangeiros brasileiro – já tinha publicado uma mensagem a dizer que os dois ministros “convergiram inteiramente na urgência de trabalhar no G20, e noutros fóruns, em favor da liberdade de expressão nas redes”.

Não foram, no entanto, revelados quaisquer pormenores sobre os moldes ou a apresentação desse plano numa cimeira dedicada a questões maioritariamente económicas.

O ministro brasileiro também não referiu o nome do antigo Presidente dos EUA, mas o seu Governo foi um dos primeiros do mundo a criticar publicamente a decisão das redes sociais de banirem Trump.

Bolsonaro chegou a promover a utilização do Telegram, pouco depois de o Twitter ter riscado o ex-chefe de Estado norte-americano.

Sem quererem aderir a qualquer iniciativa concreta sobre o assunto, outros líderes mundiais também condenaram, ainda assim, a suspensão de Trump, como a chanceler alemã, Angela Merkel, o ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, ou o primeiro-ministro da Polónia, Mateusz Morawiecki.

Obrador e a Inquisição

Trump foi excluído de diversas plataformas digitais na sequência da invasão de apoiantes seus ao Capitólio dos EUA, em Washington D.C., a 6 de Janeiro. O antecessor de Joe Biden foi acusado de ter utilizado as suas contas nas redes sociais para instigar os manifestantes a atacarem o edifício no dia em que o Congresso confirmava a vitória do seu rival na eleição presidencial de Novembro.

Jair Bolsonaro também é um utilizador activo das redes sociais e assumiu que o Brasil “vai ter problemas piores que os Estados Unidos” nas presidenciais de 2022, caso haja suspeitas sobre o do sistema de voto electrónico brasileiro.

Certo é que o Presidente do México foi o primeiro a defender uma resposta internacional à decisão das empresas que detêm as principais redes sociais a nível global de expulsarem dirigentes políticos das suas plataformas.

“Sim, as redes sociais não devem ser utilizadas para incitar à violência e tudo isso, mas isto não pode ser um pretexto para suspender a liberdade de expressão”, criticou AMLO, em meados de Janeiro.

“Como pode uma empresa decidir, como se fosse tão poderosa, omnipotente, ou como uma espécie de Inquisição espanhola, sobre aquilo que é publicado?”, questionou Obrador.

Apesar estar no espectro ideológico oposto e de o México ter sido, durante todo o mandato de Trump, o alvo de muitos dos insultos do ex-Presidente norte-americano, ALMO criou uma boa relação com ele

Os seus críticos justificam essa proximidade com o facto de ambos os dirigentes políticos terem uma abordagem populista na sua forma de liderar e de dependerem muito das redes sociais para comunicarem com os seus apoiantes e angariarem votos. Tal como Bolsonaro.

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