Wegovy e Ozempic não foram associados a aumento de pensamentos suicidas, conclui estudo dos EUA

Análise dos dados de mais de 1,8 milhões de doentes dos EUA revelou um menor risco de pensamentos suicidas nas pessoas que tomam semaglutido em comparação com as que utilizam outros medicamentos.

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O semaglutido pertence a uma classe de medicamentos conhecidos como agonistas dos receptores GLP-1 Victoria Klesty/Reuters
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Um grande estudo norte-americano não encontrou provas de que a toma do Ozempic ou do Wegovy, da empresa Novo Nordisk, esteja associada a um aumento dos pensamentos suicidas, informaram os investigadores.

Tanto o Ozempic (para o tratamento da diabetes de tipo 2) como o Wegovy (para o tratamento da obesidade) têm o mesmo princípio activo, o semaglutido.

Em vez disso, a análise dos dados dos registos médicos electrónicos de mais de 1,8 milhões de doentes revelou um menor risco de pensamentos suicidas novos e recorrentes nas pessoas que tomam semaglutido em comparação com as que utilizam outros medicamentos para a perda de peso ou para a diabetes.

O semaglutido pertence a uma classe de medicamentos conhecidos como agonistas dos receptores GLP-1, originalmente concebidos para tratar a diabetes de tipo 2. Para além de ajudarem a controlar os níveis de açúcar no sangue, provocam uma sensação de saciedade.

As preocupações com os relatos de ideação suicida associados ao semaglutido levaram a uma investigação da Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês), enquanto a agência reguladora dos medicamentos dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA, na sigla em inglês), listou a ideação suicida como um potencial efeito secundário destes medicamentos a ter em atenção.

Uma análise efectuada pela agência de notícias Reuters no ano passado revelou que a FDA tinha recebido 265 relatos de pensamentos ou comportamentos suicidas em doentes que tomavam semaglutido ou medicamentos semelhantes desde 2010. Trinta e seis desses relatos descrevem uma morte por suicídio ou suspeita de suicídio.

A agência Reuters sublinha que esses relatos não provam uma ligação entre um medicamento e um efeito colateral, mas podem sinalizar aos reguladores a necessidade de estudar um risco específico.

Para este estudo, publicado online pela revista Nature e financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, os investigadores analisaram os dados de 240.258 pacientes norte-americanos a quem foi prescrito Wegovy ou outros medicamentos para perda de peso e de quase 1,6 milhões de pessoas com diabetes de tipo 2 a quem foi prescrito Ozempic ou outros tratamentos.

Os investigadores compararam cerca de 53 mil doentes que tomavam Wegovy com o mesmo número de utilizadores de outros medicamentos para perda de peso.

Os resultados mostraram que, durante os primeiros seis meses de utilização, 0,11% dos utilizadores de Wegovy apresentaram pensamentos suicidas, contra 0,43% dos utilizadores de outros fármacos como a bupropiona, naltrexona, orlistato, topiramato, fentermina ou setmelanotida. Nenhum destes outros medicamentos pertence à mesma classe do semaglutido ou dos fármacos Mounjaro e Zepbound, da empresa farmacêutica Eli Lilly, que contêm o agonista dos receptores GLP-1 chamado tirzepatida.

Depois de ter em conta outros factores de risco, o risco de pensamentos suicidas pela primeira vez foi 73% inferior com o Wegovy, segundo os investigadores. Nenhum doente do grupo do Wegovy relatou uma tentativa de suicídio, em comparação com 14 utilizadores dos outros medicamentos, segundo o relatório.

Entre os pacientes com antecedentes de ideação suicida, o risco de pensamentos suicidas recorrentes foi 56% menor com o Wegovy do que com outros medicamentos para perda de peso. Foram observados padrões semelhantes para a utilização do Ozempic em comparação com outros medicamentos para a diabetes.

Os resultados foram consistentes, independentemente do sexo, idade ou etnia dos pacientes, para ambas as formulações de semaglutido, de acordo com o relatório.

Dissipa as preocupações

Um estudo observacional retrospectivo deste tipo não pode provar que os agonistas dos receptores GLP-1 não aumentam o risco de ideação suicida, mas os resultados podem dissipar as preocupações.

Além disso, os investigadores não puderam avaliar o significado estatístico das diferenças nas tentativas reais de suicídio, que reconhecem serem “criticamente diferentes das ideações suicidas”.

“A explosão da popularidade deste medicamento torna imperativo compreender todas as suas potenciais complicações”, afirmou, em comunicado, a co-autora do estudo, Pamela Davis, da Faculdade de Medicina da Universidade da Reserva Ocidental de Case, nos Estados Unidos.

“É importante saber que as sugestões anteriores de que o medicamento pode desencadear pensamentos suicidas não se confirmaram nesta população muito grande e diversificada nos EUA”, conclui.

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