Maioria quer que PS governe, mesmo que não ganhe as legislativas

Não é uma vitória esmagadora, com 39% fica longe da maioria absoluta, mas o PS confirma, nesta sondagem para as legislativas, que a maioria transversal dos portugueses quer que continue a governar – mesmo que não ganhe as eleições. Só os eleitores da direita desejam uma coligação PS-PSD.

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António Costa prepara-se para conduzir o PS de novo a São Bento Nuno Ferreira Santos

Os portugueses gostaram da “geringonça” e vêem o PS como o partido inevitável no próximo governo, mesmo que o PSD ganhe. É a grande conclusão da sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa (Cesop-UCP) feita para o PÚBLICO e RTP sobre a intenção de voto nas legislativas e coligações pós-eleitorais, na qual o PS alcança os 39% face aos 28% do PSD. E há uma surpresa: quase um quinto dos inquiridos (19%) defende que, mesmo que o PSD ganhe as eleições, o próximo Governo não deve contar com o partido liderado por Rui Rio.

Nesta segunda parte da sondagem que começámos a revelar na segunda-feira, confirma-se que há maior predisposição dos eleitores para votar nas legislativas do que nas europeias e que o voto não é tão disperso, mas mais concentrado nos partidos que já têm assento na Assembleia da República. E quem mais beneficia dessa concentração são os dois principais partidos, PS e PSD. Isso ajuda a explicar porque é que o PS tem uma estimativa de 39%, mais seis pontos percentuais do que nas europeias, e o PSD sobe cinco pontos, fixando-se nos 28%.

Estes são os dados estimados já sem a abstenção, as não-respostas e os indecisos, pois a intenção directa de voto é bem mais baixa. Entre os 1093 inquiridos que disseram que de certeza que iriam votar, 27% disseram que o farão nos socialistas, o que aponta para um resultado no intervalo entre 36% e 42% das intenções de voto (39% é a média). Já o PSD recolheu apenas 18% das intenções directas de voto, estimando-se que alcance uma votação dentro do intervalo de 25% e 31% (com média de 28%).

Se enquadrarmos estas estimativas nas restantes sondagens que têm sido relevadas desde o início do ano, percebemos que há uma tendência de subida dos socialistas. É preciso recuar a Janeiro para encontrar um resultado próximo deste (a Eurosondagem para o Expresso-SIC desse mês dava 40% ao PS e 24,8% ao PSD). Depois disso, verificou-se uma descida dos socialistas e uma subida dos sociais-democratas, atingindo o ponto mais próximo na sondagem da Aximage para o Correio da Manhã e Jornal de Negócios em finais de Março, em plena polémica das nomeações familiares, quando o PS aparecia com 34,6% e o PSD com 27,3%. Nesta sondagem da Cesop que agora revelamos, a diferença entre os dois maiores partidos fixa-se nos 11%.

Quanto aos restantes partidos com assento parlamentar, o seu eleitorado é praticamente igual, seja nas europeias, seja nas legislativas: o BE regista 9% das intenções de voto, a CDU 8%, o PAN os mesmos 3% e só a CDU perde um ponto percentual, ficando nos 7%. Já o Aliança, que nas europeias ainda alcança 3% das intenções de voto, nas legislativas não passa de 1%. Com base nestes resultados, a constituição de uma maioria no Parlamento pode ser feita apenas com o PS e qualquer outro partido (à excepção do PAN).

Sai uma coligação à esquerda, por favor

E quais são as coligações preferidas pelos eleitores? Se quisermos dizê-lo num tweet, temos de dizer qualquer uma, desde que seja à esquerda. Se o PS ganhar as legislativas sem maioria absoluta, o cenário mais votado (com 27%) é que os socialistas governem com o apoio de um ou dois partidos à sua esquerda.

Já se for o PSD a vencer, a maioria das preferências (21%) vai para um governo também com o apoio de partidos da esquerda. Mas pouco atrás, com 19%, fica a preferência por uma solução de governo sem o partido vencedor, o PSD, ou seja, 40% dos inquiridos preferem que, caso o PSD ganhe, governe à esquerda ou então que nem governe.

Ganhe quem ganhar, um governo de um só partido (sem maioria absoluta) é o cenário menos desejado. Se o PS ficar à frente, apenas 16% entendem que deve governar sozinho, e outros tantos eleitores preferiam uma coligação com um ou dois partidos à direita. Uma “geringonça” (que pode ser apenas com outro partido da esquerda) é, portanto, o cenário preferido, principalmente entre os eleitores deste espectro político.

Esta solução é a escolha preferida de 43% dos inquiridos de simpatia socialista, de 54% dos bloquistas e de 63% dos que apoiam a CDU. Só 11% dos eleitores do PS querem um acordo à direita em caso de vitória do partido de António Costa, uma percentagem que sobe para 30%, caso seja o PSD a vencer as legislativas.

Se for o PSD a ganhar, apenas 14% do total dos inquiridos desejam um governo “a solo”, enquanto 17% defendem uma coligação à direita. Qualquer destes valores é, no entanto, inferior à preferência por uma coligação com um partido à esquerda (o PS, pela natureza das coisas) ou de um governo sem o próprio PSD, como vimos atrás.

Olhando para a distribuição das intenções de voto por preferências partidárias, percebe-se que 84% dos inquiridos do eleitorado da direita preferem que o PSD, em caso de vitória, governe em coligação com o CDS. Até os simpatizantes sociais-democratas dão preferência a um regresso da PàF (36%) a um governo só do PSD (27%).

Olhando para a distribuição destes resultados por faixa etária, diríamos que, quanto mais velhos, mais “geringonça” querem. Um governo liderado pelo PS com o apoio da esquerda é o cenário preferido em todas as faixas etárias entre os 35 e os 65 anos (com preponderância para os que têm entre 55 e 54 anos).

São os jovens, entre os 18 e os 34 anos, os que são favoráveis a um entendimento entre o PS e o PSD em caso de vitória do primeiro. Mas se a vitória for para os sociais-democratas, a situação muda totalmente: aqui, os mais jovens (18-24 anos) já preferem um governo sem o PSD, e a partir dos 25 anos todos optam por uma coligação PSD-PS. Porém, para os seniores (mais de 65 anos), qualquer coligação, à esquerda ou à direita, seria melhor do que um governo só do PSD ou sem este partido.

Para os sub-24, a CDU não é opção

Um número muito redondo é aquele que a CDU alcança nesta sondagem entre os eleitores mais jovens: zero, literalmente. E isto não significa que se possa concluir que os jovens entre os 18 e os 24 não gostem da esquerda, pelo contrário: são eles a maior fatia dos eleitores do BE por idades (11%), porque a partir daí é sempre a descer. Já com o eleitorado da CDU acontece o contrário: quanto mais velhos, mais comunistas há (ainda que se distribuam mais uniformemente).

Entre os sub-24, o partido preferido é o PSD (19%), mas isto porque o voto à esquerda está mais distribuído entre o PS (15%), os tais 11% para o BE e 4% para o PAN. Já o CDS é escolhido por apenas 1%, o que parece significar que os mais jovens não gostam dos extremos. Em todas as restantes faixas etárias, o PS é o partido mais votado.

Não há praticamente diferença na intenção de voto entre homens e mulheres. As percentagens obtidas pelos partidos por género são muito próximas, com variações máximas de 2%, o que está dentro da margem de erro. A única diferença visível é nos indecisos: aí elas ficam cinco pontos acima deles. 

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