Eleições inglesas: conservadores preparam-se para o pior; Labour diz estar “a caminho de uma maioria” em 2024

Primeiros resultados das eleições locais de Inglaterra dão vitórias importantes aos trabalhistas e aos liberais-democratas. Tories falam em noite “terrível” e podem perder mais de mil lugares.

Foto
Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, acredita que vai chegar a primeiro-ministro nas próximas legislativas Reuters/HENRY NICHOLLS
Ouça este artigo
--:--
--:--

Com os resultados de cerca de um quarto dos mais de oito mil lugares em disputa nas eleições locais de Inglaterra já divulgados, durante a madrugada e manhã desta sexta-feira, é o Partido Trabalhista, na oposição, quem tem mais motivos para celebrar, deixando o Partido Conservador, no Governo, na angústia de poder estar a caminho de um verdadeiro desastre eleitoral.

Por esta altura, os trabalhistas já elegeram 687 vereadores, tendo conquistado 130 lugares à oposição, com especial destaque para os importantes councils de Plymouth (Sudoeste), Medway (Sudeste) e Stoke-on-Trent (Centro), considerados fundamentais para as ambições do partido nas próximas eleições legislativas, previstas para 2024.

“Estes são os principais campos de batalha, quando estamos a caminho da próxima eleição [nacional]. E não tenham dúvidas: isto significa que estamos a caminho de uma maioria trabalhista nas próximas eleições”, afiançou Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, em Medway, perante uma multidão de militantes locais em êxtase com a primeira vitória naquele council desde 1998.

Em sentido inverso, os tories conseguiram eleger, até ao momento, 478 representantes, e já perderam 242, não só para o Labour, principalmente nas regiões brexiteers, mas também para os Liberais-Democratas, nas zonas mais abastadas e remainers, como o council histórico de Windsor e Maidenhead (Sul), vencido por um candidato liberal de apenas 22 anos de idade.

Para John Curtice, professor de Política na universidade escocesa de Strathclyde e especialista em eleições e sondagens, o Partido Conservador pode estar a caminho de uma derrota de enormes proporções, semelhante à de 2019, quando perdeu cerca de 1300 vereadores.

O académico diz que os tories podem vir a perder perto de mil dos 3363 vereadores que têm, cumprindo o cenário pré-eleitoral mais pessimista.

Johnny Mercer, deputado conservador por Plymouth na Câmara dos Comuns, descreveu a noite eleitoral de quinta-feira como “terrível” e Greg Hands, presidente do partido, assumiu a “desilusão” pelas perdas de vereadores.

O primeiro-ministro, Rishi Sunak, disse, no entanto, que ainda é cedo para tirar grandes conclusões e lembrou que o Partido Conservador está a “fazer progressos” noutros councils importantes, cujos resultados ainda não são conhecidos, como Peterborough, Bassetlaw ou Sandwell, na zona central do país.

E rejeitou a tese de que estas eleições, realizadas em 230 councils, mostram uma tendência favorável ao Labour e ao seu objectivo de vencer as primeiras eleições legislativas em quase 20 anos.

“Não estou a detectar nenhuma onda massiva de movimento [dos eleitores] na direcção ao Partido Trabalhista ou de entusiasmo com a sua agenda”, atirou Sunak, que enfrenta o seu primeiro exame eleitoral desde que foi nomeado chefe do Governo e do Partido Conservador, há cerca de seis meses, prometendo contrariar a “ameaça existencial” tory.

Para muitos conservadores, a derrota do partido nestas eleições locais já era expectável, tendo em conta a crise económica e energética que o Reino Unido enfrenta, os impostos elevados, os efeitos do “Brexit”, da pandemia e da guerra no aumento dos preços e na subida da inflação e a degradação dos serviços públicos verificada nos últimos anos.

Mas nem todos alinham na tese do fenómeno, comum, de punição do Governo em funções. Para alguns tories, a actual liderança também está a ser castigada pelos escândalos e pela turbulência que o partido tem vivido, não só com este primeiro-ministro, mas principalmente com os dois anteriores.

“O problema são os danos que Boris Johnson e Liz Truss causaram à 'marca' conservadora”, criticou Gavin Barwell, antigo chefe de gabinete de Theresa May.

Numa altura em que está a mais de 15 pontos percentuais de distância dos trabalhistas segundo praticamente todas as sondagens a nível nacional, o Partido Conservador não pode deixar de olhar para o desfecho final das eleições locais inglesas como uma possível amostra do que pode vir a acontecer em 2024.

Sugerir correcção
Comentar