Escola António Arroio fechada em protesto pelo clima: “Menos conversa, mais acção”

Alunos de escolas em Lisboa estão em protesto pelo clima e pedem o fim dos combustíveis fósseis. “Vamos só continuar a gritar a plenos pulmões até nos ouvirem, até o dia acabar”, dizem.

#MAM Maria Abranches - 2 de Maio 2023 - Alunos de escolas em Lisboa estão em protestos pelo clima e pedem o fim dos combustíveis fósseis, Lisboa.
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Escola António Arroio, em Lisboa Maria Abranches
#MAM Maria Abranches - 2 de Maio 2023 - Alunos de escolas em Lisboa estão em protestos pelo clima e pedem o fim dos combustíveis fósseis, Lisboa.
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Escola António Arroio, em Lisboa Maria Abranches
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Escola António Arroio, em Lisboa Maria Abranches

“Não sei onde estás a ir, mas para as aulas não é de certeza”, avisou um aluno para a colega que passava a esquina da Escola Artística António Arroio, em Lisboa. Na manhã desta terça-feira, os estudantes do movimento Fim ao Fóssil: Ocupa! impediram a abertura dos portões da escola, levando a direcção a suspender as aulas.

A António Arroio está entre cerca de uma dezena de escolas e faculdades que neste dia 2 de Maio fazem ocupações pelo clima, pedindo o fim dos combustíveis fósseis em Portugal até 2030 e electricidade 100% renovável e a preços acessíveis a todas as famílias até 2025, juntando-se a estudantes em vários países europeus. Os alunos garantem que só abandonam o protesto quando juntarem 1500 pessoas comprometidas em participar numa acção de protesto na entrada de gás natural do Porto de Sines, a 13 de Maio.

Na escola António Arroio, pouco antes das 9h, quase uma centena de alunos juntava-se à volta do grupo que organiza a ocupação, de megafone na mão e cartazes colados ao longo de todo muro da escola. Pelas 10h, permaneciam cerca de 30 estudantes, o núcleo duro da ocupação, satisfeitos com a vitória do dia. “Vamos só continuar a gritar a plenos pulmões até nos ouvirem, até o dia acabar. E amanhã é um novo dia”, garante Leonor Pêra, 17 anos, uma das porta-vozes da ocupação.

De manhã também os alunos da escola secundária D. Luísa de Gusmão tentaram fechar os portões e ocupar o edifício, mas sem sucesso. Tal como aconteceu na semana passada, a polícia foi chamada para trazer os adolescentes para fora dos portões. Enquanto isso, na António Arroio, os alunos ainda se lembram, com uma pontada de orgulho, que o director da escola não quis deixar entrar a polícia durante as ocupações de Novembro, quando os alunos interromperam as actividades lectivas e, durante algumas horas, efectivamente ocuparam a escola.

Maria Abranches
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“É a revolução, malta!”

“A ocupação passada foi um pouco caótica”, reconhece Leonor. “Mas funcionou. É isso que interessa.” Desta vez, os alunos ficaram de fora do portão, mas satisfeitos por terem conseguido fechar a escola. “Se é para ocupar, é para fechar, porque nenhum de nós pode dar mais faltas”, desabafa a estudante, recordando a semana de Novembro.

Nos últimos meses, explica, não houve ocupações, mas os estudantes estiveram “o contrário de parados”: todas as semanas foram organizadas actividades, desde palestras à projecção de documentários, passando por uma limpeza do espaço à frente da escola, “terças e quintas, com vassouras e pás fornecidas pelas auxiliares”. Também os professores dão uma ajuda, seja das disciplinas de Desenho, de História ou de Português.

Os que “menos aderem” são os professores de Projecto, disciplina da qual depende a transição de ano. Mas também desses os alunos não se esquecem: “Organizamos de forma a não prejudicar alunos do 12.º ano, que têm dentro de Projecto a formação em contexto de trabalho.”

“É a revolução, malta!”, grita alguém, ao fim de mais uma ronda de cânticos. Alguns alunos juntam-se numa roda para uma breve assembleia, algo frequente nas ocupações, em que todas as pessoas são convidadas a pôr questões e partilhar inquietações. Mas muitos outros seguem em sentido contrário, alguns contentes com o dia sem aulas, outros frustrados por perderem aulas de disciplinas importantes, como Projecto. Uma aluna do 11.º ano reconhece que “a causa é muito importante” e “fechar a escola é maneira de serem ouvidos”, mas preferia que a acção directa fosse dirigida, por exemplo, às empresas ligadas à exploração fóssil, ao invés de interromper o funcionamento das aulas.

“Trazer pessoas para a nossa causa”

Nesta Primavera das Ocupas, continuam as ocupações das faculdades de Letras e de Psicologia da Universidade de Lisboa, que se iniciaram no dia 26 de Abril. Os jovens também têm ocupações agendadas para a faculdade de Belas-Artes da U. Lisboa, o Instituto Superior Técnico e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova. Fora de Lisboa, começaram nesta terça-feira ocupações na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

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Escola Secundária Camões, em Lisboa Maria Abranches

Na Escola Secundária Luís de Camões, também em Lisboa, os alunos abriram as hostilidades às 10h30, com um desfile de batucada a circular pelo pátio e a parar à porta da entrada da escola. Eram cerca de 30 alunos, que esperavam que vários colegas se lhes juntassem, à semelhança do ocorrido nas ocupações de Novembro.

Desta vez, têm uma programação completa, com palestras, momentos de convívio e até concertos. Se antes os estudantes queriam confrontar o Governo, agora têm outros planos. “O objectivo é trazer pessoas para a nossa luta, para a nossa causa”, explica Clara Pestana, de 17 anos.

Desta vez vão tentar fechar a escola, como aconteceu na António Arroio? Talvez sim, talvez não – também nas ocupações são precisas abordagens diferentes, considera Clara. Nos protestos de Novembro, quando uma das reivindicações era a demissão do ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, “o Governo não respondeu”. Desta vez, a estratégia é outra. “Precisamos da sociedade”, reconhece a estudante, para quem “a variedade de acções permite que as pessoas se juntem”.

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Na iniciativa pensada para Sines, para a qual os estudantes esperam ajudar a angariar 1500 participantes, “todos os níveis de envolvimento são bem-vindos”, desde a linha da frente até aos manifestantes que não se envolverão na acção directa. “Os seus limites pessoais e a sua segurança não são postos em causa por irem a Sines”, encoraja a aluna.

O director da Escola Secundária de Camões, João Jaime Pires, falou ao PÚBLICO num momento em que os alunos ainda estavam a ir “de sala em sala, a preparar as actividades que estão a fazer”. Apesar de um pouco apreensivo por se estar “a um mês de acabar as aulas”, o docente afirma ter conseguido arranjar, com os alunos, “uma solução de encontro” para manter as aulas a decorrer.

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