Numa cerimónia com mais de cinco anos, num evento anual promovido pela Variety, onde se celebram as mulheres, a actriz Jennifer Aniston conta que tinha 11 anos quando, após um jantar, um familiar lhe disse que podia sair da mesa, uma vez que não teria nada a acrescentar ao tema que se discutia. Aniston, conhecida por ser Rachel em Friends, nunca se esqueceu e confessa que "carregou aquela frase" até ser adulta — curioso como "sentence" em inglês, além de "frase" também significa "sentença", uma punição, um castigo —, de tal modo que a actriz de sucesso continua a sentir desconforto, se estiver à mesa com estranhos. Os traumas chegam com a infância e não vão largar-nos jamais. Quem os não tem?

Mas não é por termos traumas que vamos ficar presos a eles. Há que identificá-los, desconstruí-los e não repeti-los — tão fácil de escrever e tão difícil de pôr em prática! Até porque nem sempre os descobrimos, convencidos que traumas são para os outros, que tivemos infâncias perfeitas e que os outros é que estão "estragados". Não é verdade, diz a psicóloga clínica Mariana Caldeira, que escreveu um livro sobre famílias tóxicas, partindo da sua experiência de ter acreditado, até ter tido um "momento mais desafiante", que tivera uma família saudável.

Às  vezes, o mau trato é evidente, são pais desequilibrados que gritam, que agridem, que ignoram as necessidades dos filhos, que os negligenciam; outras vezes, a coisa é mais subtil, são palavras como as que Aniston ouviu ou outras que nos fazem sentir crianças estúpidas, gordas, fracas, incapazes, mal-amadas. Por vezes, são palavras ou acções que nos perseguem até à vida adulta e que se repetem num ciclo sem fim. Pais que nos julgavam em crianças e continuam a fazê-lo em adultos. Mariana Caldeira defende que há que impôr limites e, por vezes, é preciso cortar laços, quando os maus-tratos são persistentes e não há diálogo possível. Um passo que não é fácil, afinal continuamos a olhar para a família como "sagrada", como se tivéssemos de aguentar tudo, de suportar tudo, de engolir tudo porque são os nossos pais, porque são sangue do nosso sangue. Sempre há procura de aprovação, de reconhecimento, de amor. "A família deveria ser um porto de abrigo, mas muitas vezes é o oposto, é uma grande fonte de angústia, de insegurança, de desprotecção, de desamparo e, portanto, quando assim é, não nos faz bem. E tudo o que não nos faz bem não deve ser alimentado."

No fundo, é como o divórcio, ninguém vai ficar numa relação violenta porque a Igreja diz que o casamento é indissolúvel. Descobrimos que não é, precisamos de descobrir também que a família não é sagrada. Mas, nos filhos, pode ficar um vazio, é preciso fazer o luto de uma ou duas pessoas que continuavam vivas, que não estão na nossa vida porque não querem, porque nada fizeram para estar. "Vamos ter de aprender a lidar com esse vazio. Mas pela minha experiência profissional, as pessoas sentem leveza, porque estão a reconstruir a sua própria identidade, a sua própria essência. É uma dor [que] se supera."

A psicóloga defende que a terapia ajuda. Quem também é a favor da terapia, mas através dos livros é Sandra Barão Nobre, que lançou um título sobre biblioterapia. Nesse, a autora explica as bases e a teoria daquilo que faz, como através dos livros, as pessoas podem conhecer-se melhor, descobrir-se ou encontrar-se. Tal como aconteceu com ela, quando decidiu mudar de vida e dedicar-se a esta área de estudo e de trabalho. Diz que, por vezes, "as palavras do outro nos conseguem interpretar melhor do que as nossas próprias palavras". Esta é uma terapia para quem quer descobrir-se, mas quando há casos que precisam de outro acompanhamento, a biblioterapeuta reencaminha, salvaguarda.

