André Villas-Boas apresenta órgãos sociais. “SAD pertence aos credores”, alerta Angelino Ferreira

Angelino Ferreira e António Tavares são os nomes avançados para o Conselho Fiscal e Mesa da Assembleia-Geral para um novo FC Porto. Sede da campanha eleitoral recheada por colecção histórica.

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André Villas-Boas, candidato à presidência do FC Porto Tiago Lopes
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André Villas-Boas apresenta órgãos sociais esta quinta-feira Tiago Lopes/Publico
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André Villas-Boas tem sede de campanha junto à Boavista Tiago Lopes
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O troféu da Liga dos Campeões e a Taça UEFA cumprimentam os sócios que entram na sede da candidatura de André Villas-Boas. Não são os verdadeiros – esses estão no museu do clube –, mas a atenção ao pormenor das réplicas em exibição impressiona. O simbolismo das mais recentes conquistas internacionais é o ponto de partida numa viagem que o candidato à presidência convida os portistas a fazer. Esta quinta-feira, foram oficialmente confirmados os dois primeiros ajudantes na luta pela presidência: Angelino Ferreira e António Tavares.

Angelino Ferreira chegou a ser administrador financeiro da SAD portista entre 2010 e 2014, deixando o clube após uma ruptura com Pinto da Costa. O antigo vice-presidente chegou a criticar publicamente a participação de Alexandre Pinto da Costa, filho do dirigente, em negócios feitos pelo clube. Na última década, Angelino Ferreira manteve-se relativamente afastado da vida do clube. Volta agora pela mão de André Villas-Boas para assumir o Conselho Fiscal e Disciplinar.

"Como presidente vou exigir a Angelino Ferreira que continue a ser como é: sério, rigoroso, um portista 'dos quatro costados'", refere André Villas-Boas. Acima de tudo, o candidato adianta que o antigo administrador terá a tarefa de defender os interesses dos sócios. "Não ser conivente com qualquer acto de gestão em que os principais interesses dos associados não estejam a ser defendido".

Angelino Ferreira diz que tem como objectivo defender os valores do clube, mostrando a ambição de reverter a situação financeira negativa que o FC Porto atravessa. "Aceitei o convite para servir o FC Porto com honra e orgulho como sempre o fiz. Em particular neste projecto, transformador e renovador. Disponibilizo-me com espírito de missão para, em conjunto com os órgãos sociais, revertermos a grave situação financeira que o clube atravessa", adianta o administrador, "um homem dos números" – como o próprio se assume.

E foi de números que Angelino falou. Em contas rápidas, passivo de 516 milhões de euros e capitais próprios negativos de 210 milhões de euros. O cenário é "realmente preocupante", alerta o antigo administrador, reiterando que a SAD portista "pertence aos credores" enquanto não existir uma reversão desta situação.

O segundo nome avançado por André Villas-Boas é o do actual provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto. António Tavares foi deputado entre 1985 e 1991, ocupando o cargo de provedor desde 2010. Licenciado em Direito e doutorado em Ciência Política, assumirá o cargo de presidente da Mesa da Assembleia Geral.

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António Ferreira, sócio número 159 do FC Porto Tiago Lopes

"A Assembleia Geral deve ser o fórum onde todos os associados podem dar o seu contributo, generoso no engrandecimento do clube. O FC Porto é um espaço de liberdade, feito por homens e mulheres livres. Esta candidatura corporiza as palavras de Almeida Garrett: 'Se na nossa cidade há muito quem troque o V pelo B, há pouco quem troque a honra pela infâmia e a liberdade pela servidão'. Só há um Porto e viva o FC Porto", resumiu António Tavares.

Villas-Boas também aproveitou a ocasião para se debruçar sobre as escolhas: "Os cargos exigem que estes titulares cumpram e façam cumprir os estatutos do clube, com empenho, dedicação. Desde que este projecto arrancou, encontrar os perfis das pessoas para este desafio exigiu uma grande reflexão. Reuni dois grandes portistas e portuenses que encaixam no espírito de missão que está por trás desta candidatura e em que tenho plena confiança".

Sócios "de ouro" com Villas-Boas

As paredes da antiga garagem de André Villas-Boas são agora adornadas por dezenas de camisolas do clube nas mais variadas modalidades, com fotografias dos plantéis, jogadores e momentos mais marcantes do FC Porto. A importância do actual presidente portista, Jorge Nuno Pinto da Costa, não é colocada em segundo plano, com várias alusões ao histórico dirigente. Mas a vontade de modernização e mudança é evidente no espaço, com o Dragão de Ouro conquistado pelo treinador em lugar de destaque.

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Pinto da Costa não foi esquecido na sede de campanha de André Villas-Boas Tiago Lopes/Publico

Na manhã desta quinta-feira, o candidato esteve à conversa com os associados “azuis e brancos”: de sorriso nos lábios, dedicou uns minutos a cada um e acedeu a todos os pedidos para selfies. Ao lado dos prémios e medalhas conquistadas ao serviço dos "dragões", dois livros servem para recolher as assinaturas. António Pereira, sócio n.º 159 do FC Porto, é até ao momento o de número mais baixo a apoiar o candidato.

"Parece-me que este clube precisa de uma mudança na condução. Tenho o maior respeito do mundo por Pinto da Costa, dificilmente quem virá a seguir fará uma obra igual à dele. Mas chegou o tempo da mudança", diz o octogenário, sócio há 76 anos.

A esperança secreta deste associado é a de que Pinto da Costa não se recandidate e facilite a transição de poder. "Sendo ele uma pessoa inteligente, acho que não se devia recandidatar, ainda saía pela porta grande. Seria uma humilhação perder em eleições para um homem extraordinariamente importante para o clube e a cidade".

Raúl Jorge, associado dos “dragões” há mais de 60 anos, foi outro dos que fez questão de “emprestar” a assinatura ao candidato à presidência. Em conversa com o PÚBLICO, Raúl queixa-se que o clube dá pouco espaço a vozes discordantes da actual administração, encontrando no ex-treinador um representante da sua insatisfação.

“Ia a todas as assembleias-gerais e sentia que não existia liberdade de expressão. Algum sócio que discordasse era alvo de represálias dos Super Dragões, ouvia insultos à saída. Nesta lista sinto que há liberdade total, temos o André a ouvir com os sócios. Era completamente impensável acontecer o mesmo com Pinto da Costa”, aponta.

Raúl considera, contudo, que os sócios tiveram a sua quota-parte de responsabilidade pelo estado a que o clube chegou, anestesiados pelo sucesso desportivo do clube. Algo que, no passado mais próximo, s deve apenas a uma pessoa: “A administração não é responsável pelo sucesso desportivo recente, tudo se deve ao treinador. Se não fosse o Sérgio Conceição a segurar nas coisas...já tem feito muito com as equipas que lhe dão."

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