Estudantes voltam às ocupações pelo clima e procuram aliados fora das escolas e faculdades

“Primavera das Ocupas” promete não arredar o pé de mais de uma dezena de estabelecimentos de ensino até que 1500 pessoas se comprometam em participar numa acção no porto de Sines.

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Estudantes ocupam escolas secundárias e faculdades apelando a que 1500 pessoas se juntem a uma acção no porto de Sines Daniel Rocha

Estudantes de Lisboa, Coimbra e Faro vão ocupar mais de dez escolas e universidade a partir desta quarta-feira, 26 de Abril, com duas reivindicações centrais: o fim do investimento em combustíveis fósseis em Portugal até 2030 e electricidade de fontes 100% renováveis, acessível para todas as famílias, até 2025.

O plano é que as ocupações terminem apenas “quando isto não for só um tema de estudantes e de activistas”, explica ao PÚBLICO a estudante de medicina Teresa Núncio, uma das porta-vozes desta acção. E como é que saberão que o objectivo foi conseguido? Quando houver 1500 pessoas inscritas no protesto que decorre a 13 de Maio no porto de Sines, “a principal entrada de gás fóssil em Portugal”, num “movimento de resistência civil” organizado pela campanha (ou “plataforma de acção”) Parar o Gás, da qual a Greve Climática Estudantil faz parte.

No site da “Primavera das Ocupas” estão listadas ocupações em cinco escolas secundárias de Lisboa (António Arroio, José Gomes Ferreira, Luísa de Gusmão, Luís de Camões e Rainha D. Leonor) e cinco faculdades da Universidade de Lisboa (Psicologia, Belas-Artes, Letras, Ciências e Técnico). Fora da capital, o site lista ocupações na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e ainda em Faro, na Escola Secundária Tomás Cabreira e na Universidade do Algarve. Algumas ocupações começarão apenas no dia 2 de Maio, data da mobilização internacional de estudantes.

Esta quarta-feira, começam a ser ocupadas as faculdades de Letras e de Psicologia da Universidade de Lisboa, o Instituto Superior Técnico, a escola Luísa de Gusmão, em Lisboa, e a escola secundária Tomás Cabreira, em Faro. Estão também marcados protestos de solidariedade com as ocupações no Liceu Camões, na escola Josefa de Óbidos, na escola Rainha D. Leonor, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e na Universidade do Algarve.

Lição aprendida

Em Novembro do ano passado, centenas de estudantes ocuparam escolas secundárias e faculdades, com foco em Lisboa, exigindo a demissão do ministro da Economia, António Costa Silva, cujo percurso profissional esteve ligado à indústria dos combustíveis fósseis. “O Governo ignorou este apelo, mantendo o seu roteiro para o colapso climático”, denunciam os estudantes, no seu consenso de acção.

Durante a ocupação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), quatro estudantes foram detidos e posteriormente condenados por um crime de desobediência com uma multa de 295 euros. Também as alunas em protesto pelo clima que se reuniram com o ministro da Economia no final das ocupações, saíram do encontro e colaram as mãos no chão, à entrada do ministério, tendo sido retiradas pela polícia. Na altura, explicaram que as propostas apresentadas tinham sido recusadas.

“O que o Governo nos oferece é inacção, por isso como colectivo fazemos o oposto: procurar soluções que resultem, aprender com o que não resulta e andar para a frente”, afirma a estudante.

A primeira mudança estratégica foi procurar propostas mais concretas, associando a crise do custo de vida com a crise na energia e reivindicando, assim, energia 100% renovável e acessível até 2025.

“Comprometo-me a criar disrupção para parar com a destruição”

Para além das duas reivindicações políticas, o movimento percebeu que é preciso procurar aliados na sociedade civil e passar a mensagem: “Qualquer pessoa pode criar mudança.” O que é preciso agora, acredita Teresa Núncio, é procurar as vias que já foram bem sucedidas ao longo da história, nomeadamente a mobilização da sociedade em torno de “movimentos e disrupção”.

“A crise climática não é normal, a nossa resposta não pode ser normal”, sublinha a estudante, defendendo que “a desobediência civil é a resposta” em tempos de crise climática. “Só vamos sair daqui quando 1500 pessoas se comprometerem com a acção na maior entrada de gás fóssil do país pelo corte de emissões”, garante Teresa.

As pessoas interessadas podem procurar o formulário de inscrição no site das ocupações, na página intitulada “Comprometo-me a criar disrupção para parar com a destruição”.

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