Susana Nobre leva Cidade Rabat ao Festival de Berlim

Estreia na ficção da autora de No Táxi do Jack é o primeiro filme português anunciado para o evento de Fevereiro.

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Cidade Rabat é a estreia na ficção de Susana Nobre e tem como protagonista a actriz Raquel Castro DR

Cidade Rabat, de Susana Nobre, é o primeiro filme português a ser anunciado para a edição 2023 da Berlinale. O festival de cinema alemão, cuja 73.ª edição decorre de 16 a 26 de Fevereiro, mostrara já a anterior longa-metragem da realizadora, No Táxi do Jack, em 2021, na secção Forum.

É também nesta secção paralela não competitiva que irá ser exibido Cidade Rabat, nas palavras de Susana Nobre uma “comédia melancólica” à volta do luto, sobre uma mulher de 40 anos (Raquel Castro) confrontada com a morte da mãe.

Trata-se da primeira longa assumidamente de ficção de uma cineasta que tem sempre navegado nas zonas híbridas do “cinema do real”, e que é já uma habituée dos festivais, com presenças anteriores em Cannes (Quinzena dos Realizadores, com a curta-metragem Provas, Exorcismos) ou Roterdão (Tempo Comum, na competição oficial).

Num ano em que Roterdão apresenta apreciável presença portuguesa (com filmes de Edgar Pêra, Alexander David ou André Gil Mata), Cidade Rabat é o primeiro título de produção nacional a ser anunciado para o Festival de Berlim. O evento recebeu no ano passado Super Natural, de Jorge Jácome, ou O Trio em Mi Bemol, de Rita Azevedo Gomes, e foi na capital alemã que teve início em 2020 o extraordinário percurso internacional de A Metamorfose dos Pássaros, de Catarina Vasconcelos.

No entanto, e surpreendentemente para um festival que tem apoiado regularmente a curta-metragem nacional, é a primeira vez em muitos anos que a competição oficial Berlinale Shorts, já anunciada, não apresenta nenhum título português a concurso.

Na paralela Forum Expanded, contudo, apresentar-se-á uma co-produção portuguesa, Last Things, da cineasta experimental americana Deborah Stratman, e dois filmes de cineastas com ligações estreitas a Portugal: A Árvore, da brasileira Ana Vaz, e Un GIF Larguísimo, do argentino Eduardo Williams. Uma outra co-produção portuguesa, Tomorrow Is a Long Time, do singapurano Jow Zhi Wei, estará na secção infanto-juvenil Generation.

No Forum, Cidade Rabat coexistirá com novos títulos da francesa Claire Simon (Notre Corps, um documentário sobre uma clínica ginecológica em Paris), do americano James Benning (Allensworth), ou do iraniano Mehran Tamadon (Where God Is Not), destacando-se ainda o documentário sobre a Guerra da Ucrânia In Ukraine, dirigido pelos polacos Piotr Pawlus e Tomasz Wolski.

A abertura oficial da Berlinale caberá a She Came to Me, o novo filme da realizadora americana Rebecca Miller (filha de Arthur Miller e esposa de Daniel Day-Lewis), com Peter Dinklage, Anne Hathaway e Marisa Tomei nos papéis principais. A cineasta mostrara já Maggie Tem um Plano (2015) e As Vidas Privadas de Pippa Lee (2009) em Berlim.

Embora não tenham sido ainda anunciadas as secções competitivas, a organização divulgou já vários títulos a exibir fora de concurso. Entre eles, o documentário que Mario Martone dedicou ao actor e realizador Massimo Troisi (o autor de O Carteiro de Pablo Neruda, falecido prematuramente aos 41 anos), Laggiù qualcuno mi ama; Infinity Pool, o novo filme de Brandon (filho de David) Cronenberg; Seneca, de Robert Schwentke (O Capitão), com John Malkovich no papel do filósofo estóico romano; e Golda, onde Helen Mirren interpreta a ex-primeiro-ministro israelita Golda Meir durante os dias da Guerra do Yom Kippur, em Outubro de 1973.

Anunciada igualmente foi uma retrospectiva especial do Forum sobre a cultura e o cinema negros, com a exibição, entre outros títulos, de A Rainha Diaba, de António Carlos da Fontoura, clássico de culto do cinema brasileiro dos anos 1970, restaurado pela CinemaScópio de Kleber Mendonça Filho, ou do documentário de 1982 I Heard It Through the Grapevine, viagem pelo Sul dos EUA conduzida pelo escritor James Baldwin. Na secção Berlinale Classics, apresentar-se-ão cópias restauradas de Opinião Pública, de Charles Chaplin, Sonhos de Ouro, de Nanni Moretti, O Festim Nu, de David Cronenberg, e Adivinha Quem Vem Jantar, de Stanley Kramer.

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