Em saúde, é preciso literacia, alerta a médica Isabel do Carmo — que a jornalista Andreia Friaças, no seu podcast Clandestinos, recorda o percurso como fundadora das Brigadas Revolucionárias. A endocrinologista lamenta que a capacidade de ler não seja suficiente para interpretar, levando a que as pessoas sucumbam a campanhas comerciais e, por exemplo, adiram a práticas e a consumos que não são saudáveis — curioso como esta ideia de iliteracia se pode aplicar a tantos outros temas, nomeadamente à política: pessoas que aderem a partidos antidemocráticos porque não sabem interpretar o que lêem, colocando a democracia em estado de alerta. A professora Inês Ferraz dá algumas dicas aos pais para ajudar os filhos a compreenderem"Se quer ajudar uma criança a compreender o que lê tem de, em primeiro lugar, investir no conhecimento geral da criança. Está comprovado cientificamente que o conhecimento geral leva a melhorias significativas e duradouras na compreensão escrita."

Mas voltando a Isabel do Carmo, a especialista dá o exemplo dos suplementes vitamínicos. Também a médica norte-americana Trisha S. Pasricha responde a um leitor sobre a toma de multivitamínicos e explica que existem estudos, alguns deles financiados por marcas de suplementos, cujas conclusões não são claras sobre os benefícios. "Quando um doente saudável me fala sobre o seu multivitamínico, utilizo esse facto como ponto de partida para explorar os nutrientes que ele poderá estar preocupado por não estar a ingerir através das suas refeições e as formas de o ajudarmos a ter uma dieta mais equilibrada", escreve Pasricha. Ou seja, é importante apostar numa dieta saudável e sabemos como a mediterrânica cumpre todos os requisitos.

Se Isabel do Carmo quer uma campanha de promoção da literacia, o nutricionista Pedro Carvalho quer que a política regule o mercado, preocupado que está com o consumo e a adição a alimentos ultraprocessados. "Portugal está em 19.º lugar europeu do Nanny State Index (índice que avalia a carga fiscal presente em refrigerantes, álcool, tabaco normal e electrónico) atrás de países como Noruega, Finlândia, Irlanda, Suécia, Reino Unido, França, Países Baixos e Dinamarca, o que revela que taxar em prol da saúde pública não é uma medida "terceiro-mundista", nem castradora das "liberdades individuais" cujo resultado é uma sobrecarga gigantesca ao Serviço Nacional de Saúde", argumenta.

No âmbito do Dia Mundial da Actividade Física, que se assinalou ontem, as médicas Sandra Martins e Ninel Santos apelam ao exercício — a primeira preocupada com a obesidade, a segunda com o coração. Sobre obesidade, o The Washington Post revela, numa investigação feita em parceria com The Examination, que há dietistas norte-americanos patrocinados pela indústria alimentar a defender a antidieta. A investigação revela que a General Mills, fabricante dos cereais Cheerios ou dos gelados Häagen-Dazs, percorreu os EUA a divulgar estudos antidieta. Ofereceu brindes a dietistas registados que promovem os seus cereais online com o hashtag #DerailTheShame e patrocinou influenciadores que promovem os seus snacks açucarados, além de ter recrutado uma equipa de lobistas e opôs-se às políticas federais que acrescentariam informações sobre saúde aos rótulos dos alimentos.

Atenção, que a tendência poderá já andar por aí, chega cá tudo, atrasado, mas chega! Por isso, recordo um texto publicado há dois anos sobre o que são os alimentos ultraprocessados e como substituí-los; e outro mais recente que reúne nove sinais de alerta para identificá-los. Se há empresas apostadas em vender o seu peixe, custe o que custar (antes fosse peixe!), há outras que querem evitar problemas como a indústria da beleza e cosmética que foi surpreendida por um mercado crescente entre consumidores muito jovens, crianças a partir dos oito anos. Miúdos influenciados pelas redes sociais, sobretudo pelo TikTok, que querem pôr tudo e mais umas botas na cara, desde a maquilhagem — como já escrevemos no início deste ano —, aos séruns, esfoliantes e outros produtos pensados para peles mais maduras e que poderão, ao ser aplicados por crianças, ter consequências trágicas. Por isso, as marcas apelam: "Não comprem os nossos produtos."

Na terça-feira, morreu o homem mais velho do mundo. O segredo para a sua longevidade? "Trabalhar muito, descansar nos dias de folga, ir para a cama cedo, beber um copo de aguardente todos os dias, amar Deus e trazê-lo sempre no coração", revelou o próprio Juan Vicente Pérez Mora. 

Boa semana